terça-feira, 31 de maio de 2011

"Nunca sofra por ser uma coisa ou por não sê-la." (Clarice Lispector)

HOJE EU ACORDEI MEIO CLARICE LISPECTOR



Quando fazemos tudo para que nos amem, gostem de nós, nos reconheçam, nos ouçam e nos dêem o que ponderamos, justo e não conseguimos. Resta-nos um último recurso: o de não fazer mais nada. Por isso eu digo, quando não obtivermos o amor, o carinho, afeto, ternura, compreensão, direito, trabalho, enfim, o que buscamos, melhor mesmo é desistir e procurar mais adiante aquilo que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois tudo o que desejamos nasce, ou não, espontaneamente, e, não, por força de quaisquer imposições. É inútil esforçar-se demais. Nada se consegue. Às vezes, nada fazemos e tudo se rende aos nossos pés. O que desejamos e o que conquistamos é sempre uma surpresa. Nunca vem de uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre, fazemos tudo para quem menos merece. Desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo e falhado, resta-nos um só caminho: o de mais nada fazer.

(Adaptação livre do texto Sobre o amor, de Clarice Lispector)











sexta-feira, 27 de maio de 2011

"Um mendigo saudável, honesto e digno é muito mais feliz e produz felicidades, do que um rei doente, cretino e corrupto. Como os nossos."

(Arthur Schopenhauer)

O CASEIRO DO PIAUÍ E A CAMAREIRA DA GUINÉ





Nascido no Piauí, Francenildo Costa era caseiro em Brasília. Em 2006, depois de confirmar que Antonio Palocci frequentava regularmente a mansão que fingia nem conhecer, teve o sigilo bancário estuprado a mando do ministro da Fazenda. Nascida na Guiné, Nafissatou Diallo mudou-se para Nova York em 1998 e é camareira do Sofitel desde 2008.


Domingo passado, enquanto arrumavao apartamento em que se hospedava Dominique Strauss-Kahn, foi estuprada pelo diretor do FMI e candidato à presidência da França. Consumado o crime em Brasília, a direção da Caixa Econômica Federal absolveu liminarmente o culpado e acusou a vítima de ter-se beneficiado de um depósito irregular no valor de R$ 30 mil. Por duvidar da palavra do caseiro, a Polícia Federal resolveu interrogá-lo até admitir, horas mais tarde, que o dinheiro fora enviado pelo pai do jovem detido por dizer a verdade.


Consumado o crime em Nova York, a direção do hotel chamou a polícia, que ouviu o relato de Nafissatou. Confiantes na palavra da camareira, os agentes da lei localizaram o paradeiro do hóspede suspeito e conseguiram prendê-lo dois minutos antes da decolagem do avião que o levaria para Paris ─ e para a eterna impunidade.


Até depor na CPI dos Bingos, Francenildo, hoje com 28 anos, não sabia quem era o homem que vira várias vezes chegando de carro à “República de Ribeirão Preto”. Informado de que se tratava do ministro da Fazenda, esperou sem medo a hora de confirmar o que dissera em depoimentos na polícia e na Justiça. Nunca foi chamado. Na sessão do Supremo Tribunal Federal que julgou o caso, os juízes se dispensaram de ouvi-lo. Decidiram que Palocci não mentiu e engavetaram a história.


Depois da captura de Strauss, a camareira foi levada à polícia para fazer o reconhecimento formal do agressor. Só então descobriu que fora estuprada por uma celebridade internacional. A irmã que a acompanhava assustou-se. Nafissatou, muçulmana de 32 anos, disse que acreditava na Justiça americana. Embora jurasse que tudo não passara de sexo consensual, o acusado foi alojado numa cela.


Nesta quinta-feira, Francenildo completou cinco anos sem emprego fixo. Palocci completou cinco dias de silêncio: perdeu a voz no domingo, quando o país soube do milagre da multiplicação do patrimônio. Pela terceira vez em oito anos, está de volta ao noticiário político-policial. Enquanto se recupera do trauma, a camareira foi confortada por um comunicado da direção do hotel: “Estamos completamente satisfeitos com seu trabalho e seu comportamento”, diz um trecho.


Nesta sexta-feira, depois de cinco noites num catre, Strauss pagou a fiança de 1 milhão de dólares para responder ao processo em prisão domiciliar. Até o julgamento, terá de usar uma tornozeleira eletrônica. Livre de complicações judiciais, Palocci elegeu-se deputado, caiu nas graças de Dilma Rousseff e há quatro meses, na chefia da Casa Civil, faz e desfaz como primeiro-ministro. Atropelado pela descoberta de que andou ganhando pilhas de dinheiro como traficante de influência, tenta manter o emprego. Talvez consiga, é claro: desde 2003, não existe pecado do lado de baixo do Equador.


O Brasil dos delinquentes cinco estrelas é um convite à reincidência. Enlaçado pelo braço da Justiça, Strauss renunciou à direção do FMI, sepultou o projeto presidencial e é forte candidato a uma longa temporada na gaiola. Descobriu tardiamente que, nos Estados Unidos, todos são iguais perante a lei. Não há diferenças entre o hóspede do apartamento de 3 mil dólares por dia e a imigrante africana que cuida de arrumá-lo.


