quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A INVENÇÃO DA CRISE






(É só o que ela quer ser...)

Era o fim da tarde. Estava num hotel-fazenda com meus netos e resolvemos ver jogos do PAN-2007. Liguei a televisão e "caí" num canal que exibia um incêndio de imensas proporções enquanto a voz de um locutor dizia: "o governo matou 200 pessoas!". Fiquei estarrecida e minha primeira reação foi típica de sul-americana dos anos 1960: "Meu Deus! É como o La Moneda e Allende! Lula deve estar cercado no Palácio do Planalto, há um golpe de Estado e já houve 200 mortes! Que vamos fazer?". Mas enquanto meu pensamento tomava essa direção, a imagem na tela mudou. Apareceu um locutor que bradava: "Mais um crime do apagão aéreo! O avião da TAM não tinha condições para pousar em Congonhas porque a pista não está pronta e porque não há espaço para manobra! Mais um crime do governo!". Só então compreendi que se tratava de um acidente aéreo e que o locutor responsabilizava o governo pelo acontecimento.Fiquei ainda mais perplexa: como o locutor sabia qual a causa do acidente, se esta só é conhecida depois da abertura da caixa preta do avião? Enquanto me fazia esta pergunta e angustiada desejava saber o que havia ocorrido, pensando no desespero dos passageiros e de suas famílias, o locutor, por algum motivo, mudou a locução: surgiram expressões como "parece que", "pode ser que", "quando se souber o que aconteceu". E eu me disse: mas se é assim, como ele pôde dizer, há alguns segundos, que o governo cometeu o crime de assassinar 200 pessoas?Mudei de canal. E a situação se repetia em todos os canais: primeiro, a afirmação peremptória de que se tratava de mais um episódio da crise do apagão aéreo; a seguir, que se tratava de mais uma calamidade produzida pelo governo Lula; em seguida, que não se sabia se a causa do acidente havia sido a pista molhada ou uma falha do avião. Pessoas eram entrevistadas para dizer (of course) o que sentiam. Autoridades de todo tipo eram trazidas à tela para explicar porque Lula era responsável pelo acidente. ETC.Mas de todo o aparato espetacular de exploração da tragédia e de absoluto silêncio sobre a empresa aérea, que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes entre 1996 e 2007 (incluindo o que matou o próprio dono da empresa!), o que me deixou paralisada foi o instante inicial do "noticiário", quando vi a primeira imagem e ouvi a primeira fala, isto é, a presença da guerra civil e do golpe de Estado. A desaparição da imagem do incêndio e a mudança das falas nos dias seguintes não alteraram minha primeira impressão: a grande mídia foi montando, primeiro, um cenário de guerra e, depois, de golpe de Estado. E, em certos casos, a atitude chega ao ridículo, estabelecendo relações entre o acidente da TAM, o governo Lula, Marx, Lênin e Stálin, mais o Muro de Berlim!!!
1) Que papel desempenhou a mídia brasileira - especialmente a televisão - na "crise aérea" ?Meu relato já lhe dá uma idéia do que penso. O que mais impressiona é a velocidade com que a mídia determinou as causas do acidente, apontou responsáveis e definiu soluções urgentes e drásticas!Mas acho que vale a pena lembrar o essencial: desde o governo FHC, há o projeto de privatizar a INFRAERO e o acidente da GOL, mais a atitude compreensível de auto-proteção assumida pelos controladores aéreos foi o estopim para iniciar uma campanha focalizando a incompetência governamental, de maneira a transformar numa verdade de fato e de direito a necessidade da privatização. É disso que se trata no plano dos interesses econômicos.No plano político, a invenção da crise aérea simplesmente é mais um episódio do fato da mídia e certos setores oposicionistas não admitirem a legitimidade da reeleição de Lula, vista como ofensa pessoal à competência técnica e política da auto-denominada elite brasileira. É bom a gente não esquecer de uma afirmação paradigmática da mídia e desses setores oposicionistas no dia seguinte às eleições: "o povo votou contra a opinião pública". Eu acho essa afirmação o mais perfeito auto-retrato da mídia brasileira!Do ponto de vista da operação midiática propriamente dita, é interessante observar que a mídia:
a) não dá às greves dos funcionários do INSS a mesma relevância que recebem as ações dos controladores aéreos, embora os efeitos sobre as vidas humanas sejam muito mais graves no primeiro caso do que no segundo. Mas pobre trabalhador nasceu para sofrer e morrer, não é? Já a classe média e a elite... bem, é diferente, não? A dedicação quase religiosa da mídia com os atrasos de aviões chega a ser comovente...b) noticiou o acidente da TAM dando explicações como se fossem favas contadas sobre as causas do acontecimento antes que qualquer informação segura pudesse ser transmitida à população. Primeiro, atribuiu o acidente à pista de Congonhas e à Infraero; depois aos excessos da malha aérea, responsabilizando a ANAC; em seguida, depois de haver deixado bem marcada a responsabilidade do governo, levantou suspeitas sobre o piloto (novato, desconhecia o AIRBUS, errou na velocidade de pouso, etc.); passou como gato sobre brasas acerca da responsabilidade da TAM; fez afirmações sobre a extensão da pista principal de Congonhas como insuficiente, deixando de lado, por exemplo, que a de Santos Dumont e Pampulha são menos extensas;c) estabeleceu ligações entre o acidente da GOL e o da TAM e de ambos com a posição dos controladores aéreos, da ANAC e da INFRAERO, levando a população a identificar fatos diferentes e sem ligação entre si, criando o sentimento de pânico, insegurança, cólera e indignação contra o governo Lula. Esses sentimentos foram aumentados com a foto de Marco Aurélio Garcia e a repetição descontextualizada de frases de Guido Mântega, Marta Suplicy e Lula;d) definiu uma cronologia para a crise aérea dando-lhe um começo no acidente da GOL, quando se sabe que há mais de 15 anos o setor aéreo vem tendo problemas variados; em suma, produziu uma cronologia que faz coincidir os problemas do setor e o governo Lula;e) vem deixando em silêncio a péssima atuação da TAM, que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes, desde 1996, três deles ocorridos em Congonhas e um deles em Paris - e não dá para dizer que as condições áreas da França são inadequadas! A supervisão dos aparelhos é feita em menos de 15 minutos; defeitos são considerados sem gravidade e a decolagem autorizada, resultando em retornos quase imediatos ao ponto de partida; os pilotos voam mais tempo do que o recomendado; a rotatividade da mão de obra é intensa; a carga excede o peso permitido (consta que o AIRBUS acidentado estava com excesso de combustível por haver enchido os tanques acima do recomendado porque o combustível é mais barato em Porto Alegre!); etc.f) não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que Congonhas, entre 1986 e 1994, só fazia ponte-aérea e, sem mais essa nem aquela, desde 1995 passou a fazer até operações internacionais. Por que será? Que aconteceu a partir de 1995?g) não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que, desde os anos 1980, a exploração imobiliária (ou o eterno poder das construtoras) verticalizou gigantesca e criminosamente Moema, Indianópolis, Campo Belo e Jabaquara. Quando Erundina foi prefeita, lembro-me da grande quantidade de edifícios projetados para esses bairros e cuja construção foi proibida ou embargada, mas que subiram aos céus sem problema a partir de 1993. Por que? Qual a responsabilidade da Prefeitura e da Câmara Municipal?
2) Como a sra. avalia a reação do Governo Lula à atuação da mídia nesse episódio ?Fraca e decepcionante, como no caso do mensalão. Demorou para se manifestar. Quando o fez, se colocou na defensiva.O que teria sido politicamente eficaz e adequado?Já na primeira hora, entrar em rede nacional de rádio e televisão e expor à população o ocorrido, as providências tomadas e a necessidade de aguardar informações seguras.Todos os dias, no chamado "horário nobre", entrar em rede nacional de rádio e televisão, expondo as ações do dia não só no tocante ao acidente, mas também com relação às questões aéreas nacionais, além de apresentar novos fatos e novas informações, desmentindo informações incorretas e alertando a população sobre isso.Mobilizar os parlamentares e o PT para uma ação nacional de informação, esclarecimento e refutação imediata de notícias incorretas.
3) Em "Leituras da Crise", a sra. discute a tentativa do impeachment do Presidente na chamada "crise do mensalão". Há sra. vê sinais de uma nova tentativa de impeachment ?Sim. Como eu disse acima, a mídia e setores da oposição política ainda estão inconformados com a reeleição de Lula e farão durante o segundo mandato o que fizeram durante o primeiro, isto é, a tentativa contínua de um golpe de Estado. Tentaram desestabilizar o governo usando como arma as ações da Polícia Federal e do Ministério Público e, depois, com o caso Renan (aliás, o governador Requião foi o único que teve a presença de espírito e a coragem política para indagar porque não houve uma CPI contra o presidente FHC, cuja história privada, durante a presidência, se assemelhou muito à de Renan Calheiros). Como nenhuma das duas tentativas funcionou, esperou-se que a "crise aérea" fizesse o serviço. Como isso não vai acontecer, vamos ver qual vai ser a próxima tentativa, pois isso vai ser assim durante quatro anos.
4) No fim de "Simulacro e Poder" a sra. diz: "... essa ideologia opera com a figura do especialista. Os meios de comunicação não só se alimentam dessa figura, mas não cessam de instituí-la como sujeito da comunicação ...Ideologicamente ... o poder da comunicação de massa não é igual ou semelhante ao da antiga ideologia burguesa, que realizava uma inculcação de valores e idéias. Dizendo-nos o que devemos pensar, sentir, falar e fazer, (a comunicação de massa) afirma que nada sabemos e seu poder se realiza como intimidação social e cultural... O que torna possível essa intimidação e a eficácia da operação dos especialistas ... é ... a presença cotidiana ... em todas as esferas da nossa existência ... essa capacidade é a competência suprema, a forma máxima de poder: o de criar realidade. Esse poder é ainda maior (igualando-se ao divino) quando, graças a instrumentos técnico-cientificos, essa realidade é virtual ou a virtualidade é real..." Qual a relação entre esse trecho de "Simulacro e Poder" e o que se passa hoje ?Antes de me referir à questão do virtual, gostaria de enfatizar a figura do especialista competente, isto é, daquele é supostamente portador de um saber que os demais não possuem e que lhe dá o direito e o poder de mandar, comandar, impor suas idéias e valores e dirigir as consciências e ações dos demais. Como vivemos na chamada "sociedade do conhecimento", isto é, uma sociedade na qual a ciência e a técnica se tornaram forças produtivas do capital e na qual a posse de conhecimentos ou de informações determina a quantidade e extensão de poder, o especialista tem um poder de intimidação social porque aparece como aquele que possui o conhecimento verdadeiro, enquanto os demais são ignorantes e incompetentes. Do ponto de vista da democracia, essa situação exige o trabalho incessante dos movimentos sociais e populares para afirmar sua competência social e política, reivindicar e defender direitos que assegurem sua validade como cidadãos e como seres humanos, que não podem ser invalidados pela ideologia da competência tecno-científica. E é essa suposta competência que aparece com toda força na produção do virtual.Em "Simulacro e poder" eu me refiro ao virtual produzido pelos novos meios tecnológicos de informação e comunicação, que substituem o espaço e o tempo reais - isto é, da percepção, da vivência individual e coletiva, da geografia e da história - por um espaço e um tempo reduzidos a um única dimensão; o espaço virtual só possui a dimensão do "aqui" (não há o distante e o próximo, o invisível, a diferença) e o tempo virtual só possui a dimensão do "agora" (não há o antes e o depois, o passado e o futuro, o escoamento e o fluxo temporais). Ora, as experiências de espaço e tempo são determinantes de noções como identidade e alteridade, subjetividade e objetividade, causalidade, necessidade, liberdade, finalidade, acaso, contingência, desejo, virtude, vício, etc. Isso significa que as categorias de que dispomos para pensar o mundo deixam de ser operantes quando passamos para o plano do virtual e este substitui a realidade por algo outro, ou uma "realidade" outra, produzida exclusivamente por meios tecnológicos. Como se trata da produção de uma "realidade", trata-se de um ato de criação, que outrora as religiões atribuíam ao divino e a filosofia atribuía à natureza. Os meios de informação e comunicação julgam ter tomado o lugar dos deuses e da natureza e por isso são onipotentes - ou melhor, acreditam-se onipotentes. Penso que a mídia absorve esse aspecto metafísico das novas tecnologias, o transforma em ideologia e se coloca a si mesma como poder criador de realidade: o mundo é o que está na tela da televisão, do computador ou do celular. A "crise aérea" a partir da encenação espetacularizada da tragédia do acidente do avião da TAM é um caso exemplar de criação de "realidade".Mas essa onipotência da mídia tem sido contestada socialmente, politicamente e artisticamente: o que se passa hoje no Iraque, a revolta dos jovens franceses de origem africana e oriental, o fracasso do golpe contra Chavez, na Venezuela, a "crise do mensalão" e a "crise aérea", no Brasil, um livro como "O apanhador de pipas" ou um filme como "Filhos da Esperança" são bons exemplos da contestação dessa onipotência midiática fundada na tecnologia do virtual.
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MARILENA CHAUÍ










quarta-feira, 29 de agosto de 2007

AS BESTAS DA BARRA E SUA "DIVERSÃO" SINISTRA





A sociedade deve um abraço apertado e um sincero pedido de desculpas a Sirley Dias.


