sábado, 20 de dezembro de 2008

CRÔNICA SOBRE O AMOR

























Ninguém ama a outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário, os honestos, os simpáticos, os não-fumantes teriam sempre uma fila de pretendentes batendo à porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referências. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom da voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas e ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?
Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado. O beijo dela é mais viiciante do que o LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafageste. Ele diz que vai e nem liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, ele está sempre duro e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, e, ainda assim, você não consegue dispensá-lo.
Na quando a mão dele toca na sua nuca, você se derrete feito manteiga. Ele toca Gaita de boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?
- Não me pergunte. Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu pra ser sacudido num comercial de shampoo e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo.
Com um currículo desse, criatura, por que diabos está sem um amor? Há, o amor, esta raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemático: eu linda + você inteligente = a dois apaixonados. Não funciona assim. Amor não requer conhecimento prévio e nem consulta ao SPC, Serasa. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e ótimos pais de famílias tão assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é!



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Roberto Freire

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A RIQUEZA SIMBÓLICA DO FUTEBOL


Não podemos negar que o futebol é a grande coqueluche. A paixão, o encanto das multidões que atravessa épocas, idades, períodos históricos. Uma grande façanha, num mistério que ativa profundamente corações, almas, altera destinos. Faz vibrar, morrer e até matar. Arranca lágrimas, suspiros e gritos de dor até dos que se consideram os mais machos, os intocáveis. E tratam a emoção como coisa de mulher; para os fracos. E estes, são os que mais se esvaem, se entregam, se deprimem com a derrota, o desalento das frustrações futebolísticas...
Fico vendo tudo isto e pensando: - Pobre humanidade, tão leiga, incauta e inocente... coitadinha! A esta altura da evolução da ciência, da tecnologia, de tantas idéias revolucionárias e o ser humano ainda continua submisso e ingênuo a esta barbárie psicológica e social, absolutamente contra a sociedade, a economia e as pessoas. Um cinismo muito bem estruturado para enganar principalmente as classes populares, os pobres, o povo que trabalha, os donos das mãos que alimentam os habitantes da terra.
A vida, é lógico, seria outra se as pessoas gastassem a metade dos neurônios e da energia mental e física que colocam a serviço do futebol discutindo o preço (como eram vendidos os escravos de luxo), o salário do jogador como se fosse o deles. Se preocupando com os lances do jogo, a postura do juiz, a vitória de não sei quem. Ao invés disso, deveriam pensar a política, a economia, o mercado de trabalho, os impostos e taxas, o preço do aroz, do feijão, do aluguél, dos remédios, a péssima qualidade da educação, enfim, os problemas reais que envolvem a vida humana em sociedade.
Será que elas nem de leve desconfiam que o futebol - e os demais esportes competitivos, também - existe inclusive para isto. Para lançar uma nuvem de fumaça entre o indivíduo e os conflitos sociais, a corrupção, o uso fácil das massas, a exploração das mulheres, crianças, dos trabalhadores, a negação dos direitos humanos, da dignidade, da cidadania. Loucas de êxtase, elas não conseguem perceber o crime que se esconde por trás das estratégias do futebol, das negociatas que o envolvem, inclusive na simbologia do jogo, na competição entre machos que chutam, ferem, tomam a qualquer custo para aumentarem vantagens próprias.
Não enxergam os coitados que a própria vida também é conduzida da mesma forma, da luta de vencedores engolindo vencidos e colocam no meio da arena o futebol, justamente para ocultar o conflito, neutralizar consciências, alienar as pessoas.
A ficha de ninguém cai? Será que é tão maravilhoso assim ver um bando, uma chusma de suados e fedorentos correndo atrás de uma bola? Querendo tomá-la a qualquer custo, competindo, chutando, e, de vez enquando, fazer aquela rede tremer como uma péssoa doente? Não é muito pouco e pobre frente a complexidade da vida, os problemas que enfrentamos, as dores, os sofrimentos, os conflitos do mundo?
Pensando desta forma, de fato o futebol é muito rico. Não só de maneira simbólica, mas, também, de forma concreta. É riquíssimo em estratégias para manipular e tornar fácil o abuso das massas, das galeras, das torcidas cegas.
Quem vibra tanto numa partida, dá socos e urros, espuma o canto da boca para xingar o juiz e os jogadores adversários durante uma partida de futebol, jamais terá ânimo ou disposição para analisar as questões vivenciais mais sérias. Será incapaz de perceber se está ou não sendo usurpado pelos impostos, as leis, o governo, os patrões, os afortunados, os políticos miseravelmente corruptos. Será uma presa fácil ao jugo exterminador das elites capitalistas. Então, na universalização do futebol são sempre elas que ganham. E o seu placar deve marcar no mínimo uns dez a zero para elas, para as elites, que, satisfeitas têm mais este recurso em seu favor e fazem de tudo para perpetuá-lo.
Walter Bracht, um cientista brasileiro da motricidade humana, afirma em seu importante ensaio intitulado: "A criança que pratica esporte respeita as regras do jogo...capitalista"... Quando nos diz que "cumprindo o papel de reforçar a estereotipação do comportamento masculino, o futebol tem contribuido enormemente para o adestramento mental e físico necessário para a preparação e a manutenção da força de trabalho necessária aos interesses da classe dominante." E continua : " o aprendizado do futebol enfatiza o respeito incondicional e irrefletido às regras e dá a estas um caráter estático e inquestionável. O que não leva à reflexão e ao questionamento, mas sim, à acomodação, forjando um conformista feliz e eficiente. Nele, o aprender as regras significa reconhecer e aceitar regras pré-fixadas. Pois o comportamento inconformado à regra não leva a uma transformação do futebol, mas à imediata exclusão do indivíduo inconformado. No que entra a autoridade do juíz que, no inconsciente coletivo, representa os poderes sociais estabelecidos, o mito das autoridades a quem devemos toda a obediência"...
Ora, isto é, politicamente, um grande malefício contra a sociedade que quer e precisa se transformar para alçar os padrões mínimos da dignidade e da cidadania. E aí, estes ilustres senhores que dão sua vida a serviço do futebol, dele extraindo fortunas incalculáveis, status, prestígio e valores, em nenhum momento desconfiam que trabalham contra a sociedade, contra os humildes, os pobres, o povo. Não percebem, porque não querem. Porque enquadram o ser humano aos esquemas da exploração, da fome, da miséria, da violência. E assim, na mesma proporção em que a sociedade mais se oprime, mais aumentam os esquemas, as estratégias do futebol, dos jogos, campeonatos, torneios, copas, etc.
E mais, se numa partida, as duas equipes têm condições iguais para jogar? Então a que ganha é porque foi superior, mais preparada, mais dedicada e mereceu o mérito. O que, como num passe de mágica é repassado para o inconsciente das pessoas que internalizam uma sensação idêntica para as relações econômicas, sociais e do trabalho. Assim, "se o meu patrão é rico e bem-sucedido é porque ele é melhor do que eu. Estudou, se dedicou e merece o mérito. Pois nascemos em condições iguais." Onde se ocultam as relações de poder e as dicotomias socioeconônomicas, residindo aí o crime maior dos esportes competitivos: o de assassinar a consciência crítica das pessoas, tornando-as inocentes úteis a todos os processos exploratórios.
É preciso, para fixar melhor isto, criar líderes econômicos com salários arquimilionários, como os mitos do futebol, recebendo homenagens estonteantes, para quem são estendidos tapetes vermelhos enfrente aos maiores palácios do mundo. Vigiar dia e noite os astros, policiando suas vidas. Caso contrário, a coisa perde o sentido. Se o atleta, geralmente um beócio, um pateta, um bobo, se transforma numa pessoa comum. O futebol, sendo, como deveria, um instrumento lúdico para a distração, o lazer e a saúde, dexaria de ser este importante meio político de manipulação humana e social. Ajudando a manter a ostentação de poucos por meio da exploração de muitos. Assim, como todas as demais práticas sociais prestam um único serviço: o de aniquilar a percepção crítica para que os ricos continuem mais ricos, os explorados mais explorados, os pobres muito mais pobres e tudo permaneça como se fosse certo, justo e normal. Pois se no futebol ganha quem é o melhor, na vida também é assim e pronto.
É por isso que os poucos representantes cínicos das elites, barrigudos e impecavelmente bem-vestidos em seus ternos caríssimos, se apresentam com um indisfarçável sorriso nos lábios durante as comemorações das vitórias, as entregas de títulos, troféus e medalhas. Pois sabem que ali se escondem os mecanismos perversos de perpetuação das suas fortunas construídas às custas do suor dos torcedores, do sofrimento das galeras. Os profissionais do futebol e do esporte se vendem a estes déspotas degenerados para constituirem este espetáculo de horror. E o pior, acreditam piamente, juram que não. Ao contrário, afirmam que agem pelo povo sofrido, que amam o Brasil e que fazem tudo pelo país. Inclusive ganham medalhas, acumulam troféus em suas estantes dentro das mansões luxuosas compradas com os muitos milhões que ganham jogando bola como se isto fosse a coisa mais importante do mundo.
Mas um dia, não sei quando, há de despertar a verdade. E os trabalhadores do futebol, os grandes atletas e o povo desconfiarão desta imensa farsa. Deste crime com cara lúdica de palhaço drogado. Tomara que ainda seja tempo para a reversão de alguns processos. E que, apesar de tudo, a dignidade possa abrir suas imensas asas sobre todos. Para aí sim, podermos comemorar, nos abraçar, cantar e dançar pelas ruas, de alma lavada. E não mais como os bobalhões ridículos de hoje em dia, festejando a própria desgraça e sem se dar conta disso.
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Antonio da Costa Neto

