sexta-feira, 29 de agosto de 2014

TODA A VERDADE SOBRE AS PIN-UPS... É DE ARREPIAR!...


Você já se perguntou onde é que o Gil Elvgren achava tanta mulher perfeita para servir de modelo? Pois bem, a realidade não é tão perfeitinha assim.
Isso serve de reflexão sobre o trabalho com uso de referência fotográfica. Tem muita gente que tem vergonha de assumir que usou uma foto como base para um desenho....bobagem! A gente já viu por aqui que Normal Rockwell usava dessa técnica com maestria: além de montar as cenas deixava o produto final com uma pegada que ia muito além do registro fotográfico.
Inclusive isso se transforma em uma boa dica: se você faz a foto que vai desenhar, a cena é sua, feita por você. Isso serve para os que se sentem muito culpados, hehe.
Mas voltando ao Elvgren, eis as suas mulheres de verdade. Nota-se que existe um pouco de cada uma delas nos rostinhos das beldades pintadas, mas com um toque de romantismo embelezador. Tudo bem, a gente gosta ;)
A dica veio pelo David Sakai por email (thanks!), a fonte é essa aqui.

HUMANO, SELVAGEM, OBSCURO, FIGURATIVO. E DAÍ?


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Gabriel Grun é um pintor "figurativo obscuro" de Buenos Aires, Argentina.
Suas pinturas renascentistas/barrocas exploram os campos da sexualidade, fantasia, e a natureza de uma forma muito original. Sua cabeça vai explodir.
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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

POEMA DO MEU LIVRO: SIMPLESMENTE AZUL


CRIATURAS DE DEUS
Eu sempre falava
com as galinhas de D. Nina
( e, por isso mesmo, pensavam que eu era louco).
Conversava por cima do muro
e elas me davam todas as notícias
entre mandacarus, coqueiros e mangueiras
tão velhas quanto grandiosas:
árvores vividas, mestras profundas.
Elas me diziam ainda que a
Cachoeira do Vicente era conhecida 
como uma das mais lindas, que regava milagres 
e que eu deveria ir banhar nela,
pra não perder a juventude.
Tinham segredos em tons místicos
guardados a sete chaves.
Falavam das rezas, dos evangelhos,
misturando tudo com diretrizes políticas,
princípios antropológicos e tudo mais.
Eram cheias das teorias mais complexas
sabiam muito, principalmente, de todas as éticas
e seus fundamentos profundos e límpidos.
Eram togadas e algumas tinham 
até predileções metafísicas.
Quando eu falava das ciências dos homens,
suas universidades, os sofisticados laboratórios
de pesquisas, os requintes dos eventos intelectuais,
olhavam umas para as outras
desdenhando e dando de ombros.
Cochichavam entre si 
que eu tratava de coisas ridículas
e ínfimas frente à grandiosidade 
que jamais atingiriam.
As galinhas de D. Nina eram coloridas,
sábias e só falavam do que
conheciam profundamente.
Poderiam discutir com
os mais célebres sábios do mundo
quanto mais comigo...
É, elas frequentavam 
as melhores cátedras, academias. discursavam em púlpitos 
e estraçalhavam no bico todos os conhecimentos insanos,
quaisquer culturas que considerassem inúteis.
Dialogavam em línguas, tocavam instrumentos,
compunham, criavam, encantando o mundo inteiro.
Entediam de ópera, liam partituras em grego clássico,
faziam traduções preciosíssimas 
de todas as artes conhecidas e por conhecer.
Ciscavam entre bananeiras, matos, pedras estudando filosofia,
ciências requintadas, tratados, doutoramentos.
Pra mim, não existia companhia melhor.
E, claro, eu não entendia nada.
Apenas subia o morro assobiando,
jogando pedras e remoendo na cabeça
as coisas que eu ouvia delas
todas as tardes em que
eu ia me banhar no rio.
Mas só assim minha vida
de menino se fez possível
eu não me cansava de derramar graças
andando por entre flores e capins
seus companheiros de conhecimentos.
Eu cresci assim
guardando estes segredos irrefutáveis
que só eu dividia com elas e não podia contar pra ninguém, 
o que fazia parte do acordo tácito
entre mim, as galinhas
e as sabedorias que ardiam fundo dentro da alma.
E foi desta maneira que eu me fiz um eterno menino.
Felizmente, meio endoidecido.
Com forças para carregar
este mundo maluco.

domingo, 17 de agosto de 2014

BLACK IS A VERY BEAUTIFUL!!!!!!!!!!