Não gosto de futebol, mas entendo perfeitamente que milhões de pessoas achem muito divertido ir aos estádios ou sentar em frente à televisão para acompanhar jogos e campeonatos. Também detesto escalada, mas não é difícil imaginar por que tanta gente se diverte escalando; ou fazendo crochê, ou participando de maratonas, ou jogando sudoku, ou indo a bingos, ou se jogando em raves, ou curtindo tantas outras atividades que não chegam a se enquadrar no meu conceito de diversão. Mas, por mais esforço que faça, não consigo -- mas não consigo mesmo imaginar como alguém se diverte massacrando outro ser vivo.
Tenho pensado nisso desde que li que cinco criaturas, supostamente humanas, pararam o carro num ponto de ônibus para agredir uma mulher indefesa, a quem não conheciam e que não lhes tinha feito qualquer mal, apenas para se divertir; nem percebo o que há de tão engraçado na cena para que o inocente do grupo tente escapar à punição que merece alegando que chutar não chutou, apenas ficou de lado, confessadamente "rindo e debochando".
Pergunto: isso é uma reação normal? Ou eu é que vivo num outro mundo, e não estou acompanhando os novos tempos? É engraçado ver uma mulher, humilde ainda por cima, apanhando, desesperada, de quatro marmanjos?! É divertido chutar alguém? É bom causar sofrimento? Distrai? Relaxa? De onde vem o barato, dos gritos da vítima ou dos pés que deformam o rosto?
A impunidade, essa praga que sufoca o país, tem sua parte na história, mas não lhe muda a essência. Não é porque "não vai acontecer nada" que alguém tem prazer em espancar uma criatura mais fraca; é porque não guarda mais qualquer vestígio de bons sentimentos, qualquer sinal de compaixão, qualquer capacidade de se pôr no lugar do outro. A cadeia, num caso desses, serve para proteger a sociedade de indivíduos que, obviamente, não estão preparados para conviver com os demais; mas não os protege de si mesmos, ou do seu fracasso como seres humanos.
* * *
Deu no jornal: o padrasto de Felippe de Macedo Nery Neto declarou ao delegado que o enteado ganhara o carro usado pelo grupo dois dias antes.. Declarou também que ele sofre de déficit de atenção e hiperatividade, seja isso o que for, e que toma dois remédios de venda controlada, como se fosse alguma espécie de atenuante. Não é. Todos conhecemos pessoas que tomam medicamentos de venda controlada, e que nem por isso saem por aí atacando desconhecidos. Por outro lado, se a moléstia dessa besta é tão incapacitante, que se aplique punição também a quem a deixa solta e, ainda por cima, lhe põe um carro nas mãos.
Felippe, vale lembrar, foi o mancebo que declarou à polícia ter confundido Sirley com uma prostituta -- exatamente como Tomaz de Oliveira, Max Rogério Alves, Eron Chaves Oliveira e Antônio Novely Cardoso de Vilanova, que há dez anos atearam fogo ao índio Galdino e, em sua defesa, alegaram tê-lo confundido com um mendigo.
Aliás, quanto mais os pais dos agressores se manifestam, mais clara fica a origem do comportamento dos monstros que criaram.
No mesmo jornal que trazia o depoimento do padrasto de Felippe, Ludovico Ramalho, pai de Rubens Arruda, fazia um retrato falado da decomposição social do país:
- Queria dizer à sociedade que nós, pais, não temos culpa. Mas não é justo manter presas crianças que estão na faculdade, estão estudando, trabalham. Não concordo com a prisão na Polinter, ao lado de bandidos. Vão acabar com a vida deles. Peço ao juiz que dê uma chance aos nossos filhos.
Depois, explicou que Sirley estava cheia de hematomas por ser mulher, e "ficar roxa com apenas uma encostada". Suponho que ele tenha dado muitas encostadas em mulheres para falar com tal conhecimento de causa.
Sinceramente? Tenho pena dos bandidos da Polinter, que serão obrigados a conviver com essas "crianças", esses mauricinhos psicopatas que se consideram tão superiores.
* * *
O que aconteceu com Sirley não foi uma atrocidade ocasional.
Empregadas que têm a infelicidade de esperar condução no horário em que rubens e felippes voltam das noitadas são invariavelmente humilhadas por esses cretinos motorizados, que diminuem a velocidade das máquinas quando passam pelos pontos de ônibus:
-- Vai trabalhar, paraíba! -- gritam os inúteis. - Tem que ralar mesmo, mocréia!
Como em geral fica só por isso, elas engolem a mágoa e não dizem nada.. Quando dizem, revelam-se acostumadas, como se fosse possível a alguém acostumar-se à maldade e ao preconceito.
* * *
Quanto a eles, aposto que têm, todos, um futuro brilhante: a política os aguarda de braços abertos. No Congresso Nacional, há lugar de sobra para gente com os antecedentes de Rubens Arruda, Felippe de Macedo Nery Neto, Leonardo Andrade e Júlio Junqueira.
Guardem esses nomes!


Cora Rónai

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

COISAS DO MUNDO, MINHA NEGA...





Tudo ao mesmo tempo agora. A sensação de que as coisas passam muito rápido é cada vez mais real. A velocidade gera um bocado de ansiedade. Mas é possível tirar proveito destes tempos de correria

O Paulo César Farias é um sujeito pacato, sereno. Diferentemente do homônimo alagoano ­ aquele outro, o tesoureiro de Fernando Collor e protagonista de um dos maiores escândalos políticos do Brasil ­, este nosso Paulo César é Paulinho da Viola, um cara avesso a correrias. Seu negócio é cantar ­ quando solta sua voz doce, tem o dom de acalmar até os corações mais inquietos. "Me perdoe a pressa. É a alma dos nossos negócios", diz Sinal Fechado, um de seus clássicos. A canção é o hino dos desencontros, da vida movimentada, dos sinais fechados que nos forçam a parar ­ por, no máximo, três minutos. Da pressa que nos atordoa e nos obriga a fazer tudo rápido, para ontem. "O sinal... Eu procuro você...Vai abrir!!! Vai abrir!!!"
Quantas vezes você teve encontros parecidos com esse? E nem precisa ser no sinal ­ pode ser no elevador, no corredor, entre um café e outro. Não dá tempo de falar muito. Não dá tempo de telefonar para aquele amigo que faz aniversário. Não dá tempo nem de almoçar, às vezes. E assim vamos moldando a vida. Já que o tempo não pára, é preciso fazer muitas coisas e no mais breve espaço de tempo. Como ninguém consegue, lá vem a ansiedade. Até o pacato Paulinho, quem diria, já foi parar no hospital com arritmia cardíaca numa crise de ansiedade. "Eu estava sem dormir direito. Dormi só duas horas e acordei cedo porque tinha um compromisso. No final do dia, estranhei o fato de não estar cansado. Minha respiração começou a ficar meio ofegante, estava sentindo uma enorme ansiedade", contou, na época.
Quem faz tudo rápido pode até parecer mais eficiente e esperto. Mas não é. Agilidade em excesso traz danos para a saúde física, mental e social. Mas o que fazer com a vida que nos cobra cada vez mais atividades e o tempo que parece escapulir pelos dedos? É o que você vai descobrir a partir de agora.
Cada vez mais rápido
Parece que o Natal foi ontem e já estamos caminhando para o final de ano de novo. Essa frase, campeã das conversas vapt-vupt de elevador (ou de sinais fechados), existe desde que o mundo é mundo. A impressão de que o tempo voa persiste desde que o homem começou a pensar no sentido da vida. No início da era cristã, o filósofo Sêneca (7 a.C.-65 d.C.), na obra Sobre a Brevidade da Vida, dizia que "finalmente, constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela [a vida] já passou por nós sem que tivéssemos percebido". "Foge o irrecuperável tempo", dizia o poeta latino Virgílio (70-19 a.C.).
Sim, o tempo voa. A má notícia, caro leitor, é que tudo parece estar cada vez mais rápido mesmo. Há pouco mais de dez anos, a dupla de pesquisadores James Tien e James Burnes, do Instituto Politécnico Rensselaer (Nova York), provaram que percebemos hoje o tempo passar muito mais depressa do que no passado. Segundo eles, essa variação de percepção tem a ver principalmente com o crescimento das novas tecnologias, sobretudo com o chamado tempo real de transmissão de informações pela internet. "Isso quer dizer que cabem muito mais acontecimentos dentro do mesmo espaço de tempo, o que aumenta a sensação de velocidade", afirma Tereza Mendonça, psicanalista do Instituto de Estudos da Complexidade do Rio de Janeiro.
O lado bom é que é simplesmente sensacional ter acesso a informações com mais agilidade. Isso ajuda a impulsionar a vida ­ e toda essa tecnologia foi criada para nos ajudar. Só precisamos aprender a usá-la com inteligência e não como uma fonte de angústia. Caso contrário, nosso cérebro entra em curto-circuito. Imagine se na época de sua avó ela conseguia, no mesmo instante, saber de notícias online, falar com alguém pelo celular, acessar a agenda eletrônica, ver e-mails, responder chamadas no messenger... Mesmo podendo fazer tanta coisa ao mesmo tempo, é bom lembrar que o dia continua tendo 24 horas, a hora 60 minutos e assim por diante. Está certo que essa contagem foi criada pelo homem (a natureza não tem ponteiros de relógio, lembra?), mas, nesse quesito, nada mudou nos dias atuais. O que aconteceu é que acumulamos funções. O que fazer, então? A psicanalista Tereza Mendonça apropria- se de um conceito da biologia para dar uma idéia de como melhorar essa relação sem precisar fugir para o meio do mato. "Temos que colocar uma membrana seletiva imaginária entre nós e a vida. Já que muita coisa acontece ao mesmo tempo, o jeito é filtrar através dessa membrana, que, assim como uma membrana celular, só deixa passar aquilo que é bom para nós, o que nos favorece", diz. "Desse jeito fica possível saborear o tempo de forma criativa, como uma experiência, e não como algo que nos escapa. O tempo fica algo maleável, que pode se estender."
Precisamos aprender a usar esse filtro por basicamente duas razões: primeiro porque, na vontade irreprimível de conseguir fazer tudo rapidinho, o monstro da ansiedade vem para nos assombrar e causar os mais diversos incômodos. Segundo porque, definitivamente, não dá para fazer (direito) mais de uma coisa ao mesmo tempo. Nossa atenção pode, sim, ser dividida. Mas isso não quer dizer que sejamos capazes de nos aprofundar. Vamos ver, a partir daqui, de que forma cada uma dessas razões mexem na nossa vida cotidiana.
A ansiedade
Para começo de conversa, ansiedade não é nada ruim. Não é doença, mas um estado emocional absolutamente normal do ser humano, assim como felicidade, paixão, dor, raiva. Precisamos de certa dose de ansiedade, inclusive, para nos mantermos vivos. Esse sentimento está ligado ao nosso instinto de proteção e sempre é ativado em nosso organismo quando nos vemos em uma situação de perigo. É um instrumento de alerta e reação. Ou seja: uma pequena dose de ansiedade antes de uma prova, de uma competição ou até de uma entrevista de emprego pode fazer bem.
O problema é o exagero. Tanto que, atualmente, pelo menos 25% da população mundial já foi acometida por algum tipo de transtorno ansioso na vida. Transtorno quer dizer síndrome do pânico, as mais variadas fobias e outros males que imobilizam a vida da pessoa. Crises pontuais ­ como uma taquicardia porque o trânsito não anda e você precisa chegar logo ­ nunca foram contabilizadas oficialmente, mas dá para imaginar o resultado. Uma pesquisa feita em 2005 com 820 pessoas de Porto Alegre e São Paulo pela Isma-Brasil (International Stress Management Association) mostrou que 83% dos participantes afirmaram ter problemas de ansiedade.
Mas o que acontece com um ansioso? Ele sofre ­ e sofre muito. "Ninguém morre de ansiedade. Mas pode padecer de sensações horríveis, tais como tremores, suador, opressão e dor no peito, boca seca, palpitações, tonturas, entre outros sintomas muito incômodos que podem levar a pessoa ao hospital, como aconteceu com Paulinho da Viola", afirma Tito Paes de Barros, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, autor do livro Sem Medo de Ter Medo. A ansiedade vem porque queremos chegar logo no futuro, rápido, saber o que vai acontecer daqui a pouco. "É como querer adiar a vida o tempo inteiro. Fazemos mil coisas para aproveitar o tempo e preparar o terreno para o futuro, um futuro que não chega nunca", afirma Andrea Vianna, psicóloga do Amban (Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas de São Paulo).
E tem mais: de que adianta viver correndo em função do futuro, sem aproveitar o presente, se ninguém sabe a hora da morte? Pois essa idéia de falta de controle é outro fator que acarreta ainda mais e mais ansiedade. Segundo Andrea, nessas horas de crise ansiosa, um bom exercício é parar um minuto e prestar atenção na respiração. Se ela estiver curta demais e centrada apenas no tórax, procure respirar pelo abdomen, puxando e soltando o ar em três tempos, como se tivesse uma bexiga cheia e vazia na sua barriga. É um primeiro passo para retomar o controle do próprio corpo.
Vida aos pedaços
A segunda conseqüência preocupante da ansiedade é que, ao fazer tudo rápido, não dá tempo de nos aprofundarmos em nada. Só escancaramos ainda mais nossa sensação de urgência. Fica tudo na superfície, como se provássemos as coisas (e pessoas) aos pedacinhos. Já existe até um termo para isso: snack culture, ou "cultura aos pedaços", em inglês. Cunhado pela revista americana Wired, o termo diz que vivemos uma época de entretenimento instantâneo, com produtos culturais feitos para serem consumidos rapidamente para que outros sejam logo produzidos. Não é à toa que já existem filmes de um minuto, livros para ler no intervalo da novela e sites com apenas trechos de músicas. Tanta superficialidade não deixa tempo para reflexão sobre o que se consome ­ o lado bom da história é que nunca houve tanto acesso à cultura como atualmente.
O problema é que a febre snack não atinge só a cultura, mas a vida como um todo ­ inclusive a vida afetiva. O sociólogo polonês Zygmunt Baumann chama esse fenômeno de fluidez da existência contemporânea. "A vida numa sociedade líquido-moderna não pode ficar parada. Deve modernizarse ou então perece. É preciso correr. Ligar-se ligeiramente é uma ordem. Não importa o que aconteça, propriedade, situações e pessoas continuarão deslizando e desaparecendo numa velocidade surpreendente", afirma em seu mais recente livro, Vida Líquida.
É só pensar um pouco para reparar no quanto nossa cultura associa viver mais depressa com felicidade e inteligência. Um sujeito rápido é logo identificado como inteligente ­ o lento já é taxado de burro. Isso é uma tremenda balela, mas é assim que temos enxergado o mundo. Prova disso é a pergunta de Albert Einsten a um aluno: "Por favor, você pode explicar este problema devagar porque não entendo as coisas depressa?"
Se você chegou até aqui nesta reportagem é porque dedicou um tempinho do seu dia para uma reflexão. Então responda: que diferença faz a velocidade com que você responde a uma pergunta, desde que a resposta seja correta? A não ser que esteja se preparando para uma profissão como salva-vidas ou motorista de ambulância, você acha mesmo importante dar valor a essa mesma velocidade que causa ansiedade e superficialidade? "Forçar o vinho a envelhecer depressa, as árvores a crescerem rápido, apressar um chute na bola, forçar o amor a vir mais cedo, o amanhã a chegar hoje. Gostamos de andar rápido e vencer a corrida. O problema é que perdemos a grande vitória da desaceleração a ser conquistada", diz o psiquiatra americano Edward M. Hallowell. Se a idéia é aproveitar o tempo, sossegue. Você vai viver mais do que seus avós ­ a expectativa de vida do brasileiro cresceu mais de 8 anos nos últimos 23 anos. Se o homem vive mais tempo, o tempo não precisa lhe faltar. Como diz Paulinho da Viola, "coisas do mundo, minha nega".
Para saber mais
Livros:o Sem Medo de Ter Medo, Tito Paes de Barros Neto, Casa do Psicólogoo Sem Tempo Pra Nada, Edward M. Hallowell, Nova Fronteirao Vida Líquida, Zygmunt Baumann, Zahar.