sábado, 13 de dezembro de 2008

SILENCIA-SE A VOZ ILUMINADA DE MARILYN FERGUSON...




"No fundo sabemos que o outro lado de todo o medo é a liberdade."


(Marilyn Ferguson)

"...Hoje ela se ocupa da jardinagem do seu rancho lá nas nuvens. Onde se pode conversar, onde os anjinhos são cor de chope, onde se pode debruçar, vendo o mar....ah!...
Toca piano e a virgem canta. Diz pro menino: - Tia Memim!..
E aos seus amigos que ficaram, um portador há de levar: um par de asas e um pára-quedas pra quem quiser visitá-la..."
(Guinga e Aldir Blanc - 'adaptado')



Morre inesperadamente em 19 de outubro de 2008, provavelmente vítima de ataque cardíaco, Marilyn Ferguson. Cala-se assim a grande e iluminada voz. Eu, especialmente, tornei-me outra pessoa - com muitos defeitos, claro, mas com muito mais qualidades - depois que li, pela primeira de muitas vezes, seu livro A conspiração aquariana - transformações pessoais e institucionais no final do século XX. Um trabalho maravilhoso, encantador, uma lição sobre o que o mundo mais precisa: o amor. O verdadeiro. Amor pela vida, o planeta, as pessoas, a natureza, os bichos. Amor pelos amigos e inimigos. Marilyn ensinava a amar. Uma mulher, uma alma especialmente iluminada, cativante, calorosa, voltada para o bem das pessoas e para a melhoria do mundo.
Nascida em 05 de abril de 1938, em Gran Juction, Colorado. Tornou-se jornalista e conhecida mundialmente como fundadora da psicologia humanística, sendo também ganhadora de vários prêmios honorários. Influenciou muito o trabalho ecológico do Vice-Presidente Al Gore, um participante da sua rede informal: justamente, a conspiração aquariana.
Desde muito jovem trabalhou como assessora jurídica e se tornou autora de poesias e outros contos publicados em várias revistas. Mais tarde, escreveu artigos depois de viver por um curto período de tempo em Houston, Texas, mudando-se definitivamente para a Califórnia.
Publicou seu primeiro livro sobre economia doméstica, com seu segundo marido, Mike Ferguson em 1968. Pouco depois, veio a desenvolver um interesse duradouro pelo que chamou de potencial humano, onde se notabilizou pelo estudo sobre o cérebro e suas implicações com a criatividade, a aprendizagem e o bem-estar, o que a inspirou para escrever A revolução do cérebro, considerado um dos maiores e melhores estudos acadêmicos deste sumário de descobertas de idéias dentro da chamada vanguarda científica.
Ao tempo de sua morte escreveu Chopra: "Ferguson poderá descansar no conhecimento de que um divisor de água tinha sido ultrapassado e que a sua liderança absolutamente revolucionária tinha, de forma constante, em todo o mundo ganhado força em todas as gerações desde que o livro fora escrito."
O seu pensamento reflete a visão holística de renovação dos valores fundamentais de nossa sociedade, por meio de uma profunda e enigmática mudança de paradigma. Era a "era de aquarius", onde o ser humano percebe a sua íntima união com o holos, o todo, formando uma única realidade, dando a exata origem à Nova Era: um tempo de compreensão, amor e bondade, cumprindo-se o verdadeiro destino do ser humano no mundo.
Marilyn parte sorrindo porque deixa a sua marca nos mais de 100 milhões de exemplares vendidos de sua magnifíca criação. Seus ensinamentos fazendo transpirar e conspirar sonhos de dignidade, justiça, beleza, ar respirável, transformando a terra em paraíso. Difundindo o supremo bem entre as pessoas, saneando a grande aventura da vida. Plena, vasta e eterna, para todos.
E isto tem que fazer a diferença. Os frutos doces e suculentos das muitas árvores plantadas pelas suas mãos tão sábias ainda serão colhidos e saboreados por esta humanidade inteira tão sequiosa e necessitada de cada um deles. Fica a lição, o grande sonho, a força transformadora traduzida em poesia e arte, como bálsamo contra todos os sofrimentos impostos aos que vivem.
Minha homenagem a esta musa, irmã, parceira conspiradora. Certamente ela irá plantar flores e colorir mais o ceu dando-lhe mais vida, sons, suavidade, harmonias, belezas. A esta hora, junto a Deus, ela já deve ter sua escolinha para alfabetizar anjos. Continuando sua missão, sua saga de bondades. Até breve, irmazinha universal. Continuemos conspirando juntos nesta nossa família maravilhosa. Em que de mãos dadas, gente, luz, paz e harmonia congreguem a ciranda que segue a sua maestria.
Repouse e nos espere. Sábia dos sonhos, estrela, musa, fada. Madrinha do encantamento. O ceu sorri pleno com a sua chegada, ampliando com isto a rede do amor, da bondade, das coisas boas e belas que você ensinou o mundo inteiro a viver. De forma tão intensa como a luz do seu sorriso infinito. O sorriso dos poucos que podem ensinar e melhorar anjos.
Até breve! Espere por nós,
minha irmãzinha cósmica!!!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O BRASIL É PEÇA-CHAVE EM UM NOVO JOGO MUNDIAL