Altos Companheiros do PT, recitam de meia em meia hora que o Grande Satã ianque é o retrato do triunfo dos poderosos sobre os oprimidos. Lugar de pobre que sonha com o paraíso é o Brasil. O caseiro do Piauí e a camareira da Guiné berram o contrário. Se tentasse fazer lá o que faz no Brasil, Palocci teria estacionado no primeiro item do prontuário.


Se escolhesse o País do Carnaval para fazer o que fez nos Estados Unidos, Strauss só se arriscaria a ser convidado para comandar, no mínimo o Banco Central, ou quem sabe, o Mininistério da Fazenda, pois a Receita Federal seria pouco. O azar de Francenildo foi, em parte, não ter tentado a vida em Nova York. A sorte de Nassifatou foi ter escapado do Brasil que absolve o criminoso reincidente e castiga quem comete o pecado da honestidade.


Quero ressalvar que não devamos ser aqueles eternos tupiniquins, subservientes e ingênuos em relação às muitas agruras norte-americanas. Lá também, muita coisa é muito mais do que um horror. Mas vamos dar à César o que é de César. E, em termos de justiça, de valores humanos, onde começa a linha tênue do desenvolvimento e da evolução, se compararmos aqui com o Brasil, os EUA têem anos-luz de frente. Causa-nos injeva. E como tal, talvez um dia, eles cresçam nos demais aspectos. Já elegeram um quase-branco-quase-negro, mas que se diz negro. Já é, sem dúvida, alguma coisa.




(Maria Aparecida Rezende)

terça-feira, 24 de maio de 2011

"Todos os seres circulam uns nos outros. Tudo é um fluxo perpétuo. Um ser é a soma de um certo número de tendências. E a vida é uma sucessão de ações."

(Denis Diderot)

AS MEIAS VERDADES DA PROFESSORA AMANDA GURGEL

Li, certa vez, um belo poema do Carlos Drummond de Andrade, em que ele trata a verdade como se fosse apenas a sua metade. Ou seja, mais ou menos assim, todas as pessoas que estão envolvidas em um dado fenômeno ou incidente, cada uma tem a sua, e procura defendê-la com todo o zelo. Para que ela tenha o status de ser inteira. Podendo, portanto, ocasionar o que o indivíduo quer com a defesa daquela meia verdade, que é, no caso, a visão do interesse parcial de cada um. E, por isso mesmo, incompleta, questionável e, na maioria das vezes, duvidosa.

Seguindo este raciocínio, num momento em que todo o universo da educação no Brasil acha-se meio abalado com as palavras corajosas da Profa. Amanda Gurgel, ditas de punho cerrado e sem titubear, frente autoridades educacionais e parlamentares do Rio Grande do Norte, em Natal, há alguns dias. Tudo o que a Professora Amanda diz é, no entender das pessoas, e, no meu próprio, verdade sim, pura e absoluta. A professora clama abertamente pela falta de estrutura, seriedade e de apoio governamentais. Grita contra o baixíssimo salário, o escárnio, a humilhação porque passa toda a categoria dos educadores brasileiros, com o que, também como educador, não posso duvidar em nenhum dos seus pontos ou aspectos e quero aqui parabenizá-la pela força, a determinação, a ousadia, a coragem. "Se todos fossem iguais a você..."

É claríssimo que a forma como o governo trata a educação, os educadores, as escolas é muito mais do que degradante em todos os sentidos e poderíamos listar, dentro desta discussão, um sem número de coisas. Mas como toda verdade tem dois lados e, ainda por cima, diz a sabedoria popular que tem três: o de quem conta, o de quem ouve e o lado da verdade em si, claro que o governo e as autoridades verão tudo isto de uma outra forma e cada um usará a sua voz e sua vez para as justificativas vazias. E tudo continuará da mesma forma, aliás, como sempre, a serviço dos ricos, dos poderosos, da pequena burguesia. Assim, eu gostaria aqui de apresentar o terceiro lado, fundamentado, inclusive, numa experiência que vivi como professor de escola pública do Distrito Federal.

É que com tantos planos, mudanças de governos e de processos, inclusive econômicos, participei, certa vez, de um grande estalo positivo na educação pública do DF em que, de uma hora para outra, mais do que se triplicaram todos os salários. Escolas foram consertadas, ampliadas, tomadas providências e adquiridos muitos dos recursos necessários e tão reclamados pela categoria de educadores.

Mas claro, a alegria plena durou uma semana. Algumas pequenas mudanças até aconteceram, mas, infelizmente, apenas aperfeiçoando o caos até ali existente. E já no próximo pagamento os reclamos eram gerais. Os recursos se desgastaram por falta de manutenção. Os muros voltaram a cair, as carteiras, quebradas, etc. E, num prazo muito mais curto do que se esperava o caos se instala de novo, mais forte e robusto, e, com ele, todos os problemas de sempre que se fazem presentes até hoje. E pelo que vejo, até sempre.