Por: Mariana Sgarione
setembro de 2007


sábado, 25 de agosto de 2007

MULHERES & ADMINISTRAÇÃO



De manhã cedo
essa senhora se conforma
bota a mesa, tira o pó,
lava a roupa seca os olhos
Ah! Como essa santa
não se esquece de pedir
pelas mulheres, pelos filhos, pelo pão
Depois sorri meio sem-graça
e abraça aquele homem,
aquele mundo
que a faz assim feliz
De tardezinha
essa menina se namora,
se enfeita, se decora,
sabe tudo, não faz mal
Ah! Como essa coisa é tão bonita
ser cantora, ser artista
isso tudo é muito bom
E chora tanto de prazer e de agonia
DE ALGUM DIA, QUALQUER DIA ENTENDER DE SER FELIZ
De madrugada
essa mulher faz tanto estrago,
tira a roupa, faz a cama,
vira a mesa, seca o bar
Ah! Como essa louca se esquece
quantos homens enlouquece
nessa boca, nesse chão
Depois parece que acha graça
e agradece ao destino aquilo tudo
que a faz tão infeliz
Essa menina, essa mulher, essa senhora
em quem esbarro a toda hora
num espelho casual
é feita de sombra e tanta luz
de tanta lama e tanta cruz
que acha tudo natural


(Essa mulher. Canção de Joyce e Ana Terra.
Lindamente gravada por Elis Regina)




MULHERES & ADMINISTRAÇÃO:
BABADOS E RENDAS CONSTRUINDO UM MUNDO MELHOR

Antonio da Costa Neto (*)

“... Mas ela ao mesmo tempo diz
que tudo vai mudar...
Pois ela vai ser o que quis
inventando um lugar
Onde a gente e a natureza feliz
Vivam sempre em comunhão
e a tigresa possa mais do que o leão..."

(Caetano Veloso)

Resumo:

