quinta-feira, 28 de junho de 2007

NÓS, OS EXCLUDENTES


"...Suponhamos que comecemos fazendo uma lista dos problemas do mundo de hoje que, em princípio, podem ser resolvidos com a moderna tecnologia.
Em princípio, temos a capacidade tecnológica para alimentar, abrigar, proteger, dar carinho, afeto, calor humano e vestir adequadamente todos os habitantes do mundo.
Em princípio, temos a capacidade tecnológica para proporcionar suficiente cuidado médico, assegurando uma saúde de alta qualidade para todos os habitantes do mundo.
Em princípio, temos a capacidade tecnológica, humana e pedagógica para oferecer suficiente educação a todos os habitantes do mundo para gozarem de uma vida intelectual e cultural madura.
Em princípio, temos a capacidade tecnológica de colocar fora da lei a guerra e instituir sanções sociais que evitarão o conflito ilegal e o derramamento de sangue de milhares de inocentes.
Em princípio, temos a capacidade de criar em todas as sociedades uma liberdade de opinião, pensamento e atitude que reduzirá ao mínimo os constrangimentos ilegítimos impostos pela sociedade ao indivíduo.
Em princípio, temos a capacidade de desenvolver inúmeras tecnologias que libertarão novas fontes de energia natural e poder para o pleno atendimento das emergências físicas, sociais, políticas, éticas, culturais, psicológicas e ecológicas em todo o mundo.
Em princípio, temos a capacidade de organizar as sociedades do mundo atual para realizarem planos de saúde, educação, liberdade humana, produção de alimentos, habitação, infra-estrutura desenvolvida a fim de resolver todos os problemas da pobreza, da miséria, fome, violência, mortalidade infantil, degradação da natureza, educação e o desenvolvimento de novos recursos necessários para assegurar uma boa qualidade de vida para todos os habitantes do mundo, indistintamente.
Claro, todos sabemos que o ser humano é capaz de fazer todas estas coisas. Por que então não as faz? Haverá um perverso traço de caráter que corre através da espécie humana e que torna um ser humano indiferente à condição do outro? Ou estamos essencialmente em face de um tipo de degradação moral que nos permite ignorar nosso vizinho em razão do nosso próprio interesse?
Existirá uma razão mais profunda e sutil pela qual, a despeito de nossa imensa capacidade tecnológica, não estamos ainda em condições de resolver os principais problemas do mundo? Se passarmos os olhos pela lista dos problemas, há um aspecto deles que logo se sobrepõe parcialmente. E claro que a solução de um problema tem muito haver com a solução de outro, que, por sua vez, tem muito haver com a solução de todos.
São tão interligados e imbricados de fato, que não é de modo algum claro por onde devemos começar. Suponhamos, por exemplo, que concebamos a idéia de que o primeiro problema a ser solucionado é o de alimentar, abrigar, assistir e vestir adequadamente todos os habitantes do mundo. Como começaríamos a resolver este problema? A capacidade tecnológica existe, a capacidade profissional, também. Podemos produzir todo o alimento necessário para se chegar a este resultado, os materiais de construção que ofereceriam o abrigo, os tecidos que vestiriam cada indivíduo e a assistência afetiva, moral e psicológica para cada um deles. Então, por que não fazemos isso?
A resposta é que não estamos organizados para fazê-lo.
Não fomos educados para fazê-lo.
A nossas exacerbadas competição e alienação política, a falta de amor e compaixão não nos deixa fazê-lo.
Enfim, não queremos fazê-lo.

(C. West. Churchman)

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