Gostaria de lembrar à Profa. Amanda Gurgel, de que, tudo o que ela clama é justo e legítimo. Resta tratar do outro lado da verdade, que é, justamente, a dos professores, que, em sua absoluta maioria, não merece nem mesmo a vergonha que recebe. No Brasil, os educadores constituem uma categoria de subservientes aos ditames do poder e do governo. Muitos trabalham, sofrem, suam suas camisas, eu sei disso. Mas será que são capazes de questionar o para quê e para quem trabalham? Contra o que e contra quem gastam seu cotidiano, seus corpos, voz, saúde? Por que os "bons" professores são incapazes de questionar os programas ridículos impostos pelo MEC para perpetuar o poder abusivo ao qual representa? Não percebem, por exemplo, que a chamada escolar induz à subserviência, amortece qualquer crítica ou visão política dos alunos? E ainda fazem a chamada com todo o vigor. Aplicam provas, punem, fiscalizam, são policialescamente cretinos, maus, perversos.

Definem os limites dos erros, condenam, fazem sofrer e chorar com a maior naturalidade do mundo. A esta altura do campeonato, não desconfiam, ainda, os professores, supostamente tão bem preparados por nossas universidades ridículas, licenciados, que passaram por bancas, monografias, estágios, que a escola, tal como é e funciona presta muito mais desserviços do que serviços a quem pensa estar educando. Não se tocam que atuam contra quem trabalham e a favor da perversidade de quem tem. E, por ter, opera, manda, determina em benefícios próprios. Por favor, quando é que teremos nós, os ditos educadores, pelo menos um pouco de bom senso, de dignidade profissional?

Não enxergam os rigores da escola que lava as consciências a serviço da perpetuação do mesmo poder que os oprime? Será que os professores sabem que se dedicam à boçalidade da imposição dos poderes iníquos de uma sociedade fraca, atrasada, mesquinha, draconiana? Que disciplinam e não educam, mas adéquam, confinam e adestram as pessoas a tal regime social e econômico justamente para mantê-lo? Não entendem que trabalham para formar trabalhadores facilmente exploráveis e eleitores incautos e irresponsáveis? E que para que isto aconteça todas as coisas têm que ser exatamente desta forma? Assim, o baixo salário do professor, por exemplo, não é necessidade de dinheiro, mas estratégia política. Pois, quem ganha mal educará pior ainda, matando assim o governo, dois coelhos com a mesma balrroada.

Acredito que o governo precisa mudar e muito. Mas os professores também, talvez, mais ainda, pois são eles é que executam a vergonha toda que aí está. Já passou e muito da hora de deixarmos de ser tão ingênuos, tão bobinhos, manipuláveis, marionetes, palhaços. Mas parece que é exatamente o que todos querem, inclusive os Sindicatos e Associações afins. Pois só uma inteligência muito crua e abaixo da média para não perceber a manipulação tão grande e tão séria que eles fazem e que tanto alegra e perpetua o poder do governo, dos empresários da educação, enfim, da fatídica burguesia de sempre, enquanto o trabalhador, o homem do povo morre a cada dia.

A educação a que nos referimos apenas será feita com uma profunda conscientização ética, crítica e política dos professores sobre o maquiavelismo das práticas pedagógicas. A manipulação ideológica dos uniformes, das táticas escolares, da inutilidade dos currículos, do que ensinam e do como ensinam. Ou seja, estamos ainda antes da estaca zero do começo de um processo da mudança que queremos. Por enquanto, se a astuta maioria dos professores que faz quase nada. E, pior ainda, trabalha contra o que acredita e diz que faz, tivesse a hombridade de devolver aos cofres públicos o que recebe sem merecer, daria para o governo - se quisesse, é claro e não vai querer, pois, neste jogo de faz de conta não dá para saber qual é a banda mais podre da história - solucionar quase todos os problemas da estrutura material. Mas, infelizmente, falamos de uma conjuntura que envolve ideias, filosofias, crenças, valores, o que, justamente, falta a grande parte dos ditos educadores deste País.

E foi por isso Amanda, que você foi parar no Programa do Faustão. Pois a Rede Globo é muito mais articulada do que todos nós juntos e sabe que o seu discurso sozinho e parcial como tem sido, não vai alterar em nada a ordem das coisas. E, no final de tudo, só eles é que continuam ganhando o jogo. Não podemos mais ser ingênuos, reprodutivos e lutadores contra nós mesmos. Se não somos sábios o suficiente, que sejamos, pelo menos espertos. Pois eles o são. E muito, eles, sim, sabem fazer as coisas. Enquanto nós, os educadores de "boa vontade" não passamos de meros joguetes em suas mãos e os construtores das vontades geradas em seus corações frios e inumanos.

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Antonio da Costa Neto
Confira a fala da Professora Amanda Gurgel no:
http://www.youtube.com/watch?v=7iJ0NQziMrc



Faça suas comparações e os contatos conosco.