O texto trata do papel e da grande importância das mulheres e dos valores femininos na nova administração. Reflete sobre os desafios inerentes à superação das inúmeras crises da produção, da produtividade e da economia. Propõe soluções para uma ação administrativa mais feminina, voltada para a melhoria da qualidade de vida, em termos sustentáveis, abertos, belos; solidários e flexíveis conforme as exigências da economia globalizada do terceiro milênio.
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Todo um conjunto das novas exigências passa a se fazer presente com o advento do terceiro milênio. Assim, a mudança dos paradigmas que norteiam tanto as ciências, como as práticas sociais e os padrões de vida em sociedade requerem posições diferenciadas profundamente; algumas vezes, até revolucionárias. A imensa série de crises porque passa o planeta terra, neste marcante início de século e de milênio já é, por si, um forte sintoma desta necessidade de transformações em todos os âmbitos e segmentos. O que envolve o viver; o produzir; o conviver; o festejar; o desfrutar e até o morrer. Tudo anda inseparavelmente ligado, suplicando por novas fontes do fazer e do gerenciar; onde a mulher passa a ser um personagem da mais absoluta importância e a função por ela exercida, muito mais que indispensável.
Não só a função da mulher, mas também o seu valor e o efetivo reconhecimento; enquanto detentora do poder de equalizar as transformações tão necessárias para que o mundo seja belo, agradável, melhor, as dimensões sustentáveis e a vida prazerosa em todos os sentidos. O que, em síntese é o objetivo de estarmos vivos e em perene desafio.
Até aqui, o paradigma de predomínio do branco, do macho e do capital tem dado às ciências e suas práticas, um caráter absolutamente sexista e com uma tendência masculinizada; capitalista, a serviço exclusivo dos interesses do capital. É o fruto do superado modelo cartesiano de pensar; de ver; de crer, de fazer as coisas, enfim, de administrá-las, concretizando assim as suas grandes metas.
Daí, o resultado de um mundo violento; da degradação da natureza; o já preocupante fim da água, da fauna, da flora, enfim, dos recursos naturais e de uma qualidade de vida em termos no mínimo aceitáveis. A sociedade moderna, apesar de tudo, continua sendo demasiado machista. A ideologia do “falo” ainda constitui um dos atrasos mais gritantes que assola as várias dimensões da vida. Se a mulher é desvalorizada, colocada no segundo plano; como um cidadão de menor grandeza, é evidente que os valores éticos, estéticos, humanos e afetivos que são mais vinculados à natureza feminina, ficam, da mesma forma; secundarizados, em relação à força, à produtividade, à técnica fria; a produção e o lucro.
Estes são, na verdade, padrões masculinos; auto-afirmativos; voltados para resultados mensuráveis e objetivos; que desencadeiam as realizações inerentes aos interesses de um capitalismo perverso; profundamente atrasado e centralizador. Congregando, a um só tempo, ganhos enormes, como também, desgastes e conflitos insustentáveis. Tendo por conseqüências, a fome, a miséria, a opressão, a violência e toda uma realidade que tem feito decair, em níveis assustadores, não só a qualidade de vida humana em sociedade, como também as suas perspectivas futuras.
Fritjof Capra (1 980), faz uma reflexão muito profunda quando relata que é evidente que o comportamento agressivo, competitivo, se fosse absolutamente o único, tornaria a vida impossível. Mesmo os indivíduos mais ambiciosos, mais orientados para a realização de determinadas metas, necessitam de apoio compreensivo, de contato humano; de momentos de espontaneidade e descontração; amor, carinho e afeto.
Em nossa cultura, espera-se, e, com freqüência, força-se a mulher a satisfazer essas necessidades. Assim, secretárias, recepcionistas, aeromoças, enfermeiras, donas-de-casa; executam as tarefas que tornam a vida mais confortável e criam a atmosfera para que os competidores possam triunfar. Elas alegram seus patrões e fazem cafezinhos para eles; ajudam a apaziguar os conflitos nos escritórios; são as primeiras a receber os visitantes e a entretê-los com conversas amenas. Nos consultórios médicos e hospitais, são as mulheres que estabelecem os primeiros contatos com os pacientes que iniciam o processo de cura.
Nos departamentos de física, as mulheres fazem chá e servem bolinhos, em torno dos quais os homens discutem suas teorias. Todos estes serviços envolvem as atividades integrativas, humanísticas e processuais, e, como têm um status inferior em nosso sistema de valores, ao das atividades auto-afirmativas, lucrativas, técnicas e de resultados; quem as desempenha recebe salários e condições de trabalho menores. Na verdade, muitas destas mulheres nem sequer são pagas, como as donas-de-casa e as mães.
Ao meu ver, esta citação reflete o preconceito machista contra a figura da mulher. Que, muitas vezes, ela própria tenta mascarar e ignorar subjugando-se ao poder do homem; ao poder do macho. Isto é profundamente triste e devastador do ponto de vista da necessária evolução da humanidade frente aos rigores do mundo e os desgastes a que vêm sido submetidas as pessoas. Pela sordidez de uma onda tecnológica fria sem a inclusão da ética; de uma economia iníqua e de uma singular inversão de valores que se mantém intocável ao longo dos séculos e, diria eu, até dos milênios da existência histórica do ser humano mundo (Costa Neto, 2 003).
Creio que há muito já tenha chegado a hora da mulher assumir o seu papel e o seu poder no gerenciamento das instituições; das empresas, do governo, do terceiro setor. Mas fazê-lo por uma abordagem própria. Agregando doçura; beleza cooperação, a criatividade, a estética, a solidariedade, a poesia. Enfim, trabalhando com a emoção e o sentimento femininos - e não se tornando os verdadeiros “machos de saias”- como a vasta maioria das mulheres que assume o poder sobre os demais, conforme lembra-nos Muraro (1 991), para que assim, as tecnologias se abrandam, se tornem mais doces, os valores humanos aflorem acima dos do capital e do estigma do “ter” sobre o “ ser” a todo o custo.
Ou seja, o papel da mulher, sendo definitivo para que possamos usufruir novas conjunturas e não, apenas de estruturas de superfície, que se diferenciam apenas pragmaticamente, mantendo a essência das coisas e dos fatos; dentro dos estereótipos de uma ideologia há muito ultrapassada e perpetuadora de um caos insustentável em todas as dimensões e sistemas do chamado mundo contemporâneo.
Nos campos da administração, da política, da economia, das ciências da tecnologia e da comunicação, geralmente estrelada pelos machos “intelectualmente brilhantes” e também na área da ação social, da educação, das artes e muitas outras, temos a presença marcante e histórica de várias mulheres corajosas, ousadas e guerreiras que têm conseguido apresentar diferenciais respeitáveis como os de Hazel Handerson com suas avassaladoras idéias na política e na economia; Marilyn Ferguson, na constituição de verdadeiras redes humanas mundiais para a reorganização do planeta, e, ainda: Clotilde Tavares; Ir. Dulce; Evita Perón; Maria Bonita; Chiquinha Gonzaga; Anna Nery; Mãe Menininha do Gantois; Maria da Conceição Tavares; Frida Kalo; Nélida Pinõn; Ana Miranda; Hilda Hirst; Anaid Beiris; Lota Macedo Soares; Cecília Meireles; Salomé dos Doces; Leila Diniz; Elizabeth Bishop; Florbela Spanca; Patrícia Galvão; Virgínia Vitorino; Olga Benário; Margarida Maria Alves; Nízia Floresta; Violeta Parra; Nilze da Silveira; Heloisa Helena; Rose Marie Muraro; Marilena Chauí; Indira Gandhi; Benazir Butho; Golda Mehir; Madre Teresa de Calcutá; Dulcina de Moraes; Simone de Bonvoir; Elis Regina; Marina Silva; Renée Weber; Oprah Winfrey; Anita Garibaldi e muitas outras.
Elas têm contribuído enormemente para este novo enfoque que traz o potencial da verdadeira e nova essência, além das meras aparências das formas meramente organizadas. Mas, ao contrário, advogam a real implementação de novos valores que integrem a solidariedade humana, a empatia, o respeito à alteridade, a “feminilização” consciente e eficiente das ciências e suas práticas .E não mais aquelas voltadas para a manutenção dos interesses da parte da humanidade que detém o poder e a riqueza. Mas construindo uma ciência viva e vívida que sirva a todos. Que agregue melhorias concretas num sentido mais pleno e profundo possível.
Em sua clássica obra A conspiração aquariana: transformações pessoais e institucionais nos anos 80, a já citada autora, pesquisadora e jornalista Marilyn Ferguson nos relata com singular sabedoria que as mulheres sustentam a metade do céu.
Elas representam a maior força única para a renovação política em uma civilização completamente desequilibrada como a nossa. Assim, como os indivíduos são enriquecidos pelo desenvolvimento de ambos os lados do eu: o masculino e o feminino; a sociedade como um todo está se beneficiando amplamente com a mudança do significativo poder entre ambos os gêneros.
Ferguson continua: o poder da mulher é o barril de pólvora de nossos dias. À medida que ela aumenta sua influência na administração, na economia; no governo e em outras áreas de grande importância, sua perspectiva ultrapassará os limites do velho paradigma. As mulheres são mais flexíveis e mais voláteis que os homens, têm consentimento cultural para serem mais intuitivas, sensíveis e sentimentais, mais voltadas para o sentido da proteção e da conservação em seu aspecto mais fluido.
As mulheres mudam as regras do processo de decisão ao administrarem, são muito mais capazes de “esticar as negociações”. Ao invés de exigirem “a fatia do bolo” que os homens produziram com seus instrumentos negligentes e voltados para ganhar a qualquer custo, elas apresentam “uma nova receita”, mais integrativa, mutável e com lacunas a serem preenchidas pelos consumidores deste “novo bolo”. Igualmente, elas facilitam a pluralidade de idéias e a construção coletiva de regras, normas e valores. Também como mães, elas procuram ‘nichos’ de proteção para “seus filhotes”, e, assim, vão conduzindo o mundo para uma perene sustentabilidade, gerando processos de uma vida melhor e mais intensa em todos os sentidos em todos os momentos.
As mulheres possuem um poder mais integrador e tendem a acabar com o fenômeno da estreita definição de papéis e funções entre os gêneros humanos. Hoje em dia, até mesmo, nas lides domésticas, muito por força da coerção feminina, boa parte dos homens enfrenta o tanque, o fogão, cuida das crianças e da casa, da decoração, da limpeza, gerando mais harmonia, prazer e vigor na vida em família. Assim, numa similaridade antropológica dos fenômenos, o mesmo se dá nas outras instâncias onde as mulheres podem exercer alguma forma de poder nas decisões. É a nova dimensão do ‘ecofeminismo’; um fenômeno mundial que deixa claro o grande salto evolutivo das mulheres - diferenciado da evolução dos homens - que especialmente, a partir dos meados da década de sessenta vem ocorrendo em todo o mundo (Capra, 2 003).
Já há muito, somos sabedores de grupos de mulheres; associações femininas profissionais, de exigência de direitos de igualdade entre os gêneros, de exercício autônomo da vida sexual; espiritual e artística; independência, sagacidade; autonomia; dentre outras. O que passa pela exigência de novas e profundas éticas de organização, canalizando uma excepcional qualidade de gerenciamento. Com base na técnica associada à intuição, à malícia, à percepção aguçada de fatos e fenômenos que passariam despercebidos para a grande maioria dos homens.
Tavares (l 986) defende a idéia da significativa capacidade da mulher para simplificar estruturas burocráticas, rotinas, fluxos; planejamento, pois estão menos preocupadas com o poder pelo poder, pura e simplesmente. Elas são mais autênticas, mais verdadeiras, e, portanto, mais sensíveis, eficientes e criativas neste sentido.
Anseiam muito mais pela funcionalidade legítima, pela dinamicidade das respostas e pela efetividade da ação gerenciada, seja, de produtos ou de serviços. Algumas mulheres precisam se libertar dos estereótipos do modelo masculino de liderança, que é apenas manipulador do poder. Criando muletas eternas que ainda prejudicam boa parte daquelas que não se autorizam a ousar, a serem independentes, a implementarem os próprios valores. Este problema ainda existe, é claro, mas estamos muito mais perto de sua solução, diferente do caso da grande maioria dos homens que ainda caminha no sentido inverso; buscando valores antagônicos, fruto da cegueira conceitual e da crise de percepção das formas masculinizadas de gerir processos de gestão nos vários segmentos em que tais aspectos possam ser compreendidos e implementados.
A ascensão da mulher para assumir a administração é considerada como uma inefável fonte de esperança para o mundo que caminha para o desastre, mas ainda não é demasiadamente tarde para descobrirmos a força do amor, da sensibilidade, da cooperação e da beleza, para que o mundo seja melhor e mais feliz, no que as mulheres têm uma missão da mais alta importância. Mais coração do que razão; mais babados e rendas do que fardas e espadas. Mais sorrisos abertos e formas de carinho do que ordens impostas, dedos em riste, determinações rígidas, concentração de poder.
O que precisamos é de nos deliciar, comungando com a natureza e não de lutarmos cegamente contra ela, destruindo-a, em função da ganância e da desenfreada competição; do enriquecimento material indefinido; frutos de um modelo absolutamente ultrapassado de administração; uma espécie de “Clube do Bolinha”; onde a mulher não entra e não tem o poder de nada definir ou alterar. Ficando igualmente do lado de fora, a fina inteligência; a sensibilidade; a sagacidade crítica; a sábia intuição feminina, a beleza, a poesia, a arte, agregadoras de amor, comunhão e bondade, eficiência, sutileza; um terceiro caminho de humanização da técnica e do controle organizacional, com vistas à sustentabilidade da administração, do planejamento, dos processos de gestão. Para que a vida seja preservada com dignidade, alegria e bem-estar; esta sim, a grande meta da boa organicidade, de uma administração que possa ser, de fato, reconhecida por mérito; respeitada, aplaudida e merecedora desta denominação.
Administrar bem é ser um excepcional artista. É enfrentar o palco sem medo do foco, da ousadia, da criação; da sagacidade exigente da platéia; dos novos valores e da possibilidade de segmentos para uma outra história. Onde a organização, segundo Costa Neto(2 004), o planejamento, o poder, a empresa, a economia; a política; enfim, a administração tenham uma dignidade diferente e prestem um outro serviço: pela crença, pelos valores, pela vida, e, por fim, para que a humanidade possa ter paz, ar respirável e alegria de viver em seu sentido pleno, com um equilíbrio saudável em todas as dimensões.
George Stratton (l 976) descreveu a superioridade do cérebro feminino em relação ao masculino na percepção do todo; a esperança, a criatividade que salvariam o mundo quando as mulheres tomassem o lugar que realmente lhes cabe, contribuindo na condução do destino da vida na terra. Segundo o autor, o gênero masculino necessita do âmago feminino para administrar com eficiência e eficácia. As mulheres são mais capazes de exercer a liderança com a necessária empatia, integração e reconciliação, uma capacidade de espera, uma excelente proposta para o futuro, frente às tendências que ora desencadeiam como frutos da chamada nova ordem mundial.
De uma maneira mais ampla, as mulheres são mais propensas a um maior desenvolvimento do hemisfério direito do cérebro, que em harmonia com o hemisfério esquerdo, de fundo lógico, tornam-se mais sensíveis, abertas, críticas e perceptivas. Conduzindo a intuição de uma forma mais inteligente e produtiva. O problema reside na concepção “sexista” da maioria dos homens, e também de muitas mulheres que tendem a menosprezar as decisões e as opiniões femininas; por razões muito mais de vaidade, cultura machista e uma ideologia recessiva; fruto de um histórico patriarcal que comanda nossos valores e formas de enxergar a vida e seus dilemas. É apenas uma questão de percepções rasas, e não, de superioridades ou inferioridades de seres ou gêneros (Oliveira, 2 002).
De Gregori (2 000) segue a mesma linha de raciocínio divulgando a concepção cultural da família e da escola que querem, a qualquer custo, “construir mulheres” dependentes e inseguras, para que sirvam aos interesses de seus “pretensos donos e senhores”- numa brutal coisificação e mercantilização da mulher - e sem questionar, ou fazer valer suas vontades e seus direitos. Submetendo-se, sem que, pelo menos o saibam à condição de “mulher-objeto”, uma ótica muito criticada pelos movimentos feministas e pelas organizações mais sensíveis das décadas de sessenta; setenta e até meados dos anos oitenta; inclusive, como a queima pública de “soutiens”, em manifestações de protestos revolucionários das mulheres, muito difundidos pela mídia internacional.
Porque toda mudança política que diz respeito à mulher ao seu poder; ou ao seu prazer envolve tantas polêmicas? Como, por exemplo, o uso dos anticonceptivos e da camisinha feminina; a causa do aborto? A liberdade de expressão, do direito de votar e ser votada; o tabu da virgindade; da igualdade de direitos e condições de trabalho; salários e muitas outras?
A educação da mulher nas nossas sociedades é feita a partir do estereótipo da submissão, da ingenuidade e da subserviência, com o que fica muito mais fácil para a maioria ambiciosa dos homens galgar espaços; conquistar e gozar, sozinhos, dos méritos advindos destas mesmas cobiças. Embora estas possam ser conseguidas das formas mais injustas, escusas e até simbólica ou concretamente criminosas (Costa Neto, 2 003).
Nas escolas de ensino infantil e fundamental, onde se articula o alicerce da formação intelectual e personalísticas, por estratégia, quase sempre, só existem mulheres trabalhando. Para que, por formas instintivas, embora inconscientes, “os machinhos” se encantem; gostem mais da escola; tenham mais prazer em estudar e sejam, é claro, mais bem avaliados e com méritos melhor reconhecidos que as meninas; pela “intencional ingenuidade freudiana das professoras”. E, por uma manobra draconiana de já colocar as mulheres num segundo plano: como “burrinhas”, preguiçosas, indolentes. É, na verdade, um plano frio e abusivo, contra a qual todos nós, homens e mulheres; precisamos lutar cegamente, se quisermos, de fato, conquistarmos melhores dias para todos..
As técnicas masculinizadas e o modelo cartesiano de organização estão absolutamente superados e falidos. Necessitam; portanto; de propostas arraigadas e novas que agreguem comunhão, amor, bondade e solidariedade humana principalmente em relação aos que mais precisam, aos que sofrem, para o quê, a mulher possui muito maior competência e sensibilidade. Favorecendo, de fato, à grande massa dos oprimidos, marginalizados e esquecidos que passam fome e morrem nas esquinas, debaixo dos viadutos e nas filas dos hospitais públicos horrendamente desumanos. Administrar com a verdadeira sensibilidade, visão crítica e compromisso político, o que, culturalmente é mais fácil para a mulher, talvez seja a grande sabedoria que transcenderá aos sofrimentos do mundo, buscando a evolutiva superação do caos (Henderson, l 998).
Estamos todos construindo em conjunto uma “nova linguagem” de qualidade de vida, o que, por certo, envolve novos valores, crenças e ações, para além dos reduzidos papéis masculinos de verdadeiras polícias do pensamento; de redutores da liberdade, da criatividade, da autonomia. Induzindo, portanto, ao medo de um novo poder de criar e sistematizar soluções viáveis e que dêem respostas no mínimo satisfatórias. No fim, tudo se reduz ao tremendo temor e insegurança que o homem, na verdade, tem, de que a mulher se utilize do seu infinito poder de persuadir, de liderar, com sagacidade e criatividade; alcançando, de fato, o que lhe é culturalmente negado durante toda a história das civilizações: o justo direito de ser ela mesma, com direitos, liberdades e prazeres iguais.
É certo que as velhas estruturas geram um tremendo progresso material e tecnológico, como também, criam problemas até muito maiores. Pois tudo é realizado com uma visão bastante fragmentária; em que não se harmonizam causas e efeitos. A abordagem masculina de gestão para o progresso material e o lucro ilimitado a qualquer custo, produz muito e destrói mais ainda, com suas ações maquiavélicas e egoístas. Longe de concepções e equipes com grupos igualitários e pacíficos, o que requer a profunda liderança feminina, para que a história da evolução das organizações mude este relato de tendências incoerentes e, diríamos, até mentiroso em alto grau.
Faz-se necessário, utilizar a crescente virtuosidade da tecnologia, colocando-a mais a serviço da vida e da felicidade humana; evitando os tão comuns cenários de aniquilação em volta de todo o mundo civilizado, as ameaças lentas e insidiosas de um capitalismo perverso e profundamente opressor, que apenas será combatido pela tenaz inteligência feminina, caso ela seja muito bem aproveitada, de forma assertiva e oportuna.
É preciso, em nossas administrações contemporâneas, colocar um ponto final nos conflitos civis e étnicos, geradores de todos os tipos de violência nas ruas, nos campos, nos estaleiros de nossas indústrias, nos ambientes de trabalho e produção, nas cidades e nas famílias. Necessário se faz que se integrem igualitariamente os gêneros humanos numa ação prática de equilíbrio, sem os mecanismos enganadores. Mas gerando participação, autonomia e poder de decisões em todos os níveis, para mulheres e homens. Não, em contrapartida de competição, mas integrando valores, vontades, ideologias e competências reais e os sonhos de todos.
O paradigma violento da competição-conflito, dominação-submissão; perdas e ganhos, precisa ser rapidamente substituído por concepções e princípios que envolvam novas abordagens e avanços revolucionários que não sairão jamais dos vazios baús das idéias masculinas, mas buscando os sinais de transformação pelas delicadas mãos das mulheres. Conjugando razão e coração com lides mais amorosas, não abandonando, é claro, a técnica; a produtividade; a provisão de lucros eqüitativos e que garantam a sobrevivência calma, lúcida e confortável para todos. Afinal, não estamos falando de filantropias gratuitas, mas de administrações eficientes num mundo gerido pelo poder inquestionável do capital.
É chegado tempo do fim da vitória do capitalismo opressor, dos mercados competitivos e das crescentes crises advindas do eterno “caso de amor” com a moderna tecnologia e seus perversos impactos sobre a vida, a paz, a harmonia; o meio-ambiente.
As mulheres, por certo, não mais se utilizarão desta “poção nociva” da evolução tecnológica, da exploração comercial dos povos do planeta e dos seus recursos naturais renováveis ou não. Mas, sem dúvida, farão uma administração calcada em recursos e potenciais humanos regulamentadores de nossas sociedades, de nós mesmos, e, de nossas vidas presentes e futuras. Resguardando, inclusive as novas gerações de toda esta sorte de sofrimentos e agruras advindas deste tipo absurdo de irresponsabilidade social; uma espécie de crime coletivo, invisível, que vem sendo lentamente cometido contra a humanidade inteira, há milênios.
A busca de formas mais cooperativas, flexíveis, amenas, doces, belas e mais justas de desenvolvimento virá da opção feminina ao decidir com critérios inovadores próprios e com benéficos a toda a sociedade civil emergente. Promovendo a organização de um tempo nosso, único e autêntico, calcada na diversidade de todas as espécies vivas, como verdadeiras fontes de riquezas em favor da vida e seus encantos, é do que nos fala Costa Neto(l 986).
Uma administração para a plena sustentabilidade dos meios integrais de vida, no exato sentido e força da expressão, deverá criar novas sociedades, outras formas de empreendimentos, de instituições e parcerias onde todos ganhem, colocando fim nas organizações com o foco único no dinheiro e no lucro, na maioria das vezes, abusivo, como um “cassino global”, mas com novos indicadores da economia e do progresso verdadeiro, multidimensional e para todos.Com uma olhada por entre os véus dos levantamentos estatísticos, das planilhas e dos diagnósticos feitos em computadores sofisticados e prontamente capazes de legitimar a fome e a miséria, como também, socializá-las com o maior cinismo.
Henderson (l 996) nos lembra que o Produto Nacional Bruto; o Produto Interno Bruto e outras brutalidades deverão ser rapidamente substituídos por novos indicadores do desenvolvimento humano e da importância da difusão das democracias em todo o mundo. Dando ênfase à satisfação das necessidades urgentes do aperfeiçoamento dos sistemas de tomadas de decisão; que passam a ser democráticos, coletivos e com grandes inovações sociais e, ao mesmo tempo, tecnológicas. Construindo futuros com arquiteturas mais adequadas para que o Século XXI seja realmente mais humano, mais profícuo de felicidades e com muitos motivos para que a humanidade possa comemorar.
Cabe às mulheres a criação de sistemas administrativos com novas concepções, hábitos, pensamentos e paradigmas; como ferramentas mentais mais harmônicas, originais, criativas, abertas, integradas e flexíveis, utilizando concepções antagônicas aos modelos que vêm sendo praticados até os nossos dias, promovendo transformações muito profundas, necessárias e inadiáveis.
Só assim poderemos ver surgir os maravilhosos paradoxos da existência humana e os mistérios profundamente belos como processo e resultado de uma grande, e, quase divina criação em todo o universo conhecido e dentro de nós mesmos, para muito além de planos, tabelas, registros contábeis, lucros e relatórios de caixa de finais de balanços.
A organicidade carece de vida nova, de crenças, de valores humanos que sintetizem a profunda felicidade do viver plenamente todos os momentos, cumprindo assim a função que justifica a vida do ser humano no mundo.O grande drama da organização requer uma nova engenhosidade mental, responsabilidade, sabedoria, sistemas de crenças que até o momento se mostraram disfuncionais e que requerem uma outra atmosfera de emoção e ternura como valores fundamentais para que as organizações sobrevivam e colaborem com o plano maior da dignidade em todos os sentidos.
Finalmente, administração com bases femininas terá seu foco central nas políticas públicas e individuais que possibilitem o planejamento e a inovação em produtos e serviços com vistas ao respeito, aos desejos, ritmos, estilos, personalidades das pessoas que receberão as benesses desta ação administrativa específica. Questionando sempre o arcabouço cada vez mais estreito da economia convencional e destruidora de um mundo minimamente saudável, abandonando o falso universalismo e a visão simplista da natureza humana. Construindo um futuro multidiversificado e com matizes de um perfeito arco-íris, num tempo em que já é quase tarde demais para a compreensão destes acontecimentos, fatores e necessidades mais que urgentes.
Pelas mulheres serão buscadas, certamente, ondas luminosas para remodelar a produção e o potencial para crescer e aprender sempre com mais otimismo em relação à natureza humana e sua inteira complexidade. Criando ambientes desafiadores e estilos de vida inteiramente a favor da felicidade das espécies; sem quaisquer distinções étnicas, raciais, geográficas, sexuais, culturais ou políticas. Proporcionando, por assim dizer, uma “grande angular”, criando hoje as realidades de amanhã, sendo previstas e esperadas como sonhos, esperanças e alegrias; concretizando utopias e capacidades para a implementação das mudanças tão necessárias. Dando à organicidade um tom profundo de ecologia, como ciência profunda, rica e inquestionável. E, por falar em ecologia, o que é, em síntese, harmonia e felicidade; lembro-me de uma secular sabedoria chinesa, segundo a qual; “todas as mulheres são árvores, e, juntas, que linda floresta elas formam”.