Por:
Hazel Henderson



O capital financeiro do Brasil e sua maior cidade estão vibrando com entusiasmo e com um sentido de novos começos e oportunidades para impulsionar um novo modelo de desenvolvimento além do "Consenso de Washington".Vinte anos atrás, eu descrevi (Futures Research Quarterly, 1985) como a China estaria aparecendo como um novo e importante player mundial com um modelo cultural único de desenvolvimento. Hoje, o Brasil, já a oitava maior economia do mundo, também já aparece como um ator poderosamente global com recursos culturais únicos que fazem par com seus fartos ativos naturais.
Enquanto a China oferece ativos humanos incomparáveis com suas 1.2 bilhões de pessoas hábeis e engenhosas, seus recursos naturais estão depauperados. Os 170 milhões de brasileiros desfrutam de auto-suficiência energética, milhares de quilômetros de praias gloriosas, terra agrícola rica e abundante, um clima benigno, esmeraldas e outros recursos minerais preciosos, além de depositar incomparavelmente a biodiversidade mundial.
A eleição do Presidente Luis Inácio Lula da Silva num processo democrático e civilizado revelou um novo modelo para os índices democráticos mundiais. Um novo sentido de esperança, solidariedade e proposta nacional permeia o Brasil - um gigante continental similar em tamanho com o seu vizinho Norte-americano, os Estados Unidos. Enquanto isso, análises econômicas obsoletas de mercados financeiros e do Fundo Monetário Internacional (FMI) não podem ver a riqueza real e os recursos do Brasil melhor do que entenderam os ativos culturais da China vinte anos atrás.
Enclausurado no estreito "economismo" do Consenso de Washington, os analistas financeiros vêem somente indicadores monetários: habilidade para servir a dívida externa e taxas de crescimento do PIB - entretanto social e ecologicamente destrutivas.O Brasil tem problemas reais: educar seus cidadãos criativos para a Era da Informação; criar mais empregos e moradias; diminuir suas grandes distâncias sociais entre ricos e pobres e reestruturar sua economia doméstica. O Brasil que o FMI e os financistas focalizam é o Brasil do déficit que representa 60% de seu PIB; risco cambial; crescimento do PIB e taxa de inflação, baseando-se mais nas estatísticas econômicas deficitárias do que na real situação do Brasil e seus enormes potenciais.
A nova administração do Presidente Lula da Silva abraça um novo pensamento e propostas inovadoras, com programas que vão desde o globalmente reconhecida "Bolsa Escola" do ex- ministro da Educação Cristovam Buarque, até os novos modelos de desenvolvimento sustentável adotados pelos mais destacados pensadores e sua comunidade empresarial. Fiquei encantada com a dimensão do novo entendimento com relação à necessidade de se tomar decisões governamentais e empresariais com indicadores mais amplos, mais sistêmicos e científicos.Uma nova iniciativa, liderada por grupos de empresários, incluindo o influente Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e a Fundação Getulio Vargas.
Presidentes de importantes companhias brasileiras e grupos da sociedade civil, irão lançar uma grande conferência internacional em Outubro de 2003. Essa conferência irá reunir estatísticos e acadêmicos brasileiros de várias disciplinas com colegas da Europa, América do Norte e Ásia, que tiveram iniciativas pioneiras em novas contabilidades nacionais, indicadores de desenvolvimento sustentável e qualidade de vida, assim como métodos contábeis empresariais de ponta.Por meio dessas medidas, o capital social e ecológico do Brasil estariam sendo agregado, juntamente com a contabilidade similar a infra-estruturas publicamente financiadas (que os Estados Unidos inseriram em suas contas nacionais a partir de 1996).
Isto iria equilibrar a dívida pública brasileira com esses ativos, da mesma maneira que essa correção contável inseriu um terço do superávit orçamentário americano entre 1996 e 2000. O Canadá foi atrás da medida em 1999 e saiu de um déficit orçamentário para um superávit de 50 bilhões de dólares canadenses. Outras correções ainda não realizadas pelos Estados Unidos exigem uma re-categorização da saúde e educação, que passam de "despesas" a investimentos no capital humano.O novo Brasil está tomando um rumo que vai além do Consenso de Washington.
O novo modelo de desenvolvimento será acionado pelo investimento nos seus ativos intelectuais e humanos enquanto crescem sua robusta indústria local e a capitalização de novos setores de sustentabilidade de sua economia: energia limpa renovável (a força hídrica já é a fonte energética dominante), eficiência no sistema de transportes e infraestrutura, tecnologias limpas, desenho urbano e inovações em muitos velhos setores industriais. Por exemplo, eu conheci o campus da Universidade Católica em Porto Alegre, que estará produzindo células fotovoltaicas altamente eficientes para o desenvolvimento energético de pequenas empresas e residências em regiões rurais.
Eu visitei os estados sulistas do Rio Grande do Sul e Paraná, que juntos com Santa Catarina, que receberam imigrantes europeus por 300 anos. Eles reproduziram pequenos e médios modelos remanescentes de empresas familiares tipicamente alemãs. Essas economias locais robustas garantem a maior parte dos empregos assim como um tipo de liderança empresarial com mentalidade civil que fazem de suas atraentes e bem planejadas cidades de Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis, mecas para os planejadores urbanos mundiais.
A visão das economias saudáveis de E.F. Schumacher, em que ele professa que "o pequeno é bonito" baseada no respeito às pessoas e à natureza, vive e floresce no Brasil - mas invisível às estatísticas macroeconômicas do FMI. Essa visão das economias locais prósperas e equitativas baseadas no capital da natureza, foi articulada em meu livro editado em 1981 "Política da Era Solar", assim que Ronald Reagan se tornou Presidente dos Estados Unidos. A visão de Reagan, compartilhada pela então primeira-ministra Margareth Thatcher, alicerçava as economias mundiais que estavam ingressando no século 21 olhando pelo espelho retrovisor: impondo Adam Smith e sua teoria de mercados da Inglaterra do século 18 sobre sociedades industriais complexas e interdependentes, jamais imaginadas por Adam Smith.
Desde os anos 80 Reagan-Thatcher, muitos danos foram causados aos recursos naturais e sociedades mundiais, através de privatizações submissas e globalização de mercados e comércio de corporações multinacionais seguindo esse modelo econômico obsoleto. Enquanto esses modelos estreitos de globalização estimulam rápidas mudanças tecnológicas - da explosão da Internet à biotecnologia - tais inovações tecnológicas são também nocivas.
Elas requerem inovações sociais concomitantes e controle democrático que promova seu desenvolvimento de maneira mais sensata. Enquanto trilhões foram desperdiçados em investimentos nesses setores nos anos 90, as enormes oportunidades nos setores sustentáveis foram negligenciadas pelos capitalistas americanos.Hoje, uma série de livros têm ajudado a articular minha visão do século 21 com informações baseadas em tecnologias em sintonia com ondas de luz da Era Solar - dos fotonicos, computadores óticos à biotecnologia, fotovoltaicos solares, energia de hidrogênio, transportes elétricos, setores de construção e manufatura. Ésses últimos livros, incluindo o Capital Natural de Paul Hawken, Amory e Hunter Lowis; Biomimicry de Janine Benyus; A Dança da Terra de Elisabeth Sahtouris e o Mundo Pós-corporativo de David Korten são amplamente lidos no Brasil.
Enquanto isso, os trabalhos do físico austríaco Fritjof Capra - O Ponto de Mutação e a Teia da Vida têm atraído muitos seguidores, incluindo os assessores do Presidente Lula da Silva. Portanto, descobri um novo paradigma sendo articulado no Brasil e amplamente debatido entre as organizações civis, governo e empresários, assim como na mídia de massa. Nos Estados Unidos, a mídia controlada comercialmente tem ignorado bastante esse debate a respeito da transição dos métodos industriais arcaicos baseados nos combustíveis fósseis para economias tecnológicas e pós-industriais, baseadas em maior eficiência de recursos, serviços e energia renovável.
Esse grande debate começou em Porto Alegre no ano 2000 e está agora se tornando público no Brasil. Os compromissos da Agenda 21 para corrigir as contas nacionais (PIB) e outros sistemas e modelos macroeconômicos obsoletos foram assinados por 170 países na Eco 92 no Rio de Janeiro. Assim que forem implementados, o FMI, os investidores e mercados financeiros terão que corrigir suas análises e modelos de custos para ativos de capital. Muitos já adotaram ferramentas de pesquisa tecnológica e financeira sofisticadas que contabilizam com mais precisão o capital humano, cultural, social e ecológico.
Essas ferramentas incluem a Iniciativa do Relatório Global (Global Reporting Initiative) em contabilidade corporativa; os critérios de performance corporativa do ISO 9000 e o ISO 14001; o SA 8000 e os parâmetros da OIT para excelência no mercado de trabalho, assim como os novos índices, limpos e éticos como no caso da BOVESPA (Brasil), London´s FTSE4Good, Grupo de Sustentabilidade da Dow Jones, os 400 Domini Social dos Estados Unidos e o Índice CALVIN do Grupo Calvert e os Indicadores de Qualidade de Vida Calvert-Henderson.
Como foi documentado pela Bovespa e por Peter Camejo em seu estudo Vantagem dos Investimentos Socialmente Responsáveis, fundador da empresa americana Progressive Asset Management, esses novos e mais completos indicadores normalmente superam os índices como Standard & Poors e outros de Wall Street.O Brasil pode se tornar um líder mundial na transição para a prosperidade sustentável e desenvolvimento humano. Meus ouvidos ainda sentem os ecos das universidades de Porto Alegre onde mais do que 100.000 delegados do mundo inteiro articularam formas de acelerar essa transição. "Um outro mundo é possível e alcançável!"