Pois só discutindo é que vamos crescer.
"Só depois que for pescado o último peixe, derrubada a última árvore e poluído o último rio é que a humanidade, finalmente, compreenderá que é incapaz de comer dinheiro."


(Provérbio Hindu)

ASSESSORIA ESPECIAL PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR

Nos nossos longos anos de experiência e formação em escolas de ensino superior concluímos que duas grandes dificuldades principais emperram o sucesso, a agilidade, a eficiência e a eficácia acadêmico-profissionais das IES no Brasil, de um modo geral. Poderíamos listá-las como sendo:


1) A DIFICULDADE NA ELABORAÇÃO DE UM PPI (PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL) com uma linguagem contemporânea, objetiva, moderna e que agregue, naturalmente, o tri-pé que identifica uma boa Instituição de Ensino Superior - ensino de real qualidade - iniciação aos vários processos de pesquisa - extensão universitária acadêmica e comunitária em níveis adequados de construção científica.


O que leva à dificulade outra, que é a de elaborar os seus PPC's (PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSOS) com igual coerência e segurança operacional, visão de modernidade e de ac eitação plena de suas atividades.



2) FALTA DE CAPACITAÇÃO E/OU ATUALIZAÇÃO ACADÊMICA E DIDÁTICO-PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES - que acabam por transmitir aulas de baixíssima qualidade, desmotivantes, repetitivas, com métodos útrapassados de ensinar e de aprender, o que, em conjunto, responde pelo caos do Ensino Superior no Brasil.



Pensando nisto, criamos o


INSTITUTO HUMANIZAR

Consultorias Especiais para a Educação Superior




que vem atendendo no Distrito Federal e no Brasil inteiro as Universidades, Centros Universitários e Faculdades isoladas em ambas as atividades, sempre com grande êxito e satisfação de seus clientes em suas iniciativas.





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terça-feira, 17 de maio de 2011

"Enquanto a cor da pele for mais importante do que o brilho nos olhos, ainda haverá guerra. E correrá, sem necessidade, o sangue dos inocentes".

(Bob Marley)

JOHN LENNON FALA SOBRE O AMOR E A FELICIDADE



"Fizeram a gente acreditar que amor mesmo,

amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos.

Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando

encontramos a outra metade.

Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.

Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto.

Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas.

Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz

e se apaixonar por alguém."



John Lennon

sexta-feira, 6 de maio de 2011

"Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer. O que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo. E precisamos todos rejuvenescer." (Belchior)

BRINCANDO DE FAZER PALAVRAS







(*)Brincando de Fazer Palavras




Antonio da Costa Neto

Não que eu mereça,
mas gosto de me sentir amigo
de Manoel de Barros.
E como dois moleques de cabelos brancos,
nós brincarmos de inventar palavras:
- colocá-las para voar;
- fazer cócegas na barriga delas;
- encher as mãos e as fazer derramar
como se fossem água fresca, limpa e aos borbotões.
Nós as bebemos e elas escorrem pelo queixo,
matando a sede de beleza, de sabedoria.
Depois, as arranjar em filas como formigas
que, em procissão, somem no meio da aboboreira
de flores amarelas e pesados frutos no chão.
Nós dois e as palavras brincamos com o barro
fazendo esculturas, passarinhos, borboletas
e outros seres iluminados de braços e asas abertas.
Prontos para invadirem o infinito das almas.
Aí, nós voamos com elas, no tapete mágico
que a gente tece dentro da mente.
Cruzando os fios dos pensamentos e dos sonhos,
alinhavando sílabas, pontuando versos.
E com tudo isso, faremos um manto imenso e brilhante.
Só de poesia, renda, brocados e fitas, repleto de muito
poder e glórias para vestir este mundo
nu, ao relento e morto de vergonha.
Meu amiguinho, muito melhor do que eu,
consegue com elas, tudo,
como o senhor, o mago,
a quem elas, prontamente, obedecem e atendem.
Enquanto isto, eu, aprendiz,
vou tentando correr atrás das palavras,
remendá-las em poesias
para tentar contar histórias
e, se possível, encantar a vida.


________________


(*) Do livro, ainda inédito: Poemas para os anjos da terra.

terça-feira, 3 de maio de 2011

"A religião cristã tal como é organizada em suas igrejas é o maior inimigo do progresso e da evolução moral das pessoas." (Bertand Russell)

ECOLOGIA PROFUNDA





ECOLOGIA PROFUNDA: Um Novo Renascimento



(*)Fritjof Capra




Só uma mudança radical na percepção dos males planetários, acima de diferenças sociais, culturais e raciais, pode garantir a vida das gerações futuras em um mundo sustentável. Hoje, a maioria das pessoas concorda que os anos 90 constituem uma década crítica, perdida. A sobrevivência da humanidade e do planeta está em risco. Os anos 90 e os primeiros 50, dos anos 2000 – no mínimo – representam seis décadas do meio ambiente.