Referências Bibliográficas:



CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura e emergente. São Paulo: Cultrix, 1 980.
_____________, Ecologia profunda: um novo renascimento. REVISTA NOVA ERA: . Ano III nº 375. São Paulo, 2 001.
COSTA NETO, Antonio da. Sociedades & Conflitos: uma miniatura das relações familiares. In: PROPORCIONALISMO OU CAOS. São Paulo: Lorosae, 2 003.
____________, Paradigmas em educação no novo milênio. Goiânia: Kelps, 2 003.
____________, Batom: uma arma imprescindível. In TRIBUNA DO BRASIL: ano II nº 6l7: Brasília – DF, l 986.
____________, Projeto Humanizar: multiplicando sorrisos – uma resposta aos desafios da moderna economia globalizada do IIIº Milênio (Programa de Consultoria e Intervenção Organizacional). Brasília: Escola Superior de Estratégia e Gerência – ESAG, 2 004.
FERGUSON, Marilyn. A conspiração aquariana: transformações pessoais e organizacionais nos anos 80. Rio de Janeiro: Record, 1 980.
GREGORI, Waldemar de. A construção do cérebro pela família e pela escola. Belo Horizonte: Ed. Luz, 2 000.
HENDERSON, Hezel. Construindo uma sociedade onde todos ganhem. São Paulo: Cultrix, 1 998.
____________, Transcendendo a economia. São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1 996.
MURARO, Rose Marie. Os seis meses em que fui homem. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1 991.
OLIVEIRA, Colandi Carvalho de. Psicologia da ensinagem. Goiânia: Kelps, 2 002.
STRATTON, George. Princípios básicos da psicologia feminina. São Paulo: Mc.Graw-Hill do Brasil, 1 976.
TAVARES, Clotilde. Iniciação à visão holística. Rio de Janeiro - RJ: Record, 1 986.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