Quem é Hazel Henderson?

A autora tem seu ultimo livro recentemente editado no Brasil "Além da Globalização" pela Editora Cultrix. Ela deverá participar da conferência internacional que trará estatísticos do mundo todo para debater sobre novos indicadores de desenvolvimento sustentável e qualidade de vida, para redefinir os conceitos de progresso e prosperidade.
Hazel Henderson é uma futurista independente, colunista internacional e consultora de desenvolvimento sustentável. Como editora das publicações Futures (Reino Unidos) e WorldPaper (EUA), ela participa de muitos conselhos, inclusive do Worldwatch Institute e do Fundo Calvert de Investimento Social, onde ajudou a criar “Indicadores da Qualiodade de Vida Calvert-Henderson”. Foi assessora da National Science Foundation e dos US Office of Technology Assessment de 1974 até 1980. É autora de diversos livros, entre eles Transcedendo Economia, Construindo um Mundo Onde Todos Ganhem (publicado pela Editora Cultrix), Paradigms in Progress, Creating Alternative Futures, The Politics of the Solar Age, The United Nations: Policy and Financing Alternative e Redefining Wealth and Alternatives. Para maiores detalhes visite o site:
http://www.hazelhenderson.com
Modelando Uma Economia Global SustentávelNeste livro, além da Globalização, Hazel Henderson faz uma critica à globalização especulativa, que ocorre à custa dos empreendimentos e das formas de vida mais locais e reais. Ela defende o uso do pensamento sistêmico e de uma abordagem mais holística como caminhos para a ruptura com o pensamento econômico convencional, preso a uma visão estreita de mercados e de PIB. Ao mesmo tempo, a autora oferece uma nova visão panorâmica das mudanças necessárias para uma nova economia global que promova a justiça e a sustentabilidade em todo os níveis , do pessoal e local ao global.
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Versão para o português deste artigo: Rosa Alegria, representante de Hazel Henderson no Brasil.

sábado, 6 de dezembro de 2008

O ESTOTEANTE MIGUEL FALABELA




Sempre tive uma especial antipatia por certos artistas da Globo. Alguns eu não suporto mesmo. Adriana que não Esteves, eu detestava até ela fazer a Catarina de O cravo e a rosa, por este personagem eu me apaixonei, mas foi só. Agora de Letícia Sabatella, aquela sem sal, não há nada no mundo que me faça gostar. Ela é fria, irritante. Jean, do BBB, não é bem artista, mas esse se eu encontrar um dia, eu mato sem pensar. Na hora, com um tiro no olho que é pra fazer uma tenda da pele. Agora, Claudia Raia e em especial a tal de Débora Falabela, esta então eu odeio. Com a cara de peixe morto, um olhar vazio, gelado. Tudo que eu queria era encontrá-la pra dizer um monte de desaforos, fazer um desabafo carregado dos palavrões mais horríveis e sair batendo a porta e ela, sem entender absolutamente nada. Coitada! Ela só iria entender mesmo quando chegasse no inferno...
Acho que até por osmose e mesmo por causa do nome, Miguel Falabela sempre encabeçou desde o início esta minha lista de minhas "personas non gratas" no mais extremo sentido: prepotente, metido a besta, intelectualzinho de merda. Arrogante ao extremo, professor de Deus. Ele se acha e só quer ser o que a folhinha não marca: ator, autor, diretor, humorista, se exibe no cinema, no teatro, na televisão. O cara se mete em tudo... Um babaca. Um extremo bam-bam-bam do nada, como geralmente o é quem quer ser e saber de tudo. Pois é sempre quem não sabe de nada.
Sabendo disso um amigo meu trouxe de gozação, de uma de suas viagens ao Rio, o livro "desta peça" intitulado: Pequenas alegrias. Só de ver, comecei a desdenhar, perguntando: - "Até escritor ele pensa que é? Era só o que faltava. Comecei a ler e para desdenhar a literaturzinha dele comecei a mudar o título da obra para Enormes desgraças e dizendo em becos e ruas que esta era a síntese da vida daquele "carnavalesco dos horrores malditos".... Pois se ele é criativo, eu também sou. Acho mesmo que é aí que mora o real problema.
Certa vez tive a oportunidade de conversar com o Miguel em Cataguases, uma cidade mineira bem próxima ao Rio de Janeiro, terra de Maria Alcina e de Humberto Mauro, dentre outros. Claro que o achei estremamente idiota. Naquela época em que ele fazia o Vídeo Show e sempre terminava o programa com uma reflexão filosófica, só querendo ser o Dalai Lama do brejo...
Bem, depois começou uma novela dele: A lua me disse. Foi quando comecei a mudar meus conceitos. Adorei a história, os personagens, as tramas, o clima do Beco da Baiúca, os atores escolhidos, etc. A única coisa que eu fazia era esperar a hora, tal era o meu encantamento. O Sai de baixo, as bincadeiras, o humor picante, inteligente, a sensibilidade do artista. Enfim, hoje sou o maior fã desta criatura. Ele é bom em tudo: um ator, produtor, diretor, humorista, autor, et. etc. etc. da mais extrema qualidade.
Queridíssimo no meio artístico, bonito, elegante, debochado, bom de bola, bom de tudo. Miguel Falabela é três quartos da TV, do teatro e das artes brasileiras. Sem ele, estaríamos muito atrás neste campo do conhecimento e do fazer humano. Hoje, Negócio da China é algo que me deixa literalmente com água na boca. Me embobece. Ele tece as coisas com engenho, com arte, perspicácia, sensatez, sensibilidade e domínio técnico. O texto é leve, os personagens maravilhosos, o elenco, sob medida. Mesmo com altos e baixos inesperados, ele consegue dar o nó, dar a volta. Um sacana que pisca o olho e sabe que vai dar o melhor dos jeitos. E o núcleo dos portugueses? Uma absoluta delícia!
Em Toma lá dá cá...o único humor de verdade da televisão ele, como ninguém inventa coisas, bola participações especiais mais incríveis. Ajuda a segurar a onda e o sucesso do programa. Além de ser um Mário Jorge que, puta que pariu... Só ele mesmo pra fazer. Ele é ótimo, singalarmente maravilhoso. Seu seu admirador de carteirinha. Número zero. Me impressiona seu trabalho, sua garra, presença, força, competência, caráter. Certamente trata-se de um ser humano especial. Uma dessas pessoas maravilhosas que escapa aos olhos de Deus e vem parar na terra. Pra felicidade nossa: os mortais comuns e que precisamos deles para dar graça e sabor a nossas vidas.
Falabela, um gênio!
Ave Miguel!...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

FOI-SE MAIS UM ANO...