Não porque nós decidimos assim, mas por causa de acontecimentos que quase fogem ao nosso controle. A preocupação com o meio ambiente não é mais uma entre muitas questões; ela é o contexto de tudo mais: nossas vidas, nosso trabalho, nossa política, educação, paz interior, enfim, tudo. Estamos hoje diante de uma série de problemas globais que prejudicam a biosfera e a vida humana de maneiras tão alarmantes que logo podem se tornar irreversíveis. Temos vasta documentação sobre a extensão e significado desses problemas.

Uma das melhores fontes é a série de relatórios anuais State of the World (Situação do Mundo), publicada pelo Worldwatch Institute (Instituto de Vigilância Mundial). Na avaliação da “saúde ambiental” do planeta estes relatórios observaram as mesmas tendências alarmantes ano após ano. As florestas do mundo estão desaparecendo, enquanto os desertos se expandem. A camada superior das terras cultiváveis está diminuindo, enquanto a camada de ozônio, que nos protege dos raios nocivos ultravioletas é destruída. A concentração de gases retentores de calor está aumentando enquanto o número de espécies de plantas e animais diminui.
A população mundial continua crescendo. E a diferença entre ricos e pobres, também. Vertiginosamente, a população cresce numa proporção aritimética, tendo como base a adição. Mas a concentração de poder e riqueza explode em proporção geométrica, ou seja, multiplicando número por número. Assim, aumenta significamente o número de pobres que são cada vez mais pobres, mais miseráveis. Enquanto o número de ricos aumenta pouco em unidades, mas se tornam muito mais ricos.

Daí a contínua socialização dos problemas, da fome, da miséria, o que requer uma profunda mundança de paradigmas no contexto da gestão da gestão pública, e, principalmente, na administração da economia e das finanças no âmbito humano de suas relações. Quanto mais observamos os grandes problemas do nosso tempo, mais percebemos que não podem ser resolvidos isoladamente.

São problemas sistêmicos – inter-relacionados e interdependentes. Estabilizar a população do mundo só será possível quando a pobreza for mundialmente reduzida. A extinção de espécies animais e vegetais continuará em escala maciça enquanto o Terceiro Mundo estiver sobrecarregado de dívidas. Somente interrompendo a escalada armamentista teremos recursos para evitar os numerosos impactos destrutivos sobre a biosfera e a vida humana. Se observarmos atentamente a situação perceberemos que, em última instância, tais problemas são apenas diferentes facetas de uma única grande crise, que é, em essência, uma crise de percepção. Ela resulta do fato de a maioria de nós, especialmente nossas grandes instituições sociais, adotarmos conceitos de uma visão de mundo ultrapassada: uma percepção da realidade inadequada para lidar com o nosso mundo atual, superpovoado e globalmente inter-relacionado. Ao mesmo tempo, pesquisadores da ciência mais avançada, vários movimentos sociais e numerosas redes alternativas estão desenvolvendo uma nova visão da realidade, que constituirá a base de tecnologias, sistemas econômicos e instituições sociais futuros.

De maneira que estamos no começo de uma transformação fundamental de visão de mundo na ciência e na sociedade; uma mudança de paradigmas tão radical quanto a revolução de Copérnico. O paradigma que vai chegando ao fim dominou nossa cultura por vários séculos, durante os quais configurou a sociedade moderna ocidental e influenciou significativamente o resto do mundo. Esse paradigma consiste em uma série de idéias e valores, entre eles a visão do universo como um sistema mecânico composto de estruturas elementares, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado a ser alcançado pelo crescimento econômico e tecnológico e – por último, mas não menos importante – a crença de que uma sociedade na qual a mulher é em toda parte subordinada ao homem segue uma lei básica da natureza. Todas estas suposições têm sido categoricamente desafiadas por acontecimentos recentes. E, na verdade, elas estão passando por uma revisão radical.

Um Fio na Teia da Vida – O novo paradigma, que pode ser chamado visão holística do mundo, vê o mundo como um todo integrado e não, como uma reunião de partes dissociadas. Também pode ser chamado de visão ecológica, se o termo “ecológico” for usado em sentido muito mais amplo e profundo que o habitual. Este sentido mais amplo e profundo do “ecológico” está associado a uma escola filosófica específica e, além do mais, a um movimento global radical conhecido como “ecologia profunda”, que vai rapidamente ganhando destaque. A escola filosófica, fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess no início dos anos setenta, distingue ambientalismo superficial de ecologia profunda.

Esta distinção hoje é largamente aceita como terminologia útil para referir-se à grande divisão dentro do pensamento ecológico contemporâneo. O ambientalismo superficial é antropocêntrico. Vê o homem acima ou fora da natureza, como fonte de todo valor, e atribui à natureza apenas um valor instrumental ou de uso. A ecologia profunda não separa do ambiente natural o ser humano nem qualquer outro ser. Não vê o mundo como um aglomerado de objetos isolados, e sim, uma teia de fenômenos essencialmente inter-relacionados e interdependentes. A ecologia profunda reconhece os valores intrínsecos de todos os seres vivos e vê os seres humanos como apenas um fio particular na teia da vida.