UMA "HOMENAGEM" AO LULA




Decidi ser pós-moderno e neoliberal. Ora isto implica não ter passado, esquecê-lo e recusá-lo. Não existem, portanto, nunca existiram, a casa pobre onde nasci, a aldeia ignota donde vim, o país de fome e miséria, opressão e escuridão em que cresci, a dura escola das letras e da vida que frequentei, os princípios e valores em que me criei, os ideais que acalentei, as lutas em que participei, as conquistas que testemunhei, os progressos de que beneficiei, o contexto cívico e ético em que me formei, a Universidade à qual me entreguei.
Sou reforma e metamorfose. Fica para trás, desmentido e desfeito, tudo o que acumulei, defendi e pratiquei ao longo dos anos. Tudo passou e está fora de moda: os ensinamentos dos livros, a história e a filosofia, a memória e a esperança, o direito e a política, as diferenças ideológicas e programáticas dos partidos, as convicções e utopias, os gritos de revolta e liberdade, as canções românticas. Estou a deitar tudo fora.
Tudo isso me apouca, aprisiona, incomoda e persegue. É um espelho de imagens que me desafia e agride a consciência e faz a vida difícil. Exige coerência, persistência, esforço e empenhamento e torna-me cúmplice da injustiça à solta. Eu não suporto isso. Quero mudar de rumo, não ter face nem identidade; embarcar na onda do deleite, do oportunismo, cinzentismo e comodismo. Trocar o apego à firmeza e defesa da verdade pela adesão à fluidez das conveniências. Quero estar do lado donde sopram os ventos e não encarar o monte de lembranças inquietantes e de compromissos assumidos nesta caminhada longa e grisalha. Uma a uma, quero apagar as imagens dos sítios por onde andei, as missões e causas que abracei. Não tenho espaço para tanto arquivo. Detesto o Outono e Inverno; quero viver sempre entre a Primavera e o Verão.
Também quero esquecer a cidade, as praças e casas, até porque já não existem de facto, demolidas que foram para dar lugar a bancos e outros templos do mercado e finança. Vou riscar da memória os cinemas, cafés, teatros, igrejas, clubes, campos de jogos e demais centros de convívio e tertúlia e, no seu lugar, registar as construções, estruturas e entidades que hoje esbravejam para povoar todo o espaço que nos separa do céu e para impor deuses superiores aos que foram meus.
Não retenho nada da infância; arranco molduras penduradas na parede do tempo. Não são mais quadros merecedores do meu apreço. Olho para trás e entranha-se em mim a sensação de estranheza em relação ao emaranhado de sentimentos que me levavam a pensar nos outros e a conter a indiferença, o individualismo e egoísmo. Morra o bem público e viva o interesse privado!
Agora que nenhum edifício resta na memória, eu não sei dizer o que sou e se existo, já que não me consigo ver a mim próprio. Só sei que não vou voltar para a casa antiga. Não quero saber de quem lá vivia e de como vai viver para além dela. Não quero saber que lá vivi, nem de quem não tem e nunca terá casa. Quero apenas evitar que as ruínas resistam ao meu projeto de desmemoriamento e teimem em avivar este sentimento de vazio ruim, o único que fica de todos os que ferem a minha carne e se atravessam no caminho de me libertar do passado.
Para o serviço da conversão ficar bem feito, reduzirei a cinza e nada toda a reminiscência que possa roubar tempo à decisão de me entregar, de modo acelerado, vistoso e confesso, à novidade e à criação da minha descomprometida condição de pós-moderno e neoliberal.
De professor passei a facilitador; não há mais lições para dar. Pertenço, de corpo inteiro, a esta sociedade incapaz de tudo, inclusive de notar as diferenças. Doravante a minha memória está limpa do que me ligava ao passado. De resto o que não se passou não pode ser passado; o que não sucedeu não pode ser lembrança. Sou expressão da desmemoriação. Oiçam bem: recuso, renego e abjuro o passado. Todo eu sou eterno presente, sobrevivo no limbo das inovações e adaptações permanentes. Desta forma reciclado, estou apto a subir no aparelho de Estado - ou noutro qualquer - e a aceder ao exercício das mais altas funções. Se assim o quiser a divina ou outra providência, eu vou longe.
Claro que carreguei nas tintas; mas exagerar é uma maneira de alertar.
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Reforma, metamorfose e desmemoriação A BOLA, 12.07.2007 Jorge Olímpio Bento Lisboa

sábado, 18 de agosto de 2007

EXPERIÊNCIA...QUEM TEM?

























Já fiz cosquinha na sola do pé da minha irmã só pra ela parar de chorar, já me machuquei feio, aprendendo a andar de bicicleta, escutei conversas dos moleques, descobri coisas, e achava que eu era bobo. E era. Mas bem menos do que sou agora. Fui passar minha camisa e queimei o dedo, já escrevi poesia em guardanapo e quase morri afogado no mar, por mais de uma vez. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, e depois, pra tirar aquilo pregado das mãos e dos dedos, foi fogo. Já falei com Deus, com o espelho, já conversei e converso sozinho, e até já brinquei de ser bruxo, padre, homem, mulher, brinquei de ser quase tudo. Já quis ser astronauta, médico, violonista, bailarino, mágico, caçador, palhaço e trapezista. Sempre tive uma vocação artística, meio inexplicável. Já fiquei atrás da cortina e esqueci os pés pra fora, como o gato que se e deixa o rabo à mostra. Tentei fumar maconha, passei mal à beça e só queria que o efeito passasse. Nunca mais faço isso. Experimentei todas as formas de fazer sexo e não me encaixei em nenhuma. Hoje prefiro a sublimação: fazer pesquisas, pescar, ir pra roça, escrever livros, pintar quadros, ler e fazer poesia, cuidar de cachorro, falar palavrões. Já passei trote por telefone. Já menti, muito só pra dar risada depois. Já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo, bolacha em supermercado, já cometi pequenos furtos, sim. Fiz xixi na cama várias vezes e cocô nas calças, algumas. Já confundi sentimentos e mandei a pessoa certa ir embora, para sempre... Fiquei com depressão, tomei remédio controlado, fiz terapia e abandonei sem receber alta. Peguei atalho errado, carona no rabo do trem-de-ferro e continuo andando pelo desconhecido, pelo mundo. Já raspei o fundo da panela de galinhada e enfiei o dedo no arroz doce escondido, na cozinha, já me cortei fazendo a barba apressado, já chorei ouvindo música no ônibus e por ver criança pobre pedindo esmola para comer. Já tentei esquecer algumas - muitas - pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, e em árvores, pra roubar fruta, já caí da escada de bunda, já vi a calcinha da minha professora e fiquei excitado. Mas na época eu não sabia o que era isso e daí, não rolou nada. Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante. Arrebentei o pé de chuchu do meu avô e ele ficou cuspindo faísca. Já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa-e-alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar, depois, de manhã, fiquei com preguiça. Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já apanhei rosas num enorme jardim na casa de uma visinha que era uma fera. Colei muito e dei cola pros amigos. Sempre fui bom nas humanas e péssimo nas exatas. Passei em conursos, vestibulares e nunca assumi. Mas aprendi a ser feliz com a vida que tenho. E isto é muito bom. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre"pela metade. Já deitei na grama de madrugada e vi a lua virar sol, fui andando até me cansar atrás do arco-iris, já chorei por ver amigos partindo - sou um verdadeiro chorão - mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem limites. Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes mais íntimas e guardados num baú chamado coração. E agora, que os cabelos ficaram brancos e não tenho mais o mesmo vigor de quando fiz todas estas coisas e muitas outras de que nem me lembro, interrogam-me, encostam-me na parede e gritam: "Qual sua experiência?" Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência?... experiência?... Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos! Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para os que formulam esta pergunta: Experiência? Quem a tem, se a todo momento tudo se renova? E se aquele que passou por todas elas já não é mais a mesma pessoa, justamente por causa das experiências que o transforma a cada momento, a cada dia? Realmente, estamos diante de um paradóxo. Experiênica, não é nada e o melhor mesmo, seria tirar esta palavra do dicionário. Ou trocá-la por uma outra que tenha um significado bem mais infinito, intersubjetivo, maleável. Enfim, algo que não existe. Sejamos inteligentes e acompanhemos os ritmos da natureza. Vamos deixar a experiência de lado.

Antonio da Costa Neto



sexta-feira, 17 de agosto de 2007

AMANTES




"O meu amor
Tem um jeito manso
que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos
lindos,



indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes..."
(Chico 1977/1978)




Está certo que as marcas de amor têm lá seu charme. Mordidinhas na nuca, unhadas nas costas, chupão no pescoço... quem é que não os teve? São detalhes que registram a temperatura do prazer - e que, na manhã seguinte, costumam testar a criatividade no vestuário e nos argumentos... No entanto, definitivamente, não são essas marcas as que mais importam na vida a dois e, sim, aquelas que não passam com o tempo: as lembranças das delicadezas, dos cuidados, das surpresas, das loucuras, das fantasias, das flores recebidas, do abraço gostoso no meio da noite só para se certificar de que tudo aquilo não foi um sonho, do café na cama, do bilhete no espelho do banheiro, da camiseta usada e perfumada deixada sob o travesseiro para os dias de ausência, do jantar preparado com os ingredientes de uma geladeira vazia e um coração cheio de ternura, das risadas por nada, da tranqüilidade do sono compartilhado, das manifestações de carinho e tesão nos lugares menos apropriados, da pipoca e do refri divididos durante aquela sessão de cinema tão esperada, da canção que - apenas sussurada - traz de volta aquele encontro, aquele beijo, aquela saudade, aquele dia. É esse universo de sutilezas que fica para sempre, mesmo quando os amantes já não se vêem, nem se tocam.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

EDUCAÇÃO, POESIA, BELEZA E DRUMMOND



















..."Por que motivo de modo geral as crianças são poetas, e,
com o tempo, deixam de sê-lo?
Será a poesia um estado de infância relacionado com a necessidade
de jogo, a ausência de conhecimento livresco, a despreocupação
com os mandamentos práticos do viver,
estado de pureza da mente, em suma? (...).
Mas se o adulto, na maioria dos casos
perde essa comunhão com a poesia,
não estará na escola,
mais do que em qualquer outra instituição social,
o elemento corrisivo do instinto poético da infância,
que vai fenecendo à medida em que o ensino sistemático se desenvolve,
até desaparecer no homem feito e supostamente preparado para a vida?
Receio que sim.
A escola enche o menino de matemática, de geografia, de linguagem,
sem, via de regra, fazê-lo através da poesia da matemática,
da geografia, das linguagens.
A escola não repara em seu ser poético,
não o entende na sua capacidade de viver poeticamente
o conhecer o mundo.
Então, o que eu pediria à escola,
se não me faltassem luzes pedagógicas,
era considerar a poesia como primeira visão direta das coisas,
e depois, como veículo de informação prática e teórica,
preservando em cada aluno o fundo mágico, lúdico, intuitivo e criativo,
que se identifica basicamente com a sensibilidade poética.
Alguma coisa que se "bolasse" nesse sentido,
no campo da educação,
valeria como corretivo prévio de aridez
com que se constumam transcorrer destinos profissionais,
murados na especialização,
na ignorância do prazer estético,
na tristeza de encarar a vida como um dever pontilhado de tédio."


(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

PROJETO DE MODERNIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DE PREFEITURAS MUNICIPAIS





  • “O nosso sistema político necessita de ser transformado, e não, apenas reformado. Nós precisamos de algo mais, e não somente de algo a mais. Somos todos convocados a inventar, descobrir, criar, elaborar, aprimorar novas alternativas e desvendar outras fórmulas para caminhos verdadeiros, autênticos e justos para todos os seres vivos sobre o planeta Terra.
    Prescindimos de uma nova política do país, do Estado e, principalmente, do Município, do corpo, da mente e da sociedade. Nossa qualidade de vida dependerá daqui pra frente do poder para o povo: um a um.”

    (Marilyn Ferguson)