Foi-se mais um ano.
E com ele se foi uma quantidade incalculável de amores.
Cores, idades, alguns amigos, não sei quantos neurônios.
Memórias, remorsos, desvarios, cabelos, ilusões, alegrias, tristezas.
Várias certezas (se não me engano, treze).
Algumas verdades indiscutíveis.
Umas calças que não fecham mais.
E aquele vestido que eu gostava tanto.
Foi-se o meu gosto por vitrines.
Foi-se quase todo meu vidro de perfume.
Foi-se meu costume de imaginar asneiras à noite.
Foi-se meu forte instinto de acreditar no que me dizem.
Foi-se meu açucareiro de porcelana. Que pena.
Foi-se o tempo em que uma simples farra não significava
necessariamente uma condenação sumária ao dia subseqüente.
Foi-se a poupança. O troquinho da gaveta.
Foi-se aquele antigo projeto.
Foram-se exatamente nove vírgula seis por cento
de todas as minhas esperanças.
Será que você não se cansa tempo?
Não pensa em tirar férias, dar uma pausa, respirar um pouco?
Não lhe agrada a idéia de mudar o andamento, diminuir o ritmo?
Em vez de tic-tac, inventar uma palavra mais comprida
para compasso, mantra, ícone, diagrama?
Me diz sinceramente: para que tanta pressa?
Anda difícil acompanhar seus passos ultimamente.
Mas já é dezembro.
Foi-se mais um ano.
(Texto de Adriana Falcão, in O doido da garrafa)

domingo, 30 de novembro de 2008

NOVA RECEITA PARA UM NOVO ANO NOVO...


O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos. Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio... Você começará a perder noção do tempo. Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sangüínea.
Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol. Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar: nosso cérebro é extremamente otimizado. Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho.
Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade. Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia e portanto, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo. É quando você se sente mais vivo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e "apagando" as experiências duplicadas.
Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente. Quando começamos a dirigir automóveis, tudo parece muito complicado, nossa atenção precisa ser requisitada ao máximo. Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular ao mesmo tempo. Como acontece? Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente). O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa, no lugar de repetir realmente a experiência).
Em outras palavras, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa... São apagados de sua noção de passagem do tempo... Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida. Conforme envelhecemos, as coisas começam a se repetir- as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações...
Enfim... as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo. Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década. Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a... r-o-t-i-n-a. Não me entenda mal. A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa. Mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.
Felizmente há um antídoto para a aceleração do tempo: M &M (Mude e Marque). Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos. Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte). E marque com fotos, cartões postais e cartas. Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário para eles e para você (marcando o evento e diferenciando o dia).
Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais. Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo, bota-foras. Participe do aniversário de formatura de sua turma. Visite parentes distantes, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal. Vá a shows, cozinhe uma receita original, tirada de um livro novo. Escolha roupas inusitadas, não pinte a casa da mesma cor, faça diferente.
Beije e morda sua paixão, mas não tire pedaços e viva com ela momentos loucos, estarrecedores, lúdicos, radicais. Vá a mercados alternativos, leia livros escandalosos aos olhos tolos de muita gente. Busque experiências novas. Não seja igual a ninguém. Se tiver algum dinheiro - não precisa muito - especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países. Abandone o slogan do "politicamente correto", seja tudo, menos, careta. Veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos... em outras palavras... E, se possível, usando outros métodos, mas...V-I-V-A I-N-T-E-N-S-A-M-E-N-T-E.
Porque se você viver intensamente, o tempo vai parecer mais longo. E se tiver a sorte de estar casado(a) com alguém disposto(a) a viver e buscar coisas surpreendentes, seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais v-i-v-o... do que a maioria dos livros da vida que existem por aí. Fale palavrões, escreva versos, pinte quadros. Cerque-se de amigos com gostos especiais, vindos de lugares outros, com religiões atípicas e que gostam de comidas com sabores exóticos. Gente que sabe respirar em falsete, faz amor de todas as formas, em lugares ousados, correm riscos, amam aventuras e gargalham de desmaiar frente a quaisquer preconceitos... Dê preferências às que riem de si mesmas, que não têm dificuldades para enfrentarem o tanque de roupas, vender cachorro-quente, lavar banheiros, etc.
Lembre-se que as melhores companhias são as pessoas descontraídas, que gostam de cachorros, de gatos, que falam alto e que saem de sandálias havaianas mesmo para serem fotografadas para um jornal importante. Amizades com pessoas assim não têm preço.
Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é? Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida. Abomine a mesmice, peça demissão da mediocridade. Nós só vivemos uma vez e é preciso que seja com a emoção possível. E esta só vem quando quando não perdemos a oprtunidade de fazer o bem e não servimos de obstáculo para quem quer e insiste loucamente em fazê-lo.

(Airton Luiz Mendonça - com adaptações minhas)

quarta-feira, 26 de novembro de 2008



E me deixo levar

no comboio da vida,

onde acontecimentos

correm soltos

pelos corredores,

ora sombrios,

ora iluminados,

deixando marcas

em nossos olhos mortos.

_________

Lindo este poema da minha amiga silvaniense Leonice Jacob. Como o saudoso Aldair Aires, eu também gostaria muito de tê-lo escrito. Parabéns.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

EU SEI, MAS NÃO DEVIA...

Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz.
E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos. A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta. A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
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O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A LEI DA MÉDIA-EXTREMA RAZÃO