Ela reconhece que estamos todos inseridos nos processos cíclicos da natureza, e, em última instância, somos dependentes deles. Finalmente, a consciência ecológica profunda é espiritual ou religiosa. Uma vez que o conceito de espírito humano é entendido como o modo de consciência no qual o indivíduo sente-se conectado com o cosmos enquanto um todo, torna-se claro que a consciência ecológica é espiritual em sua essência mais profunda. Não surpreende portanto, que a nova visão emergente da realidade, baseada na consciência ecológica profunda, seja coerente com a chamada “filosofia perene” das tradições espirituais – quer estejamos nos referindo à espiritualidade dos místicos cristãos, dos budistas, ou à filosofia e cosmologia subjacentes às tradições dos nativos americanos.

A teoria científica dos sistemas vivos, que se originou da cibernética nos anos quarenta do século XX, mas que emergiu por completo apenas nos últimos vinte e cinco anos mais ou menos, fornece a formulação científica mais apropriada de ecologia profunda, ou paradigma ecológico. Esta teoria vê o mundo em termos de relações e integração. Sistemas vivos são conjuntos integrados, cujas propriedades não podem ser reduzidas as das unidades menores. Exemplos de sistemas abundam na natureza.

Cada organismo – da menor bactéria, passando pela vasta série de plantas e animais, até os seres humanos – é um todo integrado e, conseqüentemente, um sistema vivo. Células são sistemas vivos, como também o são os vários tecidos e órgãos do corpo: o cérebro humano é o mais complexo. Mas os sistemas não se restringem a organismos individuais e suas partes. Os mesmos aspectos de totalidade são exibidos pelos sistemas sociais – como a família ou a comunidade – e por ecossistemas que consistem de uma variedade de organismos e matérias inanimadas em mútua interação.

Todos estes sistemas naturais constituem totalidades cujas estruturas específicas surgem das interações e interdependência de suas partes. As propriedades do sistema são destruídas quando ele é dissecado, física ou teoricamente, em elementos isolados. Embora possamos discernir as partes individuais em cada sistema, a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes. Por isso, a abordagem dos sistemas não se concentra em blocos isolados, mas sobretudo, nos princípios básicos de organização.

Mudando Para a Integração – Como os sistemas vivos cobrem uma ampla série de fenômenos – organismos individuais, sistemas sociais e ecossistemas – a teoria fornece uma estrutura e uma linguagem comuns para a biologia, a psicologia, a medicina, a economia e muitas outras ciências; uma estrutura na qual a tão urgente perspectiva e ecológica está explicitamente manifesta. Uma propriedade dos sistemas vivos é a de formar estruturas de múltiplos níveis dentro dos sistemas. Cada uma delas forma um todo com relação às suas partes e, ao mesmo tempo, é parte de um todo maior.

Assim, células combinam para virar tecidos, tecidos para formar órgãos e órgãos para formar organismos. Estes, por sua vez, existem dentro de sistemas sociais e ecossistemas. Por todo o mundo vivo, encontramos sistemas vivos residindo dentro de outros sistemas vivos. Uma das vantagens da abordagem dos sistemas é o fato de os mesmos conceitos poderem ser aplicados em diferentes níveis de sistemas, o que, com freqüência, leva a diferentes insights. Até aqui enfatizei as percepções e o pensamento.

Mas a ecologia profunda requer não apenas uma mudança de nossas percepções e maneiras de pensar. Ela também pede uma mudança correspondente em nossos valores e ações. E aqui é importante notar a impressionante relação entre mudança de pensamento e de valores. Ambas podem ser vistas como a passagem da auto-afirmação para a integração. Estas duas tendências – a de auto-afirmação e a de integração – constituem aspectos essenciais de todos os sistemas vivos. Nenhuma das duas é intrinsecamente boa ou má. O que é bom ou saudável, é um equilíbrio dinâmico entre as duas; o que é mau ou não-saudável, é o desequilíbrio, a ênfase exagerada em uma tendência e a negligência da outra.

No antigo paradigma, enfatizamos exageradamente os valores e modos de pensar auto-afirmativos e negligenciamos seus correspondentes integrativos. Existem diferenças de cultura para cultura; contudo, o que estou sugerindo não é a substituição de um modo por outro, e sim, o estabelecimento de um melhor equilíbrio entre os dois. O pior, é que boa parte de nossas instituições estão conseguindo disfarçar com base no discurso, ou na implantação de medidas isoladas do pensamento integrativo – que na verdade, se anulam no seu cotidiano – e assim, empresas, instituições e pessoas já pensam e se dizem estar no caminho certo, tendo com isto, um álibi perfeito para continuarem a solapar muito mais a economia, explorar as pessoas, devastar a natureza e assim por diante, estando, portanto, muito mais a serviço da degradação e do caos.