    I - APRESENTAÇÃO

    Entendendo que a Administração Pública Municipal tem perdido sólidas chances de realizar um trabalho de altíssima qualidade em termos de conquista da melhoria da qualidade de vida das comunidades por elas servidas, tanto em termos de serviços de infra-estrutura social, como nos processos de gestão da coisa pública propriamente dita é que resolvemos desenvolver o presente programa, tendo como laboratório de trabalho a atual gestão municipal dos diversos municípios brasileiros. Buscando assim personalizar a metodologia do trabalho a ser realizado, considerando-se os seguintes aspectos básicos:
  • As proporções físicas, geográficas e populacional, seus problemas básicos, complementares e as perspectivas de soluções de cada um deles em termos da dinâmica geral da própria gestão: individual, social, política, ética, cultural, econômico-produtiva, infra-estrutural e ecológica.
  • A existência e o nível de consciência crítica e vontade política de seus agentes, o que, em última análise, o presente programa quer vir facilitar e implementar.
  • Necessidade de operacionalização de uma nova proposta de ação administrativa frente à problemática que tem sido demonstrada pela gestão pública das cidades de maneira geral, não por responsabilidades pessoais definidas, mas por uma abordagem que requer melhorias e atualizações, podendo se transformar a presente proposta em um modelo de gestão para todo o País, e ser conduzida para congressos e eventos congêneres, e, por fim, objeto de publicações, pesquisas e mídia nacional e até internacional.
  • A pouca evolução em termos da tecnologia da administração municipal dentro da realidade específica da grande maioria de nossas Prefeituras Municipais, sendo necessário a aprendizagem de novas concepções metodológicas de planejamento, ação com vistas ao atendimento dos objetivos e metas do atual processo de gestão municipal no Brasil como um todo.
  • Implementar novos pressupostos de ação orçamentária frente aos rigores da atual crise econômica, tendo em vista a otimização de propostas, atividades e modelos de Gestão Pública Municipal, com vistas a solucionar também este tipo de problemática em nossas gestões públicas municipais.
  • Optar por uma nova abordagem (ou paradigma, como preferimos denominar) de Gestão Pública Municipal mais solidariamente responsável e voltada para o atendimento das necessidades e problemas relativos à melhoria da qualidade de vida humana em sociedade no cômputo da administração pública municipal específica com a qual se trabalha.
  • Um dos grandes problemas que o País atravessa é justamente causado pela falta de seriedade, de assertividade e de atualização dentro dos processos de administração da coisa pública, o que ainda mais se intensifica no caso da gestão municipal, onde, de fato, a realidade humana e social acontecem. Pois, em termos vivenciais e cotidianos o Estado, e mesmo, a Nação são apenas abstrações da visão teórica das ciências políticas e dos processos de legislação e exercício dos poderes políticos nas diversas áreas e esferas.
    Analisando mais friamente, fica claro que o que existe de fato, é, apenas e simplesmente, a cidade, o município e suas dimensões físicas concretas, para onde deveriam ser concentrados os poderes e recursos que pudessem favorecer à melhoria contínua da qualidade de vida das pessoas de uma maneira geral, em se considerando as áreas e atividades-meio-e-fim da ação governamental.
    Sociedade não existe. O que existe é a pessoa com suas conjunturas, aspectos, necessidades e carências. Assim, o que é o Estado, senão uma estrutura administrativa e burocrática? A cidade sim, esta existe, com limites sólidos e demarcados, com necessidades e carências físicas, reais.
  • Afinal, quais são de fato as áreas de ação humana e social de responsabilidade do governo, e, mais especificamente ainda do Governo Municipal? O paradigma desta tipologia de gestão está de fato definido?
  • Este é um referencial teórico-prático que direcione ações, políticas e diretrizes neste sentido ou as gestões das Prefeituras vêm sendo feita dentro de uma concepção empírica de ensaio e erro, gerando dificuldades muitas, gastos infindos, desperdícios de meios, bens, recursos, valores e talentos? Há como se pensar esta conjuntura e definir, enfim, novos meios de ação capazes de minimizar esta problemática, ajustar os gastos, despesas, ganhos e lucros políticos, sociais, administrativos e econômicos?
  • Enfim, a Gestão Municipal tem dado respostas satisfatórias ao seu possível ciclo de evolução laboral, técnica, metodológica e política propriamente dita ou há correções e ajustes mais que urgentes a serem feitos no sentido de se corrigir sérias falhas e defasagens historicamente acumuladas ao longo da história econômica, política e administrativa brasileira?
  • Como repensar a gestão dos serviços públicos municipais para além o estereótipo simplista da prestação de serviços que visem prioritariamente o bem-estar e a saúde financeira de seus agentes e autoridades, sobretudo os gerenciadores dos vários poderes executivos, legislativos e até do judiciário em nível municipal?
  • O diferencial das condições pessoais de quem conduz e operacionaliza o serviço público precisa ser repensado urgentemente?
  • Os privilégios pessoais descontextualizados da realidade macro, as condições de vida, o conforto doméstico, a segurança, o status quo dos governantes e seus assessores, familiares e agentes diretos da própria gestão precisa ser estudo e considerado profundamente no cômputo dos processos administrativos?
  • É mais que necessário considerar este aspecto no jogo de poder, na esfera municipal e nas demais. É possível “por exemplo” que um Deputado represente o povo desempregado, sem renda e que ganhe um salário mínimo, quando recebe milhares de vezes mais?
    Quem ganha como elite é elite, governa para a elite, beneficia a elite e a massa preterida passa a combatê-la, a destruí-la, a se manifestar contra ela, em crimes, corrupção, greves, etc. daí a crise e a necessidade de se encará-la dentro dos processos aqui sugeridos.
    De que forma otimizar propostas? Como, quando e quem vai estabelecer as políticas e diretrizes de ação? Com que quadro de referência nossas Prefeituras têm trabalhado? Que problemas se acumulam e por quê? Entendemos que a pobreza ideológica, o absoluto descaso com estas questões e o despreparo crítico e político destas pessoas são os elementos principalmente responsáveis por este conjunto de disfunções, algumas delas até consideradas como sérias e definitivas para o futuro histórico destas mesmas comunidades assistidas. Sendo igualmente este o ponto de crucial importância e que o presente projeto se propõe a atacar, possibilitando aos agentes da Administração Pública Municipal a oportunidade de, em conjunto, repensar, refletir e refazer este conjunto de coisas definitivamente inadiáveis.
    Tudo isto sem falarmos na problemática específica tais como as de teores ecológicos (poluição do ambiente, do ar, da água, dos mananciais, degradação da natureza e destruição da fauna e flora), as políticas sociais para a juventude e a terceira idade, os pressupostos filosóficos da qualidade da educação, a saúde pública, a infra-estrutura das cidades em termos de saneamento básico e complementar de uma maneira geral, garantindo um mínimo de conforto e segurança para todas as pessoas e não apenas, da classe média para cima. Os problemas com o trânsito, as endemias, a hiperpopulação, o aquecimento ambiental, o tratamento do lixo, da água, o controle do uso e do tráfico de drogas, sexualidade, a segurança pública, a violência urbana galopante, o setor judiciário e cumprimento de leis, etc.
    A compreensão geral não pode ser outra de que a situação é realmente muito grave, já sendo quase que demasiadamente tarde demais. É, portanto, necessário tomarem-se medidas urgentes e imediatas que devem se iniciar basicamente com um novo e profundo processo de conscientização/capacitação das pessoas que atuam nos vários níveis e segmentos administrativos das Prefeituras, buscando torná-las bem eficientes, eficazes e efetivas para o Processo da Gestão Municipal que o atual contexto brasileiro passou a exigir, notadamente nos últimos tempos, antevendo suas especificidades, necessidades e problemas. Gerindo, por assim dizer, ações efetivamente assertivas, em comum acordo com a comunidade municipal, para a minimização de custos e dificuldades e a otimização de soluções, atendendo ao máximo de pessoas e de classes sociais daquela municipalidade.

    II - JUSTIFICATIVA

    Historicamente o Processo de Gestão Municipal (e também o estadual e federal que via de regra, acontecem da mesma forma) vem sendo concretizado apenas no sentido de garantir os direitos e benesses de seus executores, bem como a perfeita saúde econômico-financeira destes. O que tem levado as cidades ao caos e à insustentabilidade em todos os sentidos. A saída passa por caminhos efetivamente mais democráticos, com mais representatividade popular, sendo auscutadas mais pessoas e elementos representativos legítimos dos vários segmentos sociais assistidos pelo processo de gestão, no caso, do município.
    É necessário, portanto, legitimar um sistema majoritário de ter voz e vez na definição das prioridades administrativas da municipalidade, no sentido de se orientar o plano de ação do fazer administrativo das Prefeituras a serviço da busca e da conquista de soluções otimizadas, ou sejam, aquelas que agreguem mais benefícios para mais pessoas, independente das categorias sociais, das tendências ou momentos históricos, causando, então, os menores impactos negativos possíveis. Desde que estas mesmas soluções, políticas e diretrizes, sejam escolhidas mediante a concepção e um conhecimento social e político devidamente mais aguçado, com sensibilidade humana, com entendimentos filosófico e ideológico mínimos dos elementos que se inserem direta ou indiretamente no mesmo processo.
    Nesta abordagem, faz-se necessário que seja levantado um bom e suficientemente, múltiplo e democrático diagnóstico das necessidades e problemas da população da cidade. Ou seja, um diagnóstico integral, definido por segmentos e representações o mais autênticas possíveis da totalidade da população, em termos técnicos, humanos e sociais e interagindo totalmente com a complexidade dos problemas para os quais a Gestão Pública Municipal tem sua finalidade.
    Optaremos assim por uma metodologia que agregue o levantamento dos possíveis problemas em cada uma das áreas atinentes ao serviço público municipal. E, frente a este levantamento, partiremos para a segunda etapa: a de priorização dos problemas para os quais serão buscadas as soluções mais satisfatórias e que, espera-se, sejam aplicadas dentro de um cronograma de trabalho a ser sugerido e competentemente aprovado.
    Consideramos como prioridade a escolha dos problemas tidos como os mais importantes e consistentes para o bom e satisfatório manejo da Gestão Municipal frente à sua especificidade e momento, buscando atingir o leque maior possível do campo de ação da administração municipal. O levantamento e a seleção dos problemas devem ser feitos pelos segmentos o mais representativos possíveis – e que constituam o grupo de trabalho direto do presente programa - em função da subjetividade dos raciocínios, a diversidade humana e as múltiplas situações em que estão submetidas os habitantes da comunidade municipal. Neste caso, o referencial ideológico é por nós considerado como fundamentalmente importante e, infelizmente, por razões de poder ou de falta de visão humana, política, crítica e administrativa, não tem sido nunca colocado em pauta, daí, ao nosso ver, o grande, o maior, talvez o único problema para o qual o presente programa se propõe a buscar soluções pertinentes e eficazes.
    Isto requer uma explicação ao mesmo tempo psicológica e sociológica. E para atingirmos o seu fim didático, exemplificamos da seguinte forma: um prefeito ou um secretário municipal, por exemplo, são pessoas que têm uma posição social privilegiada em relação à maioria absoluta da população – enormemente pobre – a que representa. Ora, quem não sofre tais problemas na pele tem uma visão diferente de quem os sofre. E, na verdade as soluções são elencadas e implementadas pelos indivíduos que não sofrem o problema. Temos também os fatores do inconsciente das pessoas e a competitividade delas, o que acaba por definir do lado contrário da questão, não acontecendo nunca as soluções esperadas, daí mais problemas, caos, insatisfações e dificuldades que se repetem num ciclo ainda maior e mais complexo.
    Isto não faz parte de um substrato de maldades que, a princípio, seria horrendamente cruel, mas é elemento do componente antropológico da raça humana em todos os segmentos. O grande problema é que as classes privilegiadas se negam bravamente, por um fator de competição, e, para não fugirem da própria zona de conforto, a enxergarem e aceitarem este tipo de situação e de problema. Perpetuando assim as calamidades e as grandes catástrofes que se acumulam ao longo dos Processos da Administração Pública em todo o País, e, infelizmente, em quase todas as dimensões do dito mundo contemporâneo civilizado.
    Na maioria das vezes, o que emperra o processo é a própria gestão dos processos ideológicos, em outras palavras, pelo jogo de poder, a falta de consciência, de conhecimento, de domínio técnico, de vontade política, de empatia, de compaixão e outros sentimentos nobres, para a absoluta maioria dos políticos em todas as esferas e setores, cabendo a nós, neste trabalho o desdobramento da situação dos governos municipais, propondo sérias, consistentes e imediatas alternativas de solução.


    III - OBJETIVOS DO PROGRAMA

    Geral:

  • Qualificar/conscientizar/motivar técnica, política, humana, social e ideologicamente um grupo de servidores dos vários segmentos da Prefeitura, Câmara Municipal e Representantes da Comunidade (com metodologia de efeito multiplicador, capacitando o grupo para repassar o programa para os demais servidores) para participarem efetivamente da construção de um Plano Norteador da Atual Gestão Municipal com vistas ao atendimento das expectativas políticas de toda a sociedade. Buscando a melhoria concreta da qualidade de vida da população, da infra-estrutura do município e a satisfatória eficiência dos processos de gestão devidamente integrados e aplicá-lo gradativamente de conformidade com as condições e interesses da Gestão Municipal.

    Específicos:

  • Discutir os planos e concepções teóricas e práticas dos modernos paradigmas da Gestão Municipal para o Brasil de hoje, em termos técnicos, econômicos, humanos, sociais, políticos e ideológicos devidamente adaptados à cada realidade específica.
  • Trabalhar os elementos humanos, sociais e psicológicos relativos aos processos da Gestão Pública Municipal e suas especificidades, considerando o teor da competitividade, os fins confessos e não-confessos que legitimam os processos da gestão da coisa pública em nível dos municípios.
  • Identificar as tipologias de personalidades e os conflitos humanos relativos à questão do exercício do poder na gestão do município e os seus resultados decorrentes, no bojo da própria Administração Municipal.
  • Conhecer os instrumentos da psiquê humana frente aos processos de comando e lideranças, bem como as interferências diretas no sentido da autocrítica e a definição das políticas e diretrizes mais apropriadas e adequadas para a maioria absoluta da população.
  • Proceder ao levantamento e a priorização das principais necessidades e problemas do município frente às especificidades do trabalho, subsidiando assim a implementação de um novo Plano de Trabalho para a Gestão Municipal.
  • Fazer a análise processual dos problemas priorizados, identificando suas causas, efeitos, processos, resultados e as interferências negativas, dificultadoras do sucesso desejável do plano de gestão dentro dos referencias técnicos e ideológicos uma vez adotados.
  • Propor soluções devidamente otimizadas por meio de uma eficiente Matriz Vetorial de Problemas e Operações a ser implementada no plano diretor de ação governamental da cidade.
    Elencar políticas e diretrizes de ação que poderão fazer parte do Novo Plano de Trabalho da Gestão do Município em termos dos atributos legais de ação da Prefeitura, conforme o atendimento das especificidades trabalhadas e o objetivo maior do plano de ação definido pelo grupo.
  • Apresentar um efetivo Plano de Trabalho para a Gestão Municipal específica, com agendas, propostas e sub-propostas nos vários campos de ação da Prefeitura, com um cronograma devidamente aprovado, plano de supervisão, atividades, recursos, coordenações e técnicos responsáveis, acompanhando, supervisionando e corrigindo possíveis falhas e defasagens decorrentes de sua aplicação.

