terça-feira, 13 de novembro de 2007

POR UMA PEDAGOGIA PARA O TERCEIRO MILÊNIO I


Ao longo das nossas publicações neste blog, traçamos aqui um rápido quadro conceitual sobre as questões éticas, políticas e filosóficas que norteiam a educação e as práticas escolares com processos e resultados positivos e negativos. Vamos agora discorrer sobre as novas propostas que vimos ajudando a adotar por meio do Projeto Pedagogia da Complexidade que temos implantado em algumas escolas nos últimos anos.
Em primeiro lugar é indispensável um certo olhar dialético sobre a educação, a escola e ações pedagógicas, colocando definitivamente por terra esta visão ingênua de que só existe o lado bom, o dos serviços prestados às sociedades do mundo desde tempos imemoriais.
Nada disso. Escola e educação prestam serviços e desserviços num tempo em que impõem regras e normas. Ditam espaços e obrigam a determinados comportamentos e posturas. Enquanto ensina um conhecimento historicamente acumulado e que pode ser algo muito bom para quem aprende, as escolas e seus métodos forçam todo um estigma psicossocial nocivo à construção de uma sociedade de iguais, melhor que a nossa, justa e fraterna, com o que, certamente, quase todos sonhamos.
Acontece, porém, que estes são os instrumentos invisíveis que garantem o funcionamento de uma sociedade em que poucos exploram muitos e tudo parece natural ao longo dos séculos. E, assim, são incutidos nos educadores por meio do processo de sua formação profissional e os inibe de, na maioria das vezes, enxergarem na prática esta dicotomia, este atraso que envolve historicamente o fazer educacional, chegando hoje a um limite insustentável.
A partir desta visão entendemos que a escola deve personalizar ao invés de massificar seus métodos e tratamentos. Daí a importância da pesquisa e do diagnóstico das verdades intrínsecas de cada pessoa para atender sonhos, desejos, dificuldades, facilidades e metas específicas. Cada pessoa, cada aluno é um ser em especial, um universo a parte e que deve ser considerado como tal. Caso contrário, estaremos prejudicando uns mais que outros e ajudando a manter as desigualdades e injustiças que se corporificam no mundo, constituindo o grande caos em que nos achamos imersos.
Ao mesmo tempo as escolas deveriam ensinar o que as pessoas precisam aprender para viver com mais qualidade, ao invés de instruí-las para que melhor se adeqüem à exploração que as consome. Assim, os currículos escolares, os conteúdos e programas de ensino deveriam ser constituídos de outros saberes, de como, por exemplo, resolver os próprios problemas, entender melhor a política, a economia, o funcionamento da máquina social, a tomar as decisões acertadas e oportunas.
O mesmo acontece com os métodos de fazer aprender. Estes devem respeitar diferenças, modos, ritmos, estilos, desejos. Uns aprendem melhor lendo, outros ouvindo, falando, sentindo, brincando, rindo. Outros ainda, de formas mais diferenciadas. As escolas, linearizando seus métodos e técnicas, mais uma vez avalizam as desigualdades sociais, ajudando a manter a crise endêmica na qual o planeta se mergulha, talvez, sem quaisquer esperanças de salvação.
Entremear a sala de aula com atividades diversificadas, com encontros sociais distintos, proporcionar ao aluno a vivência em realidades diferentes e iguais a sua. Dar chances ao exercício da solidariedade, da troca, do respeito, da multiplicidade cultural, da arte, do esporte, da produção, dos serviços e do humor que dignifica a vida. Avaliar durante o processo, promover quem ensina e quem aprende. Favorecer relações mais saudáveis, duradouras e a construção de uma realidade amena, bela e feita de seres humanos mais inteiros e sensíveis à própria condição da vida.
A nova comunidade escolar deve ser aberta, volátil, reflexiva. Todos decidem juntos. Os alunos se dirigem aos professores por seus primeiros nomes, tratando-se mutuamente por você e os encaram como amigos, como parceiros e não mais como figuras autoritárias, como algozes.
O novo currículo deve ser rico e sutil, flexibilizar os assuntos difíceis, numa perspectiva lúdica, atrativa e interessante. Proporcionar conhecimento além do convencional, integrar artes, humanidades e demais ações, elaborando alunos e professores seus próprios programas. Os alunos aprendem biologia cuidando de animais e botânica, plantando e cuidando de pomares, hortas e jardins. Eles discutem, participam, fracassam, têm êxito. Aprendem a acertar e a errar.
Os estudantes passam a conhecer seus próprios comportamentos. Concentração, relaxamento e fantasia são utilizados para que se mantenham abertos os caminhos intuitivos. Eles refletem sobre paradoxos, filosofias conflitantes e suas implicações com os complexos problemas do mundo.
Queremos colocar um fim na era da escola que se esconde atrás de subterfúgios funcionalistas e que acabam por arregimentar massas dóceis e ingênuas. Uma escola que trabalha à luz da indução burguesa e para a manutenção de um capitalismo perverso, mesquinho e em desuso, que tolhe a liberdade e a coragem de agir pela transformação requerida no nascente milênio de evolução da humanidade.
Precisamos da escola que flexibilize os horários, o uso do uniforme e que use a boa qualidade das aulas e atividades, o prazer, o lúdico, o desejo de estar e permanecer nela como instrumento de garantia de sua freqüência e do seu sucesso, independente das chamadas e de outras imposições. Uma escola que ame e respeite seus alunos e não que os transforme em vitimas indefesas. Que personalize suas ações, priorize o processo ao resultado e que apenas ensine o que tenha significado e importância. Que avalie permanentemente e ensine a todos a pensar, a sentir e a agir de forma harmônica e integrada, formando seres críticos, sensíveis e conscientes.
É preciso, finalmente, que a educação e a escola sejam canais da grande verdade que o “amai-vos uns aos outros” não é mais apenas uma mensagem bíblica. É a única saída.

Antonio da Costa Neto
Projeto Pedagogia da Complexidade
antoniocneto@terra.com.br

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