Trata-se da Lei Matemática criada e difundida por Malba Tahan, em seu livro encantador: As maravilhas da matemática. Nele, o autor explica a interação de todos os fenômenos da natureza, em ciclos contínuos e infinitos, por meio dos quais se constitui o universo, sempre respeitando a percentagem – em que, 100% (cem por cento) logicamente representa a totalidade, numa proporção sempre presente de 38% (trinta e oito por cento) por 62% (sessenta e dois por cento). Gerando, assim, o equilíbrio perfeito, dinâmico e permanente em todos os sentidos. Buscando, por sua vez, a harmonia da natureza e das relações universais em toda a história do mundo e das civilizações.
Complicado, não? Mas não se preocupe, vamos explicar com calma e você fique à vontade para perguntar, questionar, duvidar, esclarecer, etc. Pois se não for desta forma, como tratamos de questões um tanto metafísicas, ninguém vai entender nada, ficará ainda mais confuso e o nosso trabalho todo terá ido por terra.
Assim é, por exemplo, as medidas que formam o corpo humano. Vejamos, um rosto devidamente equilibrado terá uma medida em cumprimento aproximadamente de 62% sendo os restantes 38%, a largura. Será, então, harmonioso, e com um frescor estético bem agradável. E, à medida que começa a fugir disto, fica estranho, levando a pessoa a procurar o tratamento para emagrecer ou engordar, a dieta, a ginástica, buscando a forma anterior que quando deixa de existir passa a incomodar.
E esta medida vai se repetindo sucessivamente, por exemplo, da distância do nariz para o queixo, tendo no meio dos dois a boca que irá definir mais ou menos as mesmas proporções, o que repete em relação aos olhos e destes para a parte superior da testa, onde começa o couro cabeludo.
Se analisarmos os membros superiores, a mão mais o ante-braço e o braço irá dar justamente este tamanho e esta proporção. E ela, por sua vez se equilibra com o corpo e assim sucessivamente. E ainda se repete com as juntas dos dedos em que a medida de uma é 38% e das outras duas, 62%. O mesmo se dá em relação aos ombros e o pescoço, a altura dos olhos em relação à testa e a parte inferior do rosto. Enfim, tais medidas vão se repetindo infinitamente, criando um corpo harmonioso.
Repare agora os membros inferiores e a posição do joelho em relação à perna, do umbigo acima e abaixo do corpo, chegando com esta análise à sua conclusão.
Uma folha de papel A-4, como outro exemplo, tem exatamente estas medidas, o que lhe confere um tamanho útil, de fácil manejo e transporte, e, igualmente de utilização para escrever algo, fazer um embrulho e qualquer outra utilidade. Repare também nas medidas que dão harmonia às portas, a dimensão em largura e cumprimento dos carros e sua adequação às garagens, às vagas dos estacionamentos e a união com outros veículos nas ruas.
A relação com o a natureza também funciona mais ou menos desta forma. Note, por exemplo a diferenciação durante o ano dos horários do amanhecer e do anoitecer que sempre acontecem, não no mesmo, mas em horários bastante aproximados. O tamanho dos dias, das noites, das estações do ano que não são iguais mas nem tão distantes, obedecendo ao equilíbrio físico de 38 por 62 por cento na distribuição do tempo e das condições atmosféricas, temporais, etc.
A extensão dos conflitos e das idéias, apenas é suportável o máximo de 62 por cento da contradição, da briga, da polêmica, a partir daí se dá a agressão física, o rompimento das amizades, a separação nos casamentos, as demissões nas empresas e assim por diante.
Tudo que respeita tal equilíbrio funciona bem e perfeitamente. Mas a extrema ganância entre os homens não deixa que ele aconteça nas relações humanas. Assim os patrões querem ganhar mais de 90% do que os trabalhadores produzem e, estes, ficam com os míseros 10% restantes. E como são muitos, permanecem pobres, miseráveis, passam fome e se rebelam contra seus patrões, criando o desgaste, a violência, a guerra e outros males que afligem tanto a humanidade inteira.
Os maridos querem mandar mais do que devem em suas esposas, os professores em seus alunos, o governo em seus governados e por aí vai. A grande maioria das dores e dos sofrimentos do mundo vêm justamente desta dificuldade extrema que tem o ser humano de entender este fenômeno e ter força e vontade política para transformá-lo.
Daqui para a frente comece a fazer, você a diferença. Passe a reparar nas relações em sua volta e até nas suas próprias. Dentro de sua casa, com sua família, filhos, amores, colegas, com o mundo.
Podemos corrigir e “bronqear” nossos filhos sim, mas numa proporção onde não fira as suas suscetibilidades, seu amor próprio, sua conduta contra nós mesmos. Se a criança aprontou alguma e você julga que ela deva levar 5 palmadas, receber uma bronca de 20 minutos e ficar muitos dias sem o direito de usar o computador, repense. Dê duas palmadas mais leves, chame a atenção dela por no máximo 10 minutos e apenas diminua o tempo para que ela fique no computador. Mas não o tire.
Com certeza a criança perceberá a sua bondade e compreensão e isto se reverterá em ganhos concretos para você em todos os sentidos. Pode ter certeza disso.
Pois é mais comum do que gostaríamos as notícias sobre conflitos familiares mais graves envolvendo mortes e outros crimes absolutamente desnecessários. Causando sofrimentos e lágrimas que poderiam ser economizados, se não fosse a turbulência dos pais em descontar nos filhos seus revezes e frustrações.
E o que cada um de nós tem a ver com isso? A resposta é: absolutamente tudo. Pois o poder de decisão deve ser assim dividido e, principalmente, no ato de executar todas as coisas. Pois, queiramos ou não, elas interferem na vida de todos. Pois somos sempre, agentes de transformação à medida em que falamos, nos calamos, nos omitimos ou fazemos alguma coisa. Devemos, da mesma forma, redistribuir o bem-estar, as benesses, os processos éticos e seus resultantes humanos e sociais. Por enquanto, os planos que são feitos pela grande maioria das pessoas são sempre para que poucos ganhem demasiadamente em termos de tudo, e, conseqüentemente, para que muitos percam, da forma mais fria, louca e irresponsável. Gerando o caos no mundo, as crises os sofrimentos, dos quais, todos nós somos a um só tempo, algozes e vítimas em potencial.
Como autores e atores do sistema maior que integra toda a sociedade, somos inteiramente responsáveis pela sua conduta, execução e deveríamos, com isso, promover o bem de todos. Investindo sempre na melhoria da qualidade de vida dos seres vivos sobre a terra. Este sim, o único motivo, meio e justificativa para que a ciência, suas práticas co-existam. E tudo deveria ser feito por nós. Pois, definitivamente não viemos ao mundo a passeio. E não podemos, sob pena de pagarmos um altíssimo preço, perder, de nenhuma forma, esta viagem maravilhosa. Este presente luminoso e encantador que, por sorte, temos mantido até hoje.
_____________
Antonio da Costa Neto

domingo, 9 de novembro de 2008


A densidade do ser,
do corpo.
Da intimidade recôndita
entre tecidos,
motivos e cores
que escondem a beleza.
O íntimo lar do desejo
que se quer ver, tocar,
lamber,
rasgar nos dentes.
Do cheiro
da alma
que louca e quente, se esvai.
Como luz, como ar
que se move em forma de vento
de vendaval,
de um tufão uivante
entre amores grossos
e suores íntimos.
Que iluminam os pelos e acendem o fogo
dentro do outro, aos tombos,
aos urros e arrancos.
E por fora de ambos
o incêndio destruidor que contamina,
se alarga, reduz a cinza, à essência do prazer.
Que faz brotar e encher o mundo que se desfaz e refaz
num reflexo misterioso e místico
(relâmpagos e tempestades que causam medos e provocam
gritos, horrores sucessivos, bocejos e sentidos lânguidos)
em novos e densos desejos.
De ter, de ser o outro.
Da delícia agridoce que vem e vai de dentro.
Rasgando, ferindo como o animal feroz.
Que lambe com gula, com fome,
o sangue, os odores, os vários líquidos
com que brindam o auge,
o trilintar dos corpos, das bocas, dos órgãos.
E agora suspiros incandescentes,
amplos,
que se diluem, se misturam.
Se tornam distantes, longínqüos,
silenciosos.
Mortos...
E que se banham com o sonho
límpido da luz do dia que surge
enfeitada por sorrisos nos semblantes

silenciosos.
Mantendo segredos.
Voando leve entre núvens,
pássaros, borboletas coloridas
E anjos repletos de bênçãos,
sequiosos de vontade.
(Antonio da Costa Neto)

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

SOU DE ESCORPIÃO SIM. E DAÍ?...


Não se deixe levar pelo preconceito. Se você cruzar com um tipo honesto, corajoso, íntegro, intenso, magnético, profundo, reservado, perspicaz, enigmático e fiel até que a morte os separe, corra e agarre esta oportunidade, porque você terá topado com um escorpionino. Seu astrólogo diz que os escorpiões são traiçoeiros? Mude de astrólogo, porque o escorpião tem um senso de lealdade só comparável ao de um mafioso siciliano - se você mantiver sua palavra, ele manterá a dele até debaixo de uma saraivada de balas.

Sua melhor amiga diz que os escorpiões são don-juans incuráveis? Troque de amiga, porque o escorpião, embora tremendamente ligado ao sexo, é tão seletivo que prefere uma vida monástica a transar com qualquer um. Você andou lendo que o escorpião é um dissimulado? Largue esse livro pelo último de Agatha Christie, pois a notória reserva escorpionina não tem nada a ver com hipocrisia.

Um escorpião nunca mente, só omite - e na maior parte das vezes está repleto de razões, porque sua fabulosa antena psíquica pescou que o interlocutor em questão não é lá muito confiável. Esta, talvez, seja a principal característica deste signo cujo mito mais esclarecedor é o de Lúcifer, o anjo decaído, não por noitadas em excesso, mas por uma lucidez além dos limites: o grande pecado do escorpião, como o do ex-anjo, é um orgulho excessivo. Excessivo, mas não descabido.

O probleminha de Lúcifer era que enxergava certas razões ocultas por trás da cantoria dos querubins - um desejozinho secreto de promoção naquele arcanjo que emitia uma nota mais aguda. Por isso ele acabou expulso do Paraíso, onde críticas não são facilmente digeridas. A mesma complicada sina ocorre com os terrenos escorpioninos: como eles são providos de uma espécie de olhar de raio X, que detecta as piores intenções até nos melhores sorrisos, acabam se tornando ossos duros de roer.
Um escorpionino tem um faro imcomparável para imposturas, o que lhe torna difícil a vida em sociedade. Isto o transforma, muitas vezes, num introspectivo de cenho franzido: sua capacidade de captar algo de podre no reino da Dinamarca não tem paralelo, em todo zodíaco e em qualquer estatística. Mas se o escorpião saca tudo, inclusive o pior de cada um, é porque tem uma sensibilidade que chega às raias do insuportável. O que o torna, também, muito solidário com o sofrimento alheio - nada de estranhar que Ghandi tenha ascendente em escorpião. Um escorpião nunca foge de problemas. Não fuja dele, portanto, a não ser que você queira passar o resto da vida bocejando entediado.

É sensível a doenças nos órgãos genitais, reprodutores e excretores (bexiga, uretra, intestino grosso, glândulas sexuais) e no nariz. Outros problemas podem ser a dificuldade de eliminação, disfunções no aparelho sexual, inflamações e ulcerações em geral. Eles geram descontentamento com as relações sociais, emocionalidade tensa, dispersão mental e tendência à destrutividade. O escorpião tem uma incontrolável tendência a se atormentar, culpando-se por tudo que dá errado a sua volta, e num de milhares de quilômetros além, Bósnia, Croácia e Cambodja incluídos.

Como ele jamais pega leve, nem quando está de férias, esta mania de carregar o mundo e seus males pode se tornar meio desconfortável para aqueles que o cercam, e pretendem apenas tomar mais uma bebidinha e prosear. Como, igualmente, um escorpião nunca se lamenta ou faz o papel de vítima - o que ocorre muito com os outros signos de água, peixes e câncer - é preciso se tornar um telepata para saber exatamente o que vai mal com seu escorpião de estimação. Se for uma mera insatisfação com tudo, deixe estar - isto não tem cura. Se for uma depressão profunda, daquelas que o arrastam para a cama (e não para fazer o que ele tanto gosta), algumas providências são necessárias.

Nada de terapias de apoio, porque um escorpião jamais vai acreditar que ele está OK e o mundo está OK. Uma terapia de choque é a mais recomendável: uma passagem só de ida para a Iugoslávia, para trabalhar num campo de refugiados, ou um passeio às seis da tarde por qualquer dos pontos das grandes capitais brasileiras onde se concentram os menores infratores vai ajudar a reconhecer que há outros infernos ainda piores que seu inferno interior. Um pouco menos arriscada é a técnica de auto-análise.

Todo escorpião é um investigador nato, e isto explica porque eles dão excelentes psicanalistas. Em contrapartida, dão péssimos pacientes, já que nunca vão superar completamente a sensação de que aquele camarada sentado na poltrona atrás do divã está calado porque, no fundo, sabe menos do que ele. O escorpião lucra mais se pagar uma faculdade de psicologia em vez de honorários de um psicólogo avulso. É claro que às vezes não se pode esperar cinco anos escolares para resolver uma crise. Mas crises, na verdade, não atrapalham este signo. Ao contrário, ele precisa delas para se reciclar periodicamente. E acaba sempre levantando, sacudindo a poeira e dando a volta por cima.

___________
Texto de Marília Pacheco Fiorillo e Marylou Simonsen, publicado no livro Use e abuse do seu signo. Editado pela LP&M: S. Paulo, 2008.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

SABED0RIA DE GOETHE


Todos os dias devíamos

ler um bom poema,

ouvir uma linda canção,

contemplar um belo quadro

e dizer algumas bonitas palavras.


(Goethe)

CLARISSE: DENSA E MARAVILHOSA


Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas.
Dos pensamentos mais complexos.
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um
penhasco que eu vou dizer: E daí?
Eu adoro voar!
____________

“Sou implícita. E quando vou me explicitar perco a úmida intimidade.”

___________

Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive
apenas do que é passível de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada.
Liberdade é pouco.
O que eu desejo ainda não tem nome.
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência
e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.
Porque há o direito ao grito, então eu grito.
Sou como você me vê ...
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
depende de quando e como você me vê passar.
Minha força está na solidão.
Não tenho medo nem de chuvas tempestivas
nem de grandes ventanias soltas,
pois eu também sou o escuro da noite.
O que obviamente não presta sempre me interessou muito.
Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito,
daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno
vôo e cai sem graça no chão.
À duração da minha existência dou uma significação
oculta que me ultrapassa.
Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo
passado, o presente e o futuro,
o tempo que lateja no tique-taque dos relógios.
Vivo no quase, no nunca e no sempre.
Quase, quase - e por um triz escapo.

(Clarisse Lispector)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

PROFESSOR, PARABÉNS PELO SEU DIA!...


Acho mesmo que estamos de parabéns.
Nós, os professores do mundo.
Mas também acredito que teríamos muito mais o que comemorar
se tivéssemos ensinando
as pessoas a modificarem o mundo e não apenas
a aperfeiçoarem o caos capitalista do ganho para poucos e
a conseqüente miséria para muitos a qualquer custo:
inclusive o da vida...
Se estivéssemos mais preocupados em constituir felicidades
e paz do que, propriamente, o lucro que enriquece os ricos...
Uma absoluta loucura contra nós mesmos...
Teríamos mais o que comemorar se entendêssemos
que as escolas, tal como ainda estão foram idealizadas
para conter a crítica, a sensibilidade, a capacidade de interagir
para a busca do que for melhor para todos.
Seríamos bem mais felizes se propagássemos o amor,
o bem-estar, a alegria de viver,
mais do que planilhas de gastos e controles de caixa.
E...parafraseando Rubem Alves:
"Bom professor não é o que dá uma boa aula explicando bem a matéria. Bom professor é o que transforma a aula em brinquedo, seduzindo o menino.
Uma vez seduzido o menino, não há quem o segure..."
E seduzir nossos meninos é liberar a criatividade,
o senso do viver com alegria, a conduta amorosa,
a crença vida, a conservação da natureza...
Etc...etc...etc...
Se fóssemos menos céticos e mais sensíveis,
menos ingênuos e mais abertos.
Se amolessêssemos mais corações
ao invés de trabalhar para endurecer os cérebros...
Aí sim, poderíamos gritar ao mundo:

P a r a b é n s P r o f e s s o r !. . .

Grande abraço! Reflitam comigo!

Antonio

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O NOME DELE É CHICO BUARQUE. FAVOR NÃO CONFUNDIR COM KELLY KEY!...


Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo por tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
E agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo por tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
E agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Tijolo por tijolo num desenho mágico
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Por esse pão prá comer, por esse chão prá dormir
A certidão prá nascer e a concessão prá sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir

Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair

Deus lhe pague

Pela mulher carpideira prá nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir

Deus lhe pague!...

(Chico Buarque“Construção / Deus lhe pague”)

sábado, 27 de setembro de 2008

PARABÉNS, SILVÂNIA!...