    IV - METODOLOGIA DE TRABALHO

    O projeto tem como propósito uma modalidade de intervenção organizacional na Gestão da Prefeitura, partindo da conscientização, capacitação e motivação das pessoas envolvidas para este intento, dentro das concepções dos novos paradigmas definidos como filosofia do programa. Entendemos aqui que sem qualquer um destes aspectos torna-se impossível a realização da presente proposta, dentro do padrão de qualidade básico a que ela se destina. No geral, as pessoas não são devidamente conscientizadas, por isso falta capacitação, culminando com a desmotivação absoluta para tais atividades, levando assim ao caos que tentamos suplantar com este programa, que tem por finalidade a melhoria da qualidade do produto e do Processo de Gestão da Prefeitura Municipal.
    De acordo com os novos pressupostos, a devida orientação técnica, favorecida pelo indispensável campo de motivação e vontade política são fatores absolutamente fundamentais e indispensáveis para a implementação de um programa de trabalho com o nível de qualidade aqui proposto. O grande mal de tudo é a inconsciência que gera a ingenuidade, que, por sua vez, leva a apatia e vivemos num tempo em que nenhuma destas coisas pode ser ao menos tolerada, permitida, e, muito menos induzida pelos instrumentos de gestão, entremeados em suas concepções, métodos, processos burocráticos, administrativos ou legais. Sendo preciso igualmente favorecer a um outro tipo de liderança mais amena, democrática, humanamente responsável e pró-ativa em termos da consecução da qualidade de vida das pessoas e da melhoria contínua das estruturas vivenciais, conjunturais e políticas dos municípios.
    Desta forma, a metodologia do trabalho será definida a partir das seguintes fases e etapas seqüenciais:

    4.1 – Seleção do grupo de pessoas que participará do Workshop:

    Devendo ser constituído de: políticos (seus representantes legítimos) e profissionais dos vários escalões da Prefeitura; secretários municipais, servidores, vereadores e representantes dos vários segmentos sociais (média ideal de 35 (trinta e cinco) pessoas).


    4.2 – Workshop Básico de Implementação do Projeto:

    Duração: (proposta de 40 (quarenta) horas-atividade, prioritariamente intensivas, ou em dois finais de semana consecutivos, conforme possibilidades e favorecimentos de ambas as partes (sendo negociado no próprio processo). Sendo necessário e conforme a especificidade de cada gestão serão realizados mais Workshops Básicos, visando a qualificação de um maior número de pessoas ou será reforçada a metodologia de repasse e multiplicação dos efeitos do programa desenvolvido, o que será definido caso a caso.


    4.2.1 - Programa do Workshop:

    - Definição das normas técnicas de funcionamento do próprio programa, atendendo aos pressupostos democráticos do mesmo.
    - Distribuição do texto: O poder correto, de Marilyn Ferguson, que deverá ser lido por todos, resenhado e apresentada a síntese até o final do evento, como complementação do seu referencial teórico.
    - Concepções teóricas e práticas dos atuais Processos de Gestão Municipal: perspectivas, propostas, modelos, dificuldades, pressupostos históricos técnicos e operacionais.
    - Estudo das concepções estruturais e individuais nos processos de gestão, gerenciamento e administração municipal.
    - Jogos de poder e competitividade humana nos processos de gestão: grupos e equipes, pressupostos ideológicos, posturas e perigos do inconsciente.
    - Ideologia e processos de poder como fundamentos imprescindíveis na dinâmica dos processos de gestão do município.
    - Levantamento das necessidades e problemas na gestão municipal específica.
    - Priorização dos problemas a partir do referencial adotado pelo programa desenvolvido.
    - Análise processual dos problemas em termos de causas, efeitos, processos e resultados. Discussão e elaboração do quadro analítico.
    - Montagem da Matriz Vetorial de Problemas e Operações (propostas de soluções e levantamentos dos impactos positivos e negativos no meio social onde se atua).
    - Definir os mínimos operacionais com os quais trabalhar: a) O que fazer? b) Como fazer? c) Quem vai fazer? d) Para que e para quem fazer? d) Quem se beneficia e quem se prejudica com o que vai ser feito? e) Quanto vai custar? Eventuais surpresas e novas medidas de correção?
    - Elaboração do Plano Final de Trabalho da Nova Gestão Municipal (metodologia de elaboração de projetos) que deverá nortear as perspectivas de coordenação, responsabilidade técnica, acompanhamento e correção de possíveis falhas e defasagens.

    4.3 – Propostas de Implementação do Projeto:

  • Seleção do grupo experimental que participará do workshop básico de trabalho devendo ser adotado um método mais aberto e multifacetado possível de escolha, de forma a atender aos pressupostos democráticos do programa.
  • Realização do workshop – com no mínimo 40 (quarenta) horas de trabalho, qualificando, conscientizando e motivando devidamente as pessoas para este novo processo de Gestão Municipal.
  • Elaboração de um Novo Plano de Trabalho para a Gestão do Município de forma a subsidiar técnica e politicamente os programas de ação da Prefeitura Municipal.
  • Submeter o Novo Plano à aprovação da administração pública municipal, fazer as adequações necessárias, desde que não fira aos ideais éticos, filosóficos, ideológicos e políticos do programa, possibilitando assim a sua implementação e as melhorias esperadas.
  • Implementar o programa dentro da forma concebida, considerando as adequações realizadas, procedendo assim as mudanças necessárias dentro do Novo Plano de Ação aqui definido.
  • Corrigir possíveis falhas e defasagens decorrentes do próprio processo de implantação, buscando a interação permanente das novas propostas aqui apresentadas.
  • Promover novos workshops, cursos, congressos, seminários, palestras no sentido de melhor qualificar e atualizar as pessoas (em regime de acompanhamento), não deixando que se defase as concepções metodológicas e as atualizações políticas do programa, atendendo à contemporaneidade gradativa do mesmo.

Redação e publicação do relatório anual das atividades do programa para o conhecimento de todo o público, a participação efetiva de toda a comunidade e o reestudo de implementação do programa nos novos exercícios e assim sucessivamente.

4.4 – Currículum Simplificado do Facilitador do Projeto:

Antonio da Costa Neto – Administrador, com Especialização em Gestão Pública, Mestre em Políticas e Planejamento Educacional, Doutor em Sociologia da Educação e Contemporaneidade, consultor, palestrante, professor universitário e pesquisador nas áreas de gestão pública, empresas e educação. Autor de livros na área, artigos, ensaios e resenhas. Concebeu, implantou e coordenou diversos projetos de pesquisa e qualificação de pessoas nas áreas de gestão, políticas públicas e educação superior.

4.5 – Condições Operacionais (a decidir):

Incluindo os meios gerais de trabalho, remuneração da carga horária trabalhada, instalações, reprodução do material didático-pedagógico e demais custos que por ventura possam ocorrer e que serão negociados oportunamente, caso a caso. Ficará sempre sob responsabilidade do contratante as despesas relativas meios, recursos, local, locomoção e acomodação dos profissionais devidamente envolvidos em quaisquer das etapas do processo.

V – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabemos que o presente programa é fundamentalmente polêmico. Mexer com as questões do poder estabelecido, com as benesses das elites é historicamente uma coisa muito difícil, diria eu, quase impossível. Infelizmente, e, por isso mesmo, vemos nosso País e o mundo se sucumbir ao mais absoluto caos, a uma crise sem precedentes em todos os sentidos. São sucessivas mortes em todas as dimensões do Planeta, crimes inusitados e quase já em nossas portas – e a qualquer hora, em nossas casas – guerras descabidas, imtempéries da natureza, com estrondosas secas, enchentes, terremotos, vendavais, aquecimento do ambiente mundial, poluições, endemias, doenças incuráveis, hiperpopulação, trânsito caótico, falta de espaço, poluição, desastrosa distribuição de renda, educação precária, desemprego, miséria, fome, péssima assistência à saúde das pessoas, habitação precária, educação de péssima qualidade, declínio da economia etc., levando a vida a padrões quase insustentáveis. Enfim, não temos outra saída senão buscar mudanças profundas, embora possam significar inquietações e desconfortos para alguns segmentos.
Infelizmente não há mais o que esperar para se tomar medidas absolutamente fundamentais em todos os sentidos e segmentos da sociedade. Não é só a administração pública que sofre deste conjunto de impropriedades, todas as instituições, organizações, entidades, grupos, classes sociais, passam por uma crise endêmica e sem precedentes. É notório o atraso das concepções da humanidade.
Nossas escolas, igrejas, estruturas e conjunturas de trabalho, famílias, justiça, leis, processos de gestão, enfim, tudo necessita ser repensado e com toda a profundidade e com a maior urgência possível. Portanto, precisamos começar de algum ponto, de alguma frente, e, por uma questão de conveniência estratégica, estamos propondo um início pela via da Administração Municipal.
Queremos deixar claro que nosso objetivo não é, de forma alguma, competir com processos de poder, pessoas ou equipes. Pelo contrário, entendemos que é mais que necessário fazer alguma coisa, retomar os processos, reconduzir os sistemas. Não podemos ver o mundo sucumbir ao caos, de braços cruzados. Sabemos que com a presente proposta podemos contribuir muito com a qualidade de vida das pessoas, mas ao mesmo tempo, temos a consciência da grande dificuldade que iremos enfrentar para colocar o presente projeto em prática, pois no papel ele não passa de meras intervenções teóricas que quase nada significam.
Já passamos muito da hora de sistematizar os conflitos necessários. “Não se faz omelete sem que sejam quebrados os ovos”. Da mesma forma, não podemos congregar a melhoria da qualidade da vida de toda a população sem ferir ao famigerado status quo das elites, a concentração absurda e bem-estar, poder de mando e acesso à renda e recursos econômicos.
Prescindimos de repensar a questão do poder. Isto faz parte do nosso compromisso como cidadãos, como seres conscientes deste conjunto de processos. Temos uma responsabilidade sistêmica ao entender que tudo se liga a tudo e até mesmo, uma resposta espiritual que haveremos de dar, uma vez que responderemos pelo mal decorrente do bem que, por ventura, deixarmos um dia de fazer.
Estamos identificando o Programa como de Modernização Administrativa da Gstão das Prefeituras Municipais, tendo como objeto real à capacitação técnico-política e a motivação das pessoas para a mudança dos paradigmas específicos, que prevemos como necessários e inadiáveis frente à vasta gama dos problemas do mundo e as perspectivas terríveis vislumbradas para o Planeta num curso espaço de tempo. Principalmente se considerarmos as conjunturas históricas.

Não podemos perder mais um minuto de tempo. A vida cobra-nos, muito e alto. Temos de repensar e, principalmente, refazer os processos vivenciais e com eles a Administração Municipal que é o campo que ora nos cabe. Vislumbrar que, com isto, possamos merecer melhorias concretas, paz, serenidade, desenvolvimento, sendo, acima de tudo agentes da busca da felicidade dos seres vivos sobre a terra. Inclusive, cada um de nós e nossas famílias pois igualmente nos encontramos expostos a tudo isto. Administrar e planejar a Gestão Municipal com muita competência técnico-política, paz, empatia, serenidade e amor é, com certeza, o grande desafio político do Século XXI. E não podemos, sob pena de garantia de nossa própria sobrevida, nos mantermos defasados e ultrapassados frente às novas exigências que nos é feita pela nova ordem mundial que ora se desencadeia. Vamos a ela.

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