sábado, 3 de julho de 2010

ATÉ QUE ENFIM...PERDEMOS A COPA!...


"Sinto vergonha de mim
Por ter sido educador de parte desse povo,
Por ter batalhado sempre pela justiça,
Por compactuar com a honestidade,
Por primar pela verdade
E por ver este povo já chamado varonil
Enveredar pelo caminho da desonra...
... Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!"

(Cleide Canton - a partir do célebre discurso de Rui Barbosa)


Muito engraçado. O povo brasileiro é tido como inteligente, tinhoso, de garra, de luta... Tudo mentira, é só mais um capítulo da famigerada história da exploração fácil. O que é muito melhor, consistente e lucrativo com um povo iludido como o nosso. O brasileiro se satisfaz com uma sociedade horrendamente violenta, com a pior escola do mundo, com uma saúde mais do que precária, um transporte urbano que é o mais horrendo dos desrespeitos - e isto, há décadas, a séculos - o que somos, isto sim, é um povo acomodado, estanque, parado vendo a banda da história passar e não a acompanha. Uma sociedade de incaútos, ingênuos e muito facilmente manipuláveis. Uma turbulência de bobinhos esperando a próxima bolha de sabão colorida voar pelos ares o que é motivo mais do que suficiente para que todo o mundo morra de rir de tanta felicidade. Somos um bando de babões, isto sim. E quem adora isto são os políticos corruptos, os empresários hipócritas, os latifundiários brutalmente competitivos e desonestos, enfim...
Com um povinho assim, qualquer elite perversa, qualquer PT, qualquer Lula, qualquer um que tenha esperteza, vontade de se dar bem e com uma boa lesão no caráter se perpetua no poder, nas honrarias, no extremo bem-estar, na luxuria às nossas custas, em nossas costas, e, ainda por cima, rindo de nós. Precisamos antes de mais nada, nos conscientizar e nos rebelar, embora pacificamente contra tudo isto. E deixarmos de ser este amontoados de tolos, como aquelas mulheres sem-vergonha, que apanham de seus maridos e que vão, com o olho roxo prepararem seus almoços, lavarem suas cuecas imundas, e, ainda por cima, cheias de amor para dar, isto, literalmente.
E voltando à história da Copa do Mundo que, felizmente, acabamos de perder. Pois perdendo a copa, nós ganhamos e muito com a questão política, com a qualidade de vida, com as conquista no mercado de trabalho, os índices econômicos, e, o que é mais importante, com o resultado das eleições que aí vêm, a cidadania e tudo o que como autênticos filhos do Brasil nós, os nossos, as gerações que estão por vir, têm todo o direito.
Tentei convencer a secretária lá de casa que se desabalou num choro compulsivo com a derrota do Brasil e que, não por acaso tinha acabado de chegar com o filho doente de um mero postinho de saúde, onde, segundo ela própria, tinha sido pessimamente atendida, de que a possível vitória do Brasil era muito pior para nós porque serve de lavagem cerebral para que este tipo de situação da qual ela tanto reclamava pudesse um dia melhorar, etc. etc. Mas fui incompetente no sentido de convencê-la. A lavagem cerebral que o povo sofre em tais ocasiões e com outros fenômenos afins torna-se intransponível. E a moça lá de casa passou a tarde recebendo telefonemas de amigas, sofrendo, chorando e lamentando profundamente a derrota da seleção brasileira.
A história demonstra o mito do futebol como ópio do pvo. A perpetuação do pão e circo com se aprazem as elites que sabem que com isto, eternizam a exploração do povo, o uso, o abuso, os costumes de se manterem entre o que há de melhor enquanto socializam as migalhas para que seus subalternos não morram de fome, sede ou frio e tenham condições de trabalhar, produzir e serem, viciosamente, mais e mais explorados. Mas nós, coitados, o povo, não sabemos disso. Que Galvão Bueno por exemplo se refastela no dinheiro com o que mantem sua garganta e sua voz a serviço de perpetuar a escravidão de felizinhos e usados pelas elites capitalistas, pelos donos do mundo.
Os atletas e técnicos, toda a equipe, servidores, repórteres, jornalistas, juntas médicas, árbitros, psicólogos, servidores, todos os que fazem parte do círculo futebolístico da Copa representam a elite mundial. Ganham muito para isso. São acomodados em hotéis luxuosos, recebem uma lauta comida, poderes, status. Com o que batalham inconscientemente para fortalecerem o que representam e são, estrategicamente cegos para não enxergarem o estrago que fazem contra nós, os pobres, os trabalhadores, os marginalizados, os sem dentes. Pois são estes exatamente os que unem suas forças, os que formam as galeras, os que criam o mito do público, da força, dos milhões que são algozes, e por que não dizer, assissinos de si mesmos, dos seus sonhos, suas realidades, seus futuros.
Ganhar a copa é trocar uma alegria fugaz por mil desgraças a que nos sucumbimos diariamente para que os podereosos tenham o que sonhamos e para isto nos envolvem até a alma. Quem deve ficar tristes são eles, a Dilma, o Lula e sua trupe que sabem que com este desconforto torna-se mais fácil a futura vitória política de quem os opõem. O Dunga é quem precisa se entristecer, mas, com certeza ele está muito melhor do que todos nós juntos. Vamos nos refastelar e rolar de alegria, pois nós ganhamos com isto. E ganhamos muito. Juntemo-nos agora, por exemplo aos Adrianos e Ronaldos, que, certamente, têm o coração em festa, embora não assumam jamais pois seria anti-ético e muito menos, esperto. Miremo-nos neste exemplo. Já passa do tempo de deixarmos de ser bobinhos, tolinhos, manipuláveis. Em bom portugês: O que temos mesmo é de deixar de ser besta, rapaz!...

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Antonio da Costa Neto
antoniocneto@terra.com.br

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