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Já faz um tempo que a Terra é um pequeno grande ovo e a acelerada aproximação entre culturas e seus contrastes virou, no mínimo, sinônimo de muita transformação.
Entre tantos ônus, é também graças a este processo que fabulosos registros de tribos ainda relativamente isoladas têm se multiplicado em séries que eu arriscaria celebrar como as mais lindas que se tem notícia.
Já exaltamos muitas delas aqui, mas hoje chamo atenção para algo particular no meio disso tudo: a apropriação e ressignificação de produtos industriais e outras bugigangas ocidentais na estética destes povoados.

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De fragmentos da nossa moda a elementos tipicamente descartáveis, como cartões telefônicos, tudo parece digno de releitura e destaque num contexto onde a adornação é imperativa e muito própria a cada um. Um contexto, diga-se de passagem, de muita ostentação mas não necessariamente de acúmulos.
Antes que me acusem de glorificar algo “antropologicamente triste”, reforço que a ênfase aqui não é bem essa e sim um olhar curioso sobre como artefatos quaisquer viajam física e simbolicamente mundo afora, um deslumbramento sobre a própria beleza e significado de um par de chaves... hoje no seu bolso, amanhã sabe-se lá aonde.

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Uma garrafa de Coca Cola que surge como um presente divino no meio de uma tribo nômade era o elemento principal do consagrado filme sul africano ‘Os deuses devem estar loucos’, de 1980.
Naquela trama bastante verossímil, o inédito objeto de vidro causa tanto alvoroço que acaba devolvido aos céus depois de desempenhar um leque de funções ‘absurdas’ (aspas pra que te quero!) entre os tribais.

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Dizem que vivemos a tal Era da pós produção onde – pelo menos mais do que nunca - nada se cria, tudo apenas se transforma num ctrl C+ctrl V galopante, bastante explícito na figura do DJ e demais subprodutos da cultura da apropriação e releitura.
Se já refletimos muito sobre como o valor das coisas se remete ao contexto, principalmente depois dourinol de Duchamp, este registro de não-pulseiras de relógio escancara, na prática, o remix de extremos em que vivemos. Aqui o conjunto ponteiro-horas-números foi totalmente deixado de lado, excluído. Aqui o tempo (e o babado) é outro...

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Selecionei estas fotos dentro do vasto acervo do fotográfo Eric Lafforgue sobre as tribos que habitam o Vale do Rio Omo, território no sudoeste da Etiópia classificado pela Unesco como patrimônio da humanidade.
Segundo testemunho do próprio fotógrafo, cada uma delas parece viver seus últimos momentos tradicionais já que pontes logo interligarão, por exemplo, o remoto vilarejo Daasanach aos bares onde estas tampinhas são só tampinhas.

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Sua maior ameaça, no entanto, está na construção de uma barragem que afetará diretamente o cultivo agrícola que praticam a partir das cheias do Rio Omo, já que a região é muito árida (entenda melhor o problema e ajude clicando aqui).
Estes retratos não representam uma única tribo, mas indivíduos de diferentes etnias que tiveram acesso aos produtos made in china negociados nos grandes mercados da região. É lá que eles descolam a preços módicos estas camisetas com marcas e rostos completamente desconhecidos.

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As trocas se estendem a comportamentos e doenças ao mesmo tempo que a remédios e soluções mas este post e eu, obviamente, não somos os mais indicados para analisar a moralidade e implicações disso tudo. Se deveriam seguir hermeticamente isolados, sem espelhos e hepatite B mas abandonando bebês no mato como mandam algumas de suas tradições é só um viés do quanto o assunto é profundo.

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Tenha certeza, no entanto, que nesta reciclagem cultural eles também riem muito do valor dado pelos ocidentais a seus ‘míseros’ e geniais travesseiros de madeira.