Todo mundo tem uma paixão secreta, acredito! Seja ela qual for. Mas sei também que todo mundo tem uma paixão explicita. E aqui venho deixar escancarada e clara uma das minhas. Domingo, 05 de outubro pode ser para muita gente uma data comum. Um dia sem nenhum brilho especial. Uma ou outra pessoa pode até puxar pela memória e ser pega de surpresa ao lembrar, ainda que de maneira atrasada, o aniversário de alguém. De um acontecimento marcante, um amor, um beijo, alguma coisa feliz, gratificante.
Eu, porém, vou mais longe, se me permitem. Vou voltar no tempo e arriscar algumas emoções. Pois, 05 de outubro é a data de aniversário da minha cidade natal. A minha amada Silvânia, a antiga e inesquecível Bonfim, de todos nós. "Terra que ensinou Goiás a ler, a ter cultura, sendo sua Atenas". Cidade que viveu tempos memoráveis do cinema. Onde olhos curiosos acompanhavam ansiosos o mundo que se descortinava frente às enormes telas do Cine Teatro Municipal e do Cinema do Seu Aurelino, na rua do Neves de Siqueira. Ou do teatro das freiras salesianas e da arte suprema e inesquecível de D. Nair Damásio.
Ali, muitos se conheceram e, possivelmente, se apaixonaram. Apertaram as mãos às escondidas, trocaram o primeiro beijo, a primeira carícia carregada de suspiro como se a vida quisesse imitar a arte. E conseguisse. Cidade que tem às margens a telúrica Estação Ferroviária, um por do sol poético. Cheiro do eucalipto, as águas do Rio Vermelho, as velhas histórias de Zé Caetano, Josito, D. Maria Teresa. Silvânia do saudoso Manezão, das figuras humanas tão suas, tão próprias: Hermínio Cotrim, Urbano Caetano, D. Fleuza Corrêa, Chico da Altina, Sinhô.
Silvânia, fragmentos de poemas, sempre inacabados. A voz da Salete encantando multidões. Gracinha do Acrísio, um misto de beleza, carisma, inteligência. Maria Érika, sua arte, sua força. Carmita, seu sorriso, sua máquina de costura, sua batalha incansável, por anos, até hoje, até sempre. Silvânia do Inácio, o anjo sem asas. Do Astrogildo, homem bom, sensível, bem-humorado, uma pessoa maravilhosa. Fazendo par com a sua Cota e ciranda com seus filhos e netos. Silvânia dos Damásios, de D. Darvina, minha eterna professora, com quem muito aprendi. Dos jardins paradisíacos de D. Inácia Leite. As fazendihas com suas porteiras rangendo, suas vacas, galinhas, hortas, flores ao vento. E, logicamente, dos Silva, que lhe deram o nome, a graça, o encantamento da simplicidade que tudo dignifica.
Que Tem os famosos colégios Anchieta, Nossa Senhora Auxiliadora e o Aprendizado Padre Lancísio. Além do José Paschoal, de educação rigorosa, desdobrando as tradições da clássica pedagogia, dos ensinamentos igualmente especiais e profundos como os suspiros, as saudades, a bondade no coração do seu povo. A Catedral Nossa Senhora do Rosário e a Igreja Matriz do Senhor do Bonfim, com sua pracinha de cidade de interior. Um coreto melancólico e solitário, que nos faz voltar no tempo. Terra de gente católica, que tem como símbolo da fé um Cristo de braços abertos.
Silvânia deve estar em festa. Antes estaria. E era festa das grandes. Os desfiles em comemoração a sua fundação, eram verdadeiros motivos de grandes expectativas. Os ensaios das "bandas" de cada escola se sucediam cansativos, mas cheios de entusiasmos. Cada um queria render sua homenagem. Numa das principais avenidas da cidade os dobrados emocionavam o público. Um amontoado de gente formava um verdadeiro corredor humano para ver o desfile passar. Alguns nem respiravam. Cada centímetro era disputadíssimo. E a cidade lá, acolhendo cada nota como prêmio de uma segura gratidão. Silvânia dos festivais, dos encontros de juventude, dos cursilhos de cristandade, das festas dos ex-alunos. Dos espetáculos, das semanas de retiro, dos jogos escolares. Os uniformes de gala, as gincanas.
As excursões para Aparecida, D. Rilza sorridente e amorosa. Dr. Helvécio atendendo as pessoas no seu casarão da Praça. Os ciprestes do quintal de D. Quetinha. A livraria da Nenzita, Vivin, Maria Preta fazendo graças. Os velórios das pessoas ricas. As pamonhadas, a feira ao lado do Céssi. Os pomares de jabuticabeiras, o rádio de D. Nestina sempre no último volume. Os anúncios do Ditão no alto-falante da igreja.
A visita da imagem do Divino Pai Eterno e toda gente animada decorando suas portas, iluminando a graça das toalhas brancas e bordadas ao calor das mãos humanas, calejadas, sofridas. A cidade que tem como um dos cartões postais a Praça do Rosário. Famosa por sua fonte luminosa onde todos se encontram durante o final de semana e ainda vivem ali os grandes carnavais. Os bailes do Clube Recreativo, as festas religiosas e profanas. A Avenida, o Bar Patropi, o saudoso Tôen do Clóvis...
A casa deliciosa de Seu Cipriano, onde íamos estudar entre paredes de adobo, terreiro de margaridas, cortinas estampadas ao vento. E aquele portão lá na rua, longe da casa onde a gente batia e ficava esperando a pessoa e o sorriso. Os meninos do Seu João de Oliveira, com quem eu até não me encontrava muito, mas até hoje, quando encontro qualquer um deles é uma festa tão grande, a demonstração de uma alegria tão imensa, que fico sem graça, emocionado e sem ar. Os filhos do Soguim e D. Laudicena. As nossas idas em sua casa para colher as uvas-do-Pará, uma delícia como poucas. Como não sentir saudades?
Silvânia dos Clubes Atenas e das Pedrinhas, do queridíssimo Padre Januário. Da AABB. E como não poderia deixar de lembrar aqui, Silvânia das galerias enormes do Anchieta, das festas juninas, da quadra de vôlei no meio da praça. A quadrilha lindamente marcada pela voz da Amelinha, do Toinho da Elpídia. Não se sabia o que era mais belo, se a dança, as roupas, a alegria dos casais ou a voz melodiosa de seus marcadores. Do relógio acertado pelo Tãozinho, do Zequita, D. Luiza Mestre, a Julina do Asilo, D. Preta do Hermelindo, Ivani, Antonio da Laura, D. Almira, Neném do Nego, Vó Cândida e inúmeros outros amores profundos e inesquecíveis. Impagáveis.
Silvânia de D. Inhazica, encantadora. Do Zé Caixeta, um grande prefeito, seguido de Zé Denisson, Zé Tavares, Milton, Adonias do Prado, Augusto Siqueira e tantos outros. Silvânia das festas maravilhosas de São Sebastião, do Divino, das comemorações da Paixão de Cristo, do Natal. O mês de maio, inteirinho dedicado à Maria. Silvânia de D. Josefina Batista, D. Nina. Lôpo Ramos, Tim, Moisés Umbelino, Pe. Pedro Celestino.  D. Miçana, Seu Clarido, Amelinha. Moisés Português, Seu  Oscar, Bendita de  Eva, Nigrinha do João Alfaiate... Das plantações de marmelo mais cheirosas dos que as noivas e o seu perfume invadia toda a pequena cidade durante as noites inteiras. E a gente acordava se deliciando e dando graças a Deus por aquele presente: motivo pra sorrir e agradecer sempre.
Silvânia do mel de Seu Brenner, do sorriso doce de D. Isaura, o mais eficaz dos remédios do hospital. Além das mãos mágicas do Dr. Thiago, um outro santo da nossa terra. O sino das igrejas, as músicas, as rezas de D. Tina Guimarães. A elegância de D. Didi Félix, a doçura de D. Teresinha Lobo. A poesia, a pureza, as madrugadas silenciosas e repletas de bênçãos para os dias que sempre chegavam radiantes, vindos das mãos de Deus. Os pedaços da cidade que adolesciam com a sua juventude a cada final de manhã, a cada nova primavera. Silvânia de tantas outras lembranças. Silvânia, minha paixão ensolarada, repleta de luz, de sonhos e poesias. Cheia da sutileza que transforma os homens em santos, as mulheres em anjos. Levando, enfim, todas as suas almas para o céu.
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Antonio da Costa Neto