Claro que precisamos de muito, mas muito mais do que isto mesmo. Tendo isso em mente, vamos analisar as várias manifestações da passagem da auto-afirmação para a integração. No que concerne ao pensamento estamos nos referindo à passagem do pensamento racional para o intuitivo, da análise para a síntese, do reducionismo para o holismo, do pensamento linear para o não-linear e complexo, da tendência materialista para a espiritual, do comprometimento elitista para uma visão global de sociedade, buscando beneficiar a todos e não a segmentos estanques. No que concerne aos valores, estamos observando a uma transição correspondente da competição para a cooperação, da expansão para a conservação, da quantidade para a qualidade, da dominação para a parceria. E claro, relativisando tudo isto para a prática, o cotidiano, as ações concretas de cada um e do todo o potencial humano atuante num mesmo, ou em múltiplos processos.

Pode-se notar que os valores auto-afirmativos – competição, expansão, dominação, etc. – estão, em geral, relacionados com os homens. De fato, na sociedade patriarcal, eles não são apenas privilegiados, mas têm também recompensas econômicas e poder político. E esta é uma razão pela qual a mudança para um sistema de valores mais equilibrados é tão difícil para a maioria das pessoas, e, sobretudo, para a maioria dos homens. Este é também um forte motivo de uma aproximação natural entre a ecologia profunda e o feminismo, conforme expresso no ecofeminismo.

Oikos, Nosso Lar Terreno – Toda a questão dos valores é crucial para a ecologia profunda, ela é, de fato; a característica central que a define. Enquanto todo o velho paradigma, incluindo o ambientalismo superficial, está baseado em valores antropocêntricos (isto é, centrados no homem), a ecologia profunda se baseia em valores ecocêntricos (ou seja, centrados na terra). É uma visão de mundo que reconhece o valor inerente da vida não-humana. Todos os seres humanos são membros de Oikos, o Lar Terreno; a comunidade mundial que se une por uma rede de interdependências.

Quando essa profunda percepção ecológica tornar parte de nossa consciência cotidiana, um sistema ético radicalmente novo emergirá. Tal ética ecológica profunda faz-se urgente hoje, especialmente na ciência, já que a maior parte do que os cientistas estão fazendo não é no sentido de promover e preservar a vida, mas destruí-la. Com físicos criando sistemas armamentistas que ameaçam varrer a vida do planeta, químicos contaminando o meio ambiente, os mananciais de água e de recursos naturais renováveis ou não, criando o efeito estufa, o aquecimento global do planeta; biólogos criando novos e desconhecidos tipos de microorganismos que se transformam em vírus nocivos sem saberem ou se responsabilizarem pelas conseqüências; psicólogos e outros cientistas torturando animais em nome do progresso científico. Com todas estas atividades em andamento, revela-se importantíssimo introduzir novas posturas éticas na ciência moderna, num tempo em que já é quase tarde demais.

Em geral, na nossa cultura, não se reconhece que os valores não são periféricos à ciência e à tecnologia, mas constituem sua base ou força propulsora. Durante a revolução científica do século XVII, os valores eram separados dos fatos e desde esta época tendemos a acreditar que os fatos científicos são independentes do que fazemos, e, portanto, independentes de nossos valores. Na realidade, os fatos científicos emergem de toda uma constelação de percepções, ações e valores humanos – em uma palavra, de um paradigma – dos quais não podem ser separados. Embora boa parte da pesquisa científica possa não depender explicitamente do sistema de valores do cientista, o paradigma maior, dentro do qual a pesquisa é realizada jamais será isento de valores. Os cientistas, portanto, são responsáveis por suas pesquisas, não apenas do ponto de vista intelectual, mas também moral. Por fim, a visão de que os valores são inerentes a toda natureza viva está fundada na experiência ecológica profunda, ou espiritual, de que a natureza e o eu são um só.

Esta expansão do eu até chegar à identificação com a natureza é o fundamento da ecologia profunda, conforme reconheceu claramente Arne Naess: “O cuidado decorre naturalmente se o eu se expandir e aprofundar de maneira que a proteção da Natureza seja sentida e concebida como a proteção a nós mesmos...

Da mesma forma que não precisamos de nenhuma moral para respirar (...), se o seu eu, no sentido amplo, abraçar outro ser humano, você não precisará de nenhuma exortação moral para demonstrar cuidado... Você o fará por você mesmo, sem sentir qualquer pressão moral para fazê-lo... Se a realidade for como é experienciada pelo eu ecológico; nosso comportamento surgirá de maneira natural e graciosa às normas estritas da ética ecológica”. O que isso implica é que a conexão entre a percepção ecológica do mundo e o correspondente comportamento não é uma conexão lógica, mas psicológica. A lógica não nos conduz do fato de sermos parte integrante da teia da vida até certas normas de como deveríamos viver.

Entretanto, se tivermos uma consciência ecológica profunda, ou experiência de sermos parte da teia da vida então seremos (em vez de deveríamos ser) propensos a cuidar de toda a natureza viva, e, especialmente, de todos os nossos irmãos humanos, independente de nacionalidade, raça, cor, condição humana, credo, condição econômica, social, ou sexual. Na verdade, dificilmente podemos deixar de responder desta maneira.

Surge o Novo Paradigma – Vou agora falar de outro modo pelo qual Arne Naess caracterizou a ecologia profunda. “A essência da ecologia profunda”, diz ele: “é colocar sempre questões mais profundas. Esta também é a essência da mudança de paradigma. Chegamos a um tempo que é preciso questionar todos os aspectos do antigo paradigma. A ordem é duvidar de absolutamente tudo. Provavelmente não será necessário descartar-se de tudo, mas, antes é preciso saber que se deve estar disposto a questionar tudo. Um outro aspecto importante é o de analisar o aspecto dual das coisas, dos fatos e fenômenos.

Nada é absolutamente bom ou mau para tudo e para todos. O que é bom para o homem pode não ser bom para a mulher, o que agrada o rico pode prejudicar profundamente o pobre e assim por diante. Então devemos nos perguntar sempre ao fazer alguma coisa: - A quem beneficiamos e a quem prejudicamos ao fazermos isto? E o mais ponderado e viável deverá ser escolher uma estratégia, um método, uma forma que seja a menos prejudicial para todos os direta e indiretamente envolvidos no processo.

Portanto, a ecologia profunda coloca questões modulares a respeito dos próprios fundamentos de nossa visão de mundo e nosso modo de vida – modernos, científicos, industriais, voltados para o progresso e materialistas. Ela questiona todo este paradigma de uma perspectiva ecológica; da perspectiva de nossas relações com os outros, com as relações futuras e com a teia da vida da qual fazemos parte.” Uma das áreas mais importantes para ilustrar esta questão é a dos negócios e da economia.

Hoje, o contexto ecológico está se tornando cada vez mais fundamental para os negócios, a economia e a administração. Uma das mais importantes tarefas é a de abandonar a busca cega do crescimento material irrestrito. O crescimento é a principal força propulsora das atuais políticas econômicas e atividades empresariais, e, é, também, o principal elo da destruição ambiental, da crise de valores, da violência, da miséria, enfim, de todos os males do mundo civilizado. O crescimento, é óbvio, é próprio da vida. Entretanto, no mundo vivo ele não tem significado quantitativo, mas qualitativo. Para o ser humano, por exemplo, crescer significa desenvolver-se em direção à maturidade, não apenas aumentando de tamanho, mas também qualitativamente, pelo crescimento interior. O mesmo vale para todos os sistemas vivos. O conceito de crescimento desses sistemas é qualitativo e multidimensional.

Dar qualidade ao crescimento econômico significa estabelecer critérios de desenvolvimento aceitável ou inaceitável. Nos últimos anos, o desenvolvimento sustentável surgiu como um critério central. Lester Brown, do Worldwaltch Institute, que há anos vem sendo um dos principais defensores do desenvolvimento sustentável, define como sociedade sustentável, aquela capaz de satisfazer suas necessidades sem reduzir as chances das futuras gerações e nem prejudicar outros núcleos de vida, bem como as pessoas menos favorecidas. Este, para mim é o principal desafio da sociedade contemporânea: criar ambientes sociais e culturais nos quais possamos satisfazer nossas necessidades sem reduzir as chances das gerações futuras e dos outros segmentos sociais do nosso tempo; dar qualidade ao crescimento econômico, introduzindo o desenvolvimento sustentável como critério chave de todas as nossas atividades.

No Elmwood Institute, estamos empenhados em pesquisas deste tipo junto com um pequeno número de empresas pioneiras em termos ecológicos. Desenvolvemos discussões em mesas redondas, seminários e publicações dentro do que denominamos Ecomanagement Program (Programa de Administração Ecológica). Também aplicamos a abordagem da ecologia profunda na educação em nosso Ecoliteracy Program (Programa de Alfabetização Ecológica), que compreende a elaboração de um currículo escolar orientado para a ecologia, o K-12 e do desenvolvimento de cooperativas comunitárias de educação.

Fazemos isto porque acreditamos que para conseguir a radical mudança de percepção necessária para a sobrevivência da humanidade, numa época já absolutamente tardia, necessitamos de uma ampla campanha pública de educação, discussão e diálogo. Esta é uma iniciativa que transcende as nossas diferenças raciais, culturais, sociais, políticas, religiosas, sexuais, econômicas, ideológicas, enfim, todas. “Ecologia” é a palavra grega para designar “Lar da Terra”. A Terra é nosso lar comum e criar um lar comum para os nossos filhos – que são todos os filhos da Terra – bem como para as gerações do futuro é a nossa tarefa mais importante. É por isso que estamos aqui.

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(*)Físico austríaco radicado nos USA. Recebeu o seu PhD na Universidade de Viena e realizou pesquisas sobre física de alta energia em várias universidades européias e norte-americanas. Publicou inúmeros trabalhos sobre relações da física com a mística e a fenomenologia. É autor de muitos artigos, resenhas, documentários, relatos científicos e livros, entre os quais: O táo da física; O ponto de mutação; A sabedoria incomum; Pertencendo ao universo; A teia da vida e Conexões